O superciclo de metais que impulsionou o crescimento econômico da China por mais de duas décadas está chegando ao fim. Esse período de crescimento vertiginoso foi alimentado pela demanda massiva por aço, minério de ferro e outros metais essenciais para a construção de cidades e projetos de infraestrutura. No entanto, a mudança na dinâmica da economia chinesa e a transição para novos setores, como a energia limpa, estão moldando um futuro incerto para a indústria de commodities metálicas. A grande pergunta agora é: o que virá em seguida?

O fim do superciclo de metais

Entre 2000 e 2020, a China foi o motor global de demanda por commodities metálicas. O consumo de aço no país foi duas vezes maior do que o total consumido pelos Estados Unidos durante todo o século 20. Esse crescimento foi alimentado pela gigantesca construção de infraestrutura e habitação, particularmente nas décadas de rápido desenvolvimento urbano. No entanto, desde 2020, a produção de aço da China tem caído a cada ano, e a expectativa é de que essa queda continue em 2025.

Além disso, o consumo de minério de ferro no país alcançou seu pico em 2023, e analistas do banco australiano Macquarie indicam que a tendência de declínio está apenas começando. O setor de petróleo chinês também enfrenta uma retração mais rápida do que o esperado, com a demanda projetada para diminuir em um futuro próximo.

O fim deste superciclo, que foi impulsionado por uma fase de urbanização rápida e crescimento industrial, sinaliza o fim de uma era para a indústria global de commodities metálicas.

Mudança no modelo econômico Chinês

O desenvolvimento da infraestrutura e a construção de novas habitações impulsionaram a economia da China, especialmente em áreas rurais. Entretanto, este motor de crescimento está em declínio. A transição da zona rural para as cidades já foi concluída, e a demanda por novas casas caiu drasticamente, levando a um esfriamento da atividade econômica em setores relacionados. O estímulo econômico que antes estava fortemente centrado na expansão da infraestrutura já não é mais uma prioridade do governo chinês.

De acordo com Steele Li, vice-presidente da mineradora chinesa CMOC, “Esse motor se foi – e não acredito que voltará. A economia da China terá que encontrar um novo motor.”

O que isso significa é que a China está em um ponto de inflexão, onde a estratégia de crescimento baseada em infraestrutura cede lugar a novos focos econômicos, como a transição energética e a inteligência artificial. Para muitos analistas, a expectativa é que a China precise de novos motores de crescimento para sustentar sua posição no cenário econômico global.

O novo superciclo

Enquanto o superciclo de metais tradicionais está em declínio, outro ciclo começa a ganhar força: a transição para a energia limpa. A construção de usinas solares, redes de transmissão e data centers está gerando uma demanda crescente por cobre, um metal essencial para essas infraestruturas. Além disso, o lítio, cobalto e níquel se tornaram fundamentais devido à crescente necessidade de baterias para veículos elétricos e outros dispositivos tecnológicos.

Peter Toth, estrategista da mineradora Newmont, sugere que estamos no meio de dois superciclos: um em declínio, centrado em metais tradicionais, e um em ascensão, impulsionado pela eletrificação, pela transição verde e pela inteligência artificial. Segundo ele, “O novo superciclo será liderado pela eletrificação, transição verde e inteligência artificial.”

Esse novo ciclo está sendo impulsionado por uma demanda crescente por tecnologia limpa e sustentável. O aumento da eletrificação e a transição para fontes de energia renováveis exigem quantidades substanciais de metais como cobre, lítio, cobalto e níquel.

Desafios geopolíticos e disputas estratégicas

A oferta desses metais necessários para o novo superciclo está cada vez mais pulverizada ao redor do mundo. A China, que tradicionalmente dominou o fornecimento de muitos desses recursos, enfrenta agora um cenário mais competitivo. A disputa por acesso a recursos minerais essenciais está se intensificando, e isso está gerando tensões geopolíticas em várias regiões.

Empresas líderes no setor de mineração, como a BHP e a Rio Tinto, estão reposicionando seus negócios para atender a esse novo boom, que deve ocorrer à medida que os projetos de energia limpa se expandem globalmente.