Em 2024, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) enfrenta uma adesão abaixo das expectativas, com apenas 19% das vagas oferecidas sendo preenchidas até novembro. O programa, que visa financiar a educação superior de estudantes de baixa renda, registrou uma queda significativa na quantidade de contratos firmados em comparação com os anos anteriores. Neste contexto, o Ministério da Educação (MEC) anunciou uma nova rodada de investimentos para 2024, destacando o lançamento de 112 mil novas vagas, mas o programa continua a enfrentar desafios para retomar o vigor de outros tempos.

A queda de adesão ao Fies em 2024

O Fies, criado para oferecer financiamento a estudantes de universidades privadas, enfrenta uma realidade difícil. Em 2024, até novembro, foram registrados apenas 21,8 mil contratos do programa, uma queda expressiva em relação aos 48 mil contratos formalizados no mesmo período de 2023. Isso representa uma taxa de adesão de 19,15% das vagas disponíveis, um número consideravelmente inferior ao esperado.

Esse desempenho ocorre apesar do anúncio do MEC de que liberará R$ 774 milhões para garantir a criação de 112 mil novas vagas neste ano. Além disso, o governo planeja ofertar mais 67,3 mil vagas no primeiro semestre de 2025, com mais 44,8 mil no segundo semestre. No entanto, esses números são apenas uma parte da solução para reverter a atual situação do Fies.

O Impacto das novas regras do fies

Desde 2023, o Fies passou a operar com novas regras, que priorizam o atendimento a estudantes de famílias de baixa renda. Agora, 50% das vagas são destinadas a candidatos inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), com renda per capita de até meio salário mínimo. Além disso, as cotas para grupos como pretos, pardos, indígenas, quilombolas e pessoas com deficiência visam aumentar a inclusão social no programa.

A introdução do Fies Social, uma modalidade que oferece financiamento de até 100%, foi uma das principais mudanças. Esse tipo de financiamento foi responsável pela migração de cerca de 39,5 mil estudantes do modelo tradicional para um modelo mais acessível. No entanto, o programa ainda enfrenta dificuldades significativas para engajar uma maior parte dos estudantes, principalmente devido a desafios como a falta de preparo no Enem, exame que determina a elegibilidade para o Fies.

Dificuldades para atender aos requisitos

Um dos maiores obstáculos para o aumento de adesão ao Fies é o desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Para ser elegível, o candidato deve atingir pelo menos 450 pontos na prova, sem zerar a redação. No entanto, muitos estudantes de baixa renda, que são os principais beneficiados pelo programa, enfrentam sérias dificuldades em atingir essa pontuação, especialmente aqueles que estudaram em escolas públicas com ensino defasado. Esse fator tem sido um dos principais gargalos para o Fies não alcançar seu potencial total, pois muitos jovens que se enquadram nos critérios socioeconômicos não conseguem atingir a nota mínima exigida.

A redução do Fies

O Fies tem passado por um processo de redução desde 2015. Durante o auge do programa, em 2014, foram concedidos 732 mil financiamentos. No entanto, a partir de 2017, o número de contratos caiu drasticamente para 176 mil. Em 2020, o número caiu ainda mais para 53 mil, e em 2023, o programa fechou com 48 mil financiamentos.

A crise econômica que o Brasil enfrentou nos últimos anos também teve impacto no Fies. A alta taxa de inadimplência no programa gerou um passivo de R$ 17,7 bilhões, com muitas parcelas em atraso. Esse cenário resultou em uma série de renegociações da dívida, na tentativa de reduzir os calotes e permitir que os estudantes quitem suas pendências com o programa. A falta de emprego e as dificuldades para que os alunos se coloquem no mercado de trabalho após a formatura contribuíram para esse aumento da inadimplência.