O comportamento do consumidor brasileiro entre dezembro e fevereiro será marcado por cautela, principalmente no setor de varejo restrito. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo (Ibevar), o varejo restrito, que exclui itens de alto valor, como veículos e materiais de construção, deverá registrar uma queda de 0,3% nas vendas no trimestre. Esse cenário reflete as atuais condições econômicas do país, que ainda impactam diretamente o poder de compra do consumidor.

Previsão para o varejo ampliado e segmentos específicos

Embora o varejo restrito enfrente dificuldades, o cenário para o varejo ampliado, que inclui itens de maior valor, como veículos e materiais de construção, mostra um panorama mais positivo. A previsão é de uma alta de cerca de 1% nas vendas no trimestre, com destaque para os meses de janeiro e fevereiro, que devem apresentar um crescimento acelerado. A pesquisa do Ibevar aponta para uma leve alta de 0,19% nas vendas em dezembro e um aumento mais expressivo em fevereiro (+0,59%).

Esse crescimento no varejo ampliado é impulsionado principalmente por segmentos específicos, como produtos farmacêuticos e veículos, que devem ter uma performance superior durante o período. O aumento no volume de vendas de produtos farmacêuticos está estimado em 1,1%, enquanto os veículos devem registrar uma alta de 0,9%. A expectativa para esses segmentos está ligada à demanda contínua por cuidados com a saúde, bem como a manutenção das condições especiais de financiamento para a compra de veículos.

Por outro lado, os setores de alimentos e supermercados devem continuar em estagnação. Apesar de ser um segmento essencial, a concorrência acirrada e o aumento da cautela entre os consumidores devem impactar o volume de vendas no setor. Além disso, setores como tecidos, móveis e eletrodomésticos e material de construção deverão enfrentar queda nas vendas durante o trimestre.

Cautela do consumidor e prioridades de compra

O presidente do Ibevar, Claudio Felisoni de Angelo, acredita que o comportamento do consumidor nos próximos meses será caracterizado pela cautela, com a priorização de gastos essenciais e de saúde. Segundo ele, “os consumidores estarão mais focados em adquirir itens essenciais, como produtos farmacêuticos, enquanto adiam a compra de bens duráveis de maior valor, como móveis, eletrodomésticos e artigos de vestuário”.

Isso indica que, enquanto o setor de veículos e produtos farmacêuticos apresentam boas perspectivas, o setor de vestuário e itens ligados à casa devem continuar sofrendo retração. A diminuição no volume de vendas nesses segmentos é reflexo de um consumidor mais consciente, que prefere adiar gastos que não são considerados urgentes, priorizando necessidades imediatas.

Impacto no setor de construção e imobiliário

Um dos setores mais impactados por esse cenário é o de material de construção, que deverá registrar uma queda expressiva de 7,2%. Esse resultado está diretamente ligado à alta dos juros e ao arrefecimento no setor imobiliário, que segue enfrentando dificuldades devido ao custo elevado do crédito. As taxas de juros mais altas tornam o financiamento de imóveis e reformas mais onerosos, adiando, assim, investimentos em projetos de construção e reformas residenciais.

Essa diminuição no volume de vendas no setor de construção reflete uma desaceleração da economia como um todo, com as famílias e empresas priorizando a contenção de custos e o planejamento financeiro a longo prazo. A cautela, nesse sentido, é a palavra-chave para o comportamento do consumidor, que, embora ainda se interesse por produtos essenciais e veículos, tende a postergar grandes compras que envolvem crédito ou investimentos significativos.

Expectativas para o trimestre e perspectivas para 2024

Com base na pesquisa do Ibevar, a expectativa é de que o primeiro trimestre de 2024 seja desafiador para o varejo restrito, com as vendas recuando 0,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior. No entanto, o varejo ampliado, especialmente os segmentos farmacêutico e de veículos, deve apresentar resultados positivos, ajudando a compensar as quedas nos setores mais afetados pela cautela do consumidor.

As projeções para o trimestre indicam que o consumidor continuará priorizando o essencial, o que inclui a saúde e a segurança, especialmente em tempos de incertezas econômicas. Além disso, a possibilidade de aproveitar condições especiais de financiamento para a compra de veículos poderá ajudar a impulsionar o mercado de automóveis, enquanto o setor de construção e reformas residenciais deve permanecer retraído devido aos altos juros e ao aumento da cautela na economia.