As vendas no varejo brasileiro devem registrar uma queda de 0,7% no quarto trimestre de 2024, de acordo com o índice Ibevar-FIA Business School. A previsão é que essa redução ocorra entre os meses de outubro e dezembro, refletindo mudanças nos hábitos de consumo e a cautela dos consumidores em meio a um cenário econômico incerto. Essa informação é crucial para entender a dinâmica do mercado varejista no Brasil e os fatores que influenciam o consumo.

Segundo a pesquisa do Ibevar, a expectativa para o setor automotivo é mais otimista, com um crescimento projetado de 1,38% nas vendas de veículos. Em contrapartida, produtos farmacêuticos devem avançar 1,1%, enquanto as vendas em supermercados permanecerão estáveis, com uma projeção de crescimento de 0%. No entanto, o cenário não é tão positivo para outros segmentos. A pesquisa aponta quedas nas vendas de móveis e eletrodomésticos (-0,67%), tecidos e vestuário (-1,9%) e, especialmente, no setor de material de construção, que deve enfrentar uma forte retração de 5,58%.

A previsão de queda nas vendas do varejo contrasta com o crescimento do PIB brasileiro, que, segundo análises, tem sido impulsionado principalmente por programas de transferência e aumentos do salário-mínimo acima da inflação. Essa discrepância evidencia como o crescimento econômico pode não se traduzir diretamente em aumento nas vendas do varejo.

O Ibevar-FIA sugere que mudanças nos padrões de consumo têm influenciado esse cenário. Por exemplo, um estudo recente do Banco Central indicou que os brasileiros estão direcionando uma parte significativa de seus recursos para apostas online, com transferências mensais para empresas de apostas variando entre R$ 18 e R$ 21 bilhões. Esse fenômeno revela uma alteração nas prioridades de gastos da população e como isso pode impactar o consumo de bens tradicionais.

Além das mudanças nos padrões de consumo, a pesquisa também aponta a cautela dos consumidores. Apesar da melhora em alguns indicadores econômicos, muitos brasileiros continuam a demonstrar timidez nas compras, refletindo as incertezas políticas e econômicas atuais. Essa cautela pode ser observada na redução da inadimplência, que tem sido um indicativo de que os consumidores estão tentando evitar o endividamento excessivo e priorizando a formação de reservas financeiras.

A questão do crédito também é um fator significativo que impacta as vendas no varejo. Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Ibevar e professor da FIA Business School, destacou que, embora a taxa Selic tenha mostrado uma tendência de queda, as taxas de juros praticadas no comércio ainda permanecem elevadas. Em agosto de 2023, a taxa média de juros ao comércio era de 5,52% ao mês, reduzindo apenas para 5,14% em agosto de 2024.

Esse cenário de taxas de juros relativamente altas pode inibir o consumo, especialmente de bens duráveis, que geralmente dependem de financiamento. A possibilidade de um aumento das taxas de juros em futuras reuniões do Copom pode trazer ainda mais incertezas ao setor, dificultando o planejamento das compras por parte dos consumidores.