Na próxima segunda-feira (5/5), David Gamble, chefe interino da Coordenação de Sanções Internacionais do Departamento de Estado dos Estados Unidos, chegará ao Brasil. Esta é a primeira visita de um representante oficial do governo Trump ao país desde a posse do presidente republicano em janeiro de 2025. A vinda de Gamble ocorre em meio a um período de tensões nas relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos, levantando especulações sobre os possíveis motivos da visita e o impacto político que ela pode ter.

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A missão de Gamble no Brasil

A visita de David Gamble, chefiando uma comitiva do Departamento de Estado, é oficialmente focada no combate ao crime organizado e ao terrorismo. De acordo com a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, o objetivo é discutir com as autoridades brasileiras programas de sanções relacionados ao combate a organizações criminosas transnacionais e ao tráfico de drogas.

A chegada de Gamble, no entanto, não ocorre em um momento qualquer. As relações entre os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump são, atualmente, tensas. O governo brasileiro, inclusive, não confirmou qualquer reunião com os principais órgãos responsáveis por segurança pública, como o Ministério da Justiça, ou com o Itamaraty, o que levanta suspeitas sobre a verdadeira agenda da comitiva americana.

A agenda secreta: o que não está sendo falado

Embora a visita de David Gamble seja oficialmente relacionada a questões de segurança internacional, como o combate ao tráfico de drogas e organizações criminosas, fontes próximas ao governo brasileiro indicam que as conversas podem ir além. Parlamentares da oposição, como Eduardo Bolsonaro (PL-SP), especulam que o representante dos EUA poderia discutir medidas mais polêmicas, incluindo sanções contra figuras políticas brasileiras, com destaque para o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Eduardo Bolsonaro, em uma postagem nas redes sociais, insinuou que o “aquecimento” da situação de Moraes nos Estados Unidos poderia resultar em punições diretas. Embora não tenha confirmado oficialmente que a visita tenha como foco as sanções a Moraes, a menção ao ministro do STF já gerou repercussões, especialmente entre os opositores ao governo Lula.

O que está em jogo para Alexandre de Moraes?

A possibilidade de sanções norte-americanas contra Alexandre de Moraes tem sido defendida por setores da direita brasileira, que consideram que o ministro tem adotado uma postura de perseguição judicial contra membros da oposição, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. Eduardo Bolsonaro e outros militantes de direita, radicados nos Estados Unidos, defendem que Moraes, assim como outros membros do STF, poderiam ser alvos de sanções por violarem direitos humanos, alegando um cerceamento da liberdade de expressão e a condução de processos que, segundo eles, seriam politicamente motivados.

A menção de Eduardo Bolsonaro a “violadores sistemáticos de direitos humanos” como possíveis alvos de sanções em suas postagens nas redes sociais gerou um clima de incerteza quanto aos reais objetivos da visita de Gamble.

O encontro com a oposição

Embora o governo brasileiro ainda não tenha confirmado oficialmente qualquer reunião entre David Gamble e os representantes do governo Lula, a agenda de encontros com a oposição está sendo articulada. Parlamentares, como Sóstenes Cavalcante (SP), do PL, disseram à imprensa que estão tentando agendar um encontro privado com Gamble para discutir a situação política brasileira. Embora ainda não haja confirmação de data ou de participação dos principais líderes da oposição, a presença de representantes do governo Trump no país sempre traz à tona uma possível interferência política, direta ou indireta, nas disputas internas do Brasil.

Este cenário é complicado por um contexto de relações bilaterais em baixa entre os dois países, algo que se intensificou após a reeleição de Donald Trump e a postura mais agressiva do ex-presidente em relação ao Brasil, especialmente durante o governo Bolsonaro.

As relações Brasil-EUA

Desde a vitória de Trump nas eleições de 2024, as relações entre Brasil e Estados Unidos passaram por momentos de frieza. Durante o governo Bolsonaro, Trump foi um forte aliado do ex-presidente brasileiro, com apoio explícito à sua reeleição. Contudo, com a posse de Lula e a divergência de posições sobre temas como a regulação das redes sociais e tarifas comerciais, os laços diplomáticos entre os dois países esfriaram.

Recentemente, o governo Trump anunciou tarifas de 10% sobre uma série de produtos importados do Brasil, uma medida que afetou negativamente as exportações brasileiras. O governo Lula, embora tenha expressado preocupação com as tarifas, ainda não tomou medidas retaliatórias contra os Estados Unidos.

Quem é David Gamble e qual o impacto das sanções?

David Gamble é um diplomata de longa data no serviço público dos EUA. Antes de assumir sua atual posição como chefe interino da Coordenação de Sanções, Gamble atuou como conselheiro econômico nas Filipinas e também foi responsável por questões relacionadas à Rússia e à Ásia Central no Conselho de Segurança Nacional. Sua experiência em sanções internacionais, como as recentemente impostas ao Irã, mostra que ele está bem posicionado para discutir medidas similares contra indivíduos ou entidades que considerem violar normas internacionais.

As sanções norte-americanas, como aquelas impostas a regimes como o iraniano, são uma ferramenta poderosa utilizada para pressionar países ou líderes a mudarem suas atitudes, especialmente em relação a questões de segurança internacional e direitos humanos. Isso coloca a visita de Gamble no Brasil em um cenário de grande atenção, especialmente com as especulações sobre a possível inclusão de membros do STF na lista de sanções.