Nesta terça-feira, 10 de dezembro de 2024, o Senado Federal aprovou os três novos indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para as diretorias do Banco Central (BC). A aprovação ocorreu em um clima de ampla tranquilidade, com todos os nomes passando por uma votação favorável. A partir de janeiro, o governo Lula terá a maioria nas diretorias da autarquia, consolidando sua influência sobre as políticas monetária e cambial do país.

Aprovados os novos diretores do BC

Os novos diretores aprovados são Nilton David, Gilneu Vivan e Izabela Correa. David, que ocupará a diretoria de Política Monetária, é chefe de operações de tesouraria do Bradesco. Vivan e Correa, por sua vez, são servidores de carreira do BC e assumirão, respectivamente, as diretorias de Regulação e Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta. A aprovação no plenário do Senado se deu de forma tranquila, com David recebendo 50 votos a favor, 1 contrário e 1 abstenção. Já Vivan e Correa obtiveram 53 votos a favor e 3 contrários, e 48 votos favoráveis contra 3 contrários, respectivamente.

O processo de sabatina e compromissos dos indicados

Antes de serem submetidos à votação no Senado, os indicados passaram por uma sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). Durante a audiência, todos os indicados reafirmaram o compromisso do Banco Central de atingir a meta de inflação de 3%, meta que permanece válida para o futuro. Nilton David enfatizou que a desancoragem das expectativas de inflação, que têm se mantido acima da meta, exige uma atuação firme e estratégica do BC. Por outro lado, Izabela Correa destacou a importância da convergência para a meta de inflação, considerando-a essencial para a estabilidade econômica do país.

David, em particular, explicou que, em função das defasagens típicas da política monetária, os choques de preços devem ser avaliados com cuidado, considerando suas causas e graus de persistência. Ele também ressaltou que a serenidade e a perseverança são essenciais para garantir o cumprimento das metas fiscais e monetárias.

A política cambial e fiscal na visão de David

Uma das questões levantadas durante a sabatina foi a política cambial. Nilton David, responsável por executar a política cambial do BC, comentou que as intervenções no câmbio podem gerar alterações temporárias na moeda, mas com efeitos colaterais que, por vezes, podem ser prejudiciais à economia. Segundo ele, países que tentaram intervir de forma agressiva no câmbio acabaram desistindo dessa prática.

David também abordou as contas públicas, afirmando que o Comitê de Política Monetária (Copom) se preocupa com as variáveis fiscais, embora seu compromisso principal seja com a meta de inflação. A surpreendente atividade econômica brasileira, segundo David, pode ser atribuída ao impulso fiscal, mas ele assegurou que o país não está perto de uma situação de dominância fiscal, onde a deterioração das contas públicas prejudicaria a eficácia da política monetária.

Perfil dos novos diretores e sucessões no Banco Central

Com a aprovação dos novos diretores, o governo Lula passa a ter sete dos nove membros do Copom, órgão responsável pela definição da taxa básica de juros do país. Nilton David substituirá Gabriel Galípolo, que assumirá a presidência do Banco Central a partir de janeiro. Vivan e Correa ocuparão as vagas de Otavio Damaso e Carolina Barros, também servidores de carreira do BC. Esses movimentos demonstram o fortalecimento da presença do governo Lula no comando do BC, especialmente após as críticas do presidente à gestão de Roberto Campos Neto.

Nilton David possui uma longa trajetória no setor financeiro, com formação em Engenharia de Produção pela USP e passagens por instituições renomadas, como Bradesco, Morgan Stanley e Citi. Gilneu Vivan, por sua vez, é mestre e bacharel em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e atua no BC desde 1994. Izabela Correa é graduada em Administração Pública e doutora em Governo pela London School of Economics. Ela é servidora do Banco Central desde 2006 e atualmente ocupa o cargo de Secretária de Integridade Pública da Controladoria-Geral da União.

A autonomia do Banco Central e seus efeitos

A aprovação da autonomia do Banco Central, sancionada em 2021, fortaleceu a independência da instituição, garantindo que os diretores tenham mandatos fixos e não coincidentes com os mandatos presidenciais. Esse novo modelo busca assegurar a continuidade das políticas econômicas do BC, mesmo com a mudança de governo, e fortalecer a credibilidade da autarquia junto aos mercados financeiros e à sociedade.