Selic a 13,25%? mercado dúvida sobre os próximos passos do Banco Central
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu manter a Selic em 13,25%, criando um cenário de incertezas no mercado financeiro sobre os próximos passos da taxa básica de juros.

No final de 2024, o Copom sinalizou que elevaria a taxa de juros em 1 ponto percentual nas duas primeiras reuniões de 2025, com a previsão de alcançar uma Selic de 14,25% até março de 2025. Isso faz com que a manutenção dos juros em 13,25% nesta quarta-feira (29) já seja considerada certa. A dúvida, no entanto, persiste: o quanto os juros precisarão subir para controlar a inflação e garantir que o IPCA atinja a meta de 3% no futuro? Especialistas consultados pelo Banco Central no Boletim Focus apontam que a Selic poderia chegar até 15% ao fim de 2025, 0,75 p.p. acima das expectativas iniciais do Copom. No entanto, o mercado já precifica um cenário ainda mais pessimista, com projeções de juros próximos a 15,75%.
Expectativas e incertezas: O que os economistas dizem?
A incerteza que permeia as previsões econômicas está no centro das preocupações dos agentes financeiros. A expectativa de alta de juros é alimentada pela necessidade do Banco Central de controlar a inflação, mas fatores como a instabilidade fiscal e as tensões no mercado global dificultam um cenário claro. Economistas acreditam que o Copom não irá adiantar informações sobre os passos futuros após março, mantendo em aberto a possibilidade de mais aumentos ou até uma manutenção dos juros, dependendo da evolução da economia.
Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, explica que a política monetária mais restritiva pode começar a impactar a economia de forma mais acentuada a partir do segundo trimestre de 2025. No entanto, ele alerta para o risco de uma nova depreciação do real e o efeito das expectativas inflacionárias, o que poderia obrigar o Banco Central a prolongar o ciclo de altas ou até adiar os cortes de juros previstos para 2026.
O impacto fiscal e a dominância fiscal
Uma das grandes preocupações dos analistas é o risco de dominância fiscal, um cenário em que a política fiscal, especialmente em relação à trajetória da dívida pública, tem mais influência sobre a inflação do que a política monetária do Banco Central. Alguns economistas, como Alberto Ramos, do Goldman Sachs, já enxergam sinais dessa dominância fiscal, apontando que a falta de ação do governo para controlar a dívida pública pode agravar ainda mais o quadro fiscal do Brasil.
Enquanto isso, Gustavo Sung, economista-chefe da Suno, destaca que o Brasil precisa de um ajuste fiscal rigoroso para evitar uma elevação ainda maior dos juros. Ele ressalta que, enquanto a política monetária busca controlar a inflação, a política fiscal continua sem diretrizes claras, o que impacta diretamente as expectativas de mercado e as projeções de inflação. “Enquanto a política monetária tenta ancorar expectativas, a política fiscal segue incerta, o que afeta a curva de juros, o câmbio e a inflação futura”, afirmou.
O que esperar da reunião do Copom?
O mercado estará atento a três aspectos principais da reunião do Copom: as projeções de inflação dos membros do comitê, a avaliação sobre os efeitos da política monetária restritiva e o tom do comunicado pós-reunião. Desde o último guidance de dezembro, a trajetória da política monetária tem sido marcada por um crescente aversão ao risco, o que impactou as taxas de juros de longo prazo. O mercado começou a precificar os juros futuros em linha com as projeções do Copom, mas as taxas de longo prazo registraram uma alta de 0,45 p.p. adicionais, reflexo da preocupação com o risco fiscal.
A desancoragem das expectativas inflacionárias também é um ponto crítico. Há um mês, a projeção para o IPCA de 2025 era de 4,96%, mas esta semana o mercado já revisou essa previsão para 5,50%. Além disso, as projeções para 2026, 2027 e 2028 também foram ajustadas para cima, indicando uma inflação mais elevada do que o esperado inicialmente.