Jaqueline Neo, da Be.Smart, alerta: risco de crédito nos EUA acende sinal global e pressiona câmbio
O movimento pode afetar o câmbio global, gerar instabilidade nos mercados emergentes e pressionar o real.

O risco de crédito nos Estados Unidos voltou ao centro das atenções de investidores e autoridades monetárias após uma série de falências e perdas entre bancos regionais americanos. O tema ganhou força na última semana, quando o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Bank of America (BofA) e líderes de Wall Street alertaram para o aumento da inadimplência e a fragilidade do crédito corporativo.
Os episódios recentes envolvendo o Jefferies Financial Group, Western Alliance Bancorp e Zions Bancorp expuseram vulnerabilidades em um setor de crédito privado estimado em até US$ 2,1 trilhões — e que opera, em grande parte, fora do alcance dos reguladores tradicionais.
Para Jaqueline Neo, superintendente de câmbio e crédito da Be.Smart, o cenário marca uma virada importante para o sistema financeiro americano.
“O mercado de crédito nos Estados Unidos começa a emitir sinais de alerta. O ambiente de juros altos, inflação resistente e crescimento econômico mais fraco vem pressionando empresas e consumidores, e as recentes declarações do Bank of America (BofA) reforçam essa preocupação.”, afirmou.
Crise de crédito reacende lembranças de 2023
As preocupações se intensificaram após a falência da First Brands Group, fornecedora americana de peças automotivas, e da financeira Tricolor, ambas acusadas de irregularidades em seus registros contábeis. Esses casos fizeram ecoar memórias da crise bancária regional de 2023, quando o colapso do Silicon Valley Bank desencadeou turbulência no sistema financeiro dos EUA.
Na quinta-feira (16), as ações dos bancos Jefferies, Western Alliance e Zions registraram as maiores quedas em mais de seis meses, enquanto o índice de volatilidade VIX saltou 22,6%, refletindo o aumento da aversão ao risco. Em meio à incerteza, investidores correram para ativos considerados seguros, como títulos do Tesouro americano, ouro e prata.
De acordo com o Bank of America, o aumento das taxas de inadimplência e a redução da liquidez indicam que o ciclo de crédito fácil — sustentado por políticas monetárias expansionistas no pós-pandemia — está chegando ao fim.
FMI vê vulnerabilidade em mercado de crédito privado
A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, afirmou estar “perdendo o sono” com os riscos no mercado de crédito privado dos EUA. Segundo ela, a falta de supervisão sobre instituições não bancárias, como fundos de crédito e gestoras de ativos alternativos, cria pontos cegos na estabilidade financeira global.
O fundo alerta que, sem maior transparência, a expansão do crédito corporativo fora do sistema bancário tradicional pode se transformar em um fator de risco sistêmico. Em relatório recente, o FMI destacou que a combinação de alavancagem elevada e fiscalização limitada aumenta a probabilidade de novas ondas de inadimplência.
Efeito dominó: do crédito ao câmbio
Especialistas afirmam que o risco de crédito nos EUA não se limita ao sistema financeiro — ele pode gerar impactos diretos sobre o câmbio global. Quando o investidor percebe maior risco, tende a adotar uma postura mais defensiva, reduzindo posições em ativos americanos e buscando diversificação internacional.
Jaqueline Neo explica que essa reação cria uma cadeia de efeitos que vai muito além dos Estados Unidos.
“Há uma relação delicada entre crédito, confiança e moeda: quanto maior o risco de inadimplência, maior a chance de instabilidade cambial”, afirma.
“Se a confiança no sistema financeiro americano for abalada, o dólar tende a enfraquecer — e isso afeta diretamente moedas emergentes, como o real brasileiro.”
Impactos sobre o Brasil e os emergentes
A volatilidade nos Estados Unidos costuma ter efeitos rápidos sobre os mercados emergentes.
“Uma eventual depreciação do dólar ou uma reprecificação global do risco pode alterar o fluxo de capitais, mexer com as reservas internacionais e influenciar o valor do real”, alerta Jaqueline Neo.
Em cenários de maior incerteza, investidores estrangeiros reduzem a exposição a ativos de risco, o que pode influenciar o mercado de ações, o real e até mesmo as expectativas de juros domésticos.
Fed no centro das atenções
Com as condições financeiras mais apertadas, o mercado volta a mirar o Federal Reserve (Fed). A autoridade monetária americana enfrenta o desafio de controlar a inflação persistente sem provocar uma desaceleração econômica acentuada.
Analistas apontam que qualquer sinal de ajuste na política de juros pode ter impacto imediato nas condições de crédito, na liquidez global e no comportamento das moedas.
Jaqueline reforça a importância da instituição:
“A resposta do Fed será crucial. O banco central americano precisa calibrar a política de juros para preservar a liquidez e a confiança no sistema financeiro”, avaliou.
Risco de crédito nos EUA é o novo termômetro da confiança global
Os alertas do FMI, do BofA e de executivos de grandes bancos americanos — como Jamie Dimon, do JPMorgan Chase — indicam que o risco de crédito nos EUA se tornou um novo termômetro da confiança global.
Se o sistema financeiro americano conseguir absorver as perdas sem grandes impactos, a volatilidade cambial pode ser contida. Mas, caso os problemas se agravem, o mundo poderá enfrentar um novo ciclo de instabilidade financeira, com oscilações imprevisíveis do dólar e maior pressão sobre os emergentes.
Como resume Jaqueline Neo,
“O crédito é o motor silencioso da economia — e quando ele falha, o câmbio costuma ser o primeiro a reagir.”
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