A Petrobras divulgou na última segunda-feira (4) a conclusão da emissão de títulos no valor de US$ 1,25 bilhão, superando as expectativas da estatal. Além de melhorar o perfil da dívida, o objetivo da operação era entender como a empresa estava sendo vista pelo mercado.

“O mercado está enxergando a Petrobras de forma muito positiva e segura, apesar dos rumores que sempre a cercam”, disse Sergio Caetano Leite, diretor financeiro e de relações com investidores, em entrevista ao Valor Econômico.

A empresa não enfrenta necessidades financeiras urgentes ou grandes vencimentos de dívida iminentes e segundo Leite, a última vez que a estatal ficou tanto tempo sem acessar o mercado foi em 1993, devido a fatores como a pandemia, a volatilidade dos mercados internacionais e o conflito na Ucrânia.

A Petrobras iniciou as conversas com participantes do mercado na manhã de 26 de junho, testando inicialmente o apetite com uma taxa de juros de 7,25%. O objetivo era captar até US$ 1,5 bilhão. Nesse primeiro contato com os bancos, 386 investidores mostraram interesse, resultando em uma demanda de US$ 6,3 bilhões. Com base nessa resposta rápida, a empresa percebeu que seria possível reduzir a taxa de juros para 6,625%.

Por fim, Leite destacou que esse patamar está ligeiramente acima do que as empresas com classificação de grau de investimento costumam oferecer em suas captações, o que mostra mais um sinal de confiança do mercado na estatal brasileira. “Conseguimos um prêmio muito baixo em comparação com os títulos do Tesouro americano. Isso é um sinal de que o mercado nos vê com menos risco.”

Sucesso na emissão de títulos internacionais

A operação atraiu 327 investidores, sendo a maioria da América do Norte. Houve também alocações no Oriente Médio e América Latina, além de uma parcela menor da Europa. Segundo Leite, quase 70% desses investidores são alocadores de fundos.

O sindicato de bancos responsável pela estruturação da operação é composto pelo BTG Pactual, Citi, Goldman Sachs, Itaú BBA, MUFG, Santander, Scotiabank e UBS. Leite também afirmou que essa foi a primeira vez que a Petrobras utilizou critérios ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) na escolha dessas instituições. Para isso, foi necessário o aval do Tribunal de Contas da União (TCU). “Gradualmente, a Petrobras irá implementar esse tipo de abordagem em toda a empresa, na escolha de bancos e parceiros”, afirmou Leite.

A emissão de dívida da Petrobras ocorre em um momento em que outros participantes do mercado estão começando a testar o mercado novamente, após a decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) de pausar o aumento das taxas de juros. Este ano, além da Petrobras, apenas a Braskem, Banco do Brasil, Vale e Tesouro Nacional emitiram no exterior. Há expectativas também para operações da Gerdau e Cosan, conforme noticiado pelo Valor na semana passada.

Leite acredita que a América Latina, especialmente o Brasil, voltará a ser o centro das atenções no mundo. “A Europa ainda está turbulenta com o conflito na Rússia, e a China está tentando se reposicionar em uma nova ordem mundial… O Brasil pode esperar um influxo de capital este ano”, afirmou o executivo. Em meados de junho, a S&P Global Ratings elevou a perspectiva de classificação de crédito de 22 empresas brasileiras, incluindo a Petrobras, de neutra para positiva, após ter feito o mesmo para a nota do Brasil.

A dívida atual da estatal está em torno de US$ 53 bilhões. Leite afirmou que a situação de geração de caixa da Petrobras é sustentável, com previsão de mais investimentos. “Não vamos perder o controle do endividamento. Novas emissões dependerão das condições macroeconômicas, como ocorreu agora. Se a taxa Selic diminuir, se houver pouca volatilidade e se sentirmos oportunidades de melhorar o perfil da dívida, consideraremos ir ao mercado novamente”, concluiu.

Com informações de Valor Econômico