Criação de 147 mil vagas nos EUA afasta corte de juros, avalia assessor da InvestSmart.XP
O payroll de junho de 2025 registrou a criação de 147 mil empregos nos EUA, superando previsões e derrubando as apostas de corte de juros pelo Fed em julho.

O relatório payroll divulgado na última quinta-feira (3) nos Estados Unidos revelou um desempenho muito acima do esperado no mercado de trabalho, surpreendendo investidores e analistas em todo o mundo. Com a criação de 147 mil novas vagas em junho e uma queda na taxa de desemprego para 4,1%, os dados alteram significativamente as projeções econômicas e os próximos passos do Federal Reserve (Fed) em relação aos juros. O resultado teve efeitos diretos nos mercados globais, incluindo o Brasil, com o Ibovespa renovando sua máxima histórica.
Payroll forte reduz chance de corte de juros no curto prazo
A divulgação do payroll de junho confirmou a resiliência da economia americana, que vem mostrando sinais de força mesmo diante de um cenário de juros elevados. O relatório oficial surpreendeu ao superar as expectativas do mercado, que estimavam a criação de 106 mil a 111 mil empregos. A taxa de desemprego, que era projetada para subir para 4,3%, recuou para 4,1%, o que representa uma melhora significativa no quadro do emprego.
Essa performance robusta pressiona o Federal Reserve a adotar uma postura ainda mais cautelosa em relação ao início do ciclo de cortes de juros. Em sua última reunião, realizada em 18 de junho de 2025, o Fed optou por manter a taxa básica entre 4,25% e 4,50% ao ano, pela quarta vez consecutiva.
“Apesar da manutenção da taxa em junho e do payroll robusto, alguns membros do Fed ainda preveem cortes de juros para este ano. Há divergências entre os dirigentes, com alguns projetando apenas um corte em 2025, enquanto outros veem a possibilidade de até três reduções em 2026,” afirma Antônio Nogarotto, assessor de investimentos da InvestSmart.XP – Filial Santo André.
Até então, havia no mercado uma expectativa concreta de que os cortes começariam em julho. Porém, após os dados do payroll, as apostas de corte recuaram de 23,3% para apenas 4,7%, segundo projeções compiladas por analistas.
Com um mercado de trabalho aquecido, o temor de que as pressões inflacionárias se mantenham por mais tempo voltou ao radar. Isso fortalece o argumento de que o Fed deve continuar priorizando a estabilidade de preços antes de flexibilizar a política monetária. Internamente, o comitê do banco central ainda apresenta divisões: alguns membros veem espaço para um corte ainda este ano, enquanto outros só preveem reduções a partir de 2026.
Bolsas americanas e brasileiras sobem com leitura positiva do payroll
Apesar de o payroll adiar as esperanças de cortes imediatos nos juros, o mercado acionário reagiu com otimismo. As bolsas americanas, como o S&P 500 e a Nasdaq, encerraram o dia em novas máximas históricas. O motivo? A interpretação de que a economia dos EUA segue sólida o suficiente para sustentar o crescimento, mesmo com juros elevados, o que beneficia o desempenho corporativo e atrai investidores para ativos de risco.
No Brasil, o cenário externo positivo também impulsionou o desempenho da bolsa. O Ibovespa ultrapassou os 141 mil pontos, registrando seu maior patamar histórico. A força demonstrada pela economia americana é vista como um motor de crescimento global, o que tende a favorecer os mercados emergentes, como o brasileiro.
Além disso, a divulgação do payroll teve impacto no câmbio. O real se valorizou frente ao dólar, “A percepção de que a economia global está se fortalecendo, mesmo com juros mais altos nos EUA, cria um ambiente favorável para o fluxo de capital e o desempenho dos ativos brasileiros,” conclui o assessor.
Perspectivas: payroll como termômetro da política monetária global
O payroll é um dos principais indicadores acompanhados pelos bancos centrais e pelo mercado financeiro global. Um número forte, como o de junho, tende a adiar cortes de juros e aumentar o tempo de permanência de uma política mais restritiva. Isso impacta decisões de investimentos em todos os continentes.
No caso dos Estados Unidos, a mensagem passada pelo mercado de trabalho é clara: a economia ainda tem fôlego, o que dá ao Fed mais margem de manobra para esperar uma queda mais consistente da inflação antes de iniciar qualquer ciclo de afrouxamento monetário. O próximo relatório do payroll, agendado para agosto, deve ser acompanhado de perto, pois pode confirmar uma tendência ou reabrir espaço para cortes ainda em 2025.