A Polícia Federal (PF) revelou novos detalhes sobre a tentativa de golpe no Brasil, ocorrida em 2022, com o intuito de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo as investigações, o então presidente Jair Bolsonaro esteve ativamente envolvido na elaboração e ajustes do decreto conhecido como “minuta do golpe”, documento que visava impedir a posse de Lula e fragilizar a democracia no país. A ação foi detectada em um relatório da PF, que serviu como base para um despacho do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), confirmando a gravidade da situação.

O que foi a “minuta do golpe”?

A “minuta do golpe” era um projeto de decreto que, em tese, tinha como objetivo impedir a posse de Lula, que ocorreria em 1º de janeiro de 2023. O documento, que foi redigido e alterado por Bolsonaro, pretendia anular os resultados das eleições e manter o ex-presidente no poder. De acordo com a PF, a trama golpista envolvia não apenas a alteração da ordem constitucional, mas também a mobilização de forças militares para garantir o sucesso do plano.

A cronologia dos eventos, identificada pelas investigações, indica que Bolsonaro fez ajustes na minuta, revisando e simplificando o conteúdo, talvez como forma de reduzir o risco de identificação e aumentar suas chances de execução. O plano de golpe foi discutido em reuniões secretas e por meio de mensagens entre figuras-chave do governo, como o ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, e outros membros militares, incluindo o general Estevam Theofilo, que se reuniu com Bolsonaro em 9 de dezembro de 2022. O objetivo era garantir o respaldo militar para a implementação do decreto.

Prisões e ações da PF

A investigação da PF culminou na prisão de quatro militares das Forças Especiais e um agente da PF, envolvidos diretamente na organização do golpe. O tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo, o major Rafael Martins de Oliveira, o general Mario Fernandes (ex-secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência) e o agente Wladimir Matos Soares foram detidos durante a operação. Esses indivíduos eram suspeitos de planejar a captura do ministro Alexandre de Moraes, do STF, e de executar ações violentas para garantir a implementação do golpe.

Além das prisões, as investigações revelaram que o plano envolvia uma série de medidas extremas, incluindo a neutralização de Moraes e até a eliminação da chapa presidencial vencedora. Segundo o relatório da PF, o golpe não se limitava a um golpe institucional, mas incluía planos de assassinato, especificamente direcionados ao presidente eleito Lula e seu vice, Geraldo Alckmin. Essa parte do plano foi chamada de “Punhal verde amarelo”, elaborado pelo general Mario Fernandes, que tinha a intenção de eliminar os líderes do novo governo.

Troca de mensagens revela planejamento minucioso

A PF obteve mensagens trocadas entre Mauro Cid e o coronel Marcelo Câmara, ambos aliados de Bolsonaro, que indicam um intenso monitoramento do ministro Moraes e da situação política do país. Cid relatou que Bolsonaro estava sendo pressionado por aliados políticos, especialmente do agronegócio e do Congresso, para tomar uma atitude mais drástica. Em uma das conversas, ele revelou que o presidente estava “enxugando” o decreto, ou seja, tornando-o mais direto e simples para garantir a sua execução sem levantar suspeitas. Essas informações revelam a profundidade do envolvimento de Bolsonaro no planejamento do golpe.

Além disso, o relatório da PF destacou que Bolsonaro discutia com outros membros do governo a melhor forma de agir para garantir que o plano tivesse êxito. A troca de mensagens entre Cid e o general Freire Gomes revelou que Bolsonaro estava sendo pressionado para “tomar uma medida mais pesada”, e que o decreto estava sendo ajustado para ser mais “resumido” e direto.

Reuniões secretas e o papel do general Theofilo

Em 9 de dezembro de 2022, o general Estevam Theofilo, comandante do COTER, se reuniu com Bolsonaro, com o objetivo de discutir a implementação do golpe e garantir apoio militar. Durante essa reunião, os dois discutiram os detalhes do plano e as possíveis ações que seriam necessárias para concretizar o golpe, incluindo o apoio das Forças Armadas. Segundo o relatório da PF, o general Theofilo estava disposto a seguir as ordens de Bolsonaro e implementar as medidas necessárias, desde que o decreto fosse assinado pelo presidente.

A investigação apontou ainda que a relação entre os membros militares e o ex-presidente Bolsonaro foi estreita, e que eles estavam trabalhando em conjunto para viabilizar o golpe. A participação ativa de Bolsonaro nas discussões sobre a minuta e as reuniões secretas com altos oficiais do Exército indicam que ele estava profundamente envolvido no planejamento de ações ilegais para garantir sua permanência no poder.