O ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que Luiz Inácio Lula da Silva já havia sinalizado, durante sua campanha em 2022, uma forte ênfase na expansão dos gastos públicos. Segundo Meirelles, essa postura não deve mudar, o que levanta preocupações sobre o futuro fiscal do Brasil. O ex-presidente do Banco Central fez essas declarações durante sua participação no episódio 260 do programa Stock Pickers, onde também lançou sua autobiografia, “Calma sob pressão”.

Durante a campanha eleitoral de 2022, Meirelles participou de uma reunião com ex-candidatos à presidência, onde expressou a necessidade de adotar uma política fiscal mais rigorosa. Ele argumentou que a contenção de gastos e a estabilidade monetária foram fundamentais para o crescimento do Brasil durante os dois primeiros mandatos de Lula (2003-2006). No entanto, Meirelles relatou que Lula estava decidido a seguir um caminho oposto, focando na expansão do Estado e nos gastos públicos.

“Disse publicamente e depois falei para ele que estava fazendo aquilo (o encontro com presidenciáveis) para que adotasse a mesma postura dura, a mesma política que tinha feito no primeiro mandato dele. Mas ele tinha decidido fazer uma campanha, de fato, com ênfase grande na expansão dos gastos públicos”, declarou Meirelles.

Essa escolha, segundo ele, deixou claro que o governo de Lula estaria se distanciando da disciplina fiscal. A postura de expansão fiscal é vista como um reflexo da base eleitoral de Lula, que espera um aumento nos investimentos sociais e nos programas governamentais.

A expansão fiscal proposta por Lula e suas implicações para a dívida pública do Brasil são questões que preocupam especialistas. Meirelles alertou que, caso essa trajetória de aumento dos gastos públicos continue, a relação dívida/PIB pode atingir níveis alarmantes, em torno de 82%. Para um país emergente como o Brasil, esse patamar é considerado extremamente elevado.

“Na linha em que está, vamos chegar em pouco tempo num nível total de dívida pública em relação ao PIB em cerca de 82%, que é um patamar muito alto para um país emergente”, enfatizou Meirelles. Essa situação pode comprometer a capacidade do Brasil de atrair investimentos e manter a confiança dos mercados.

Enquanto isso, o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem tentado “amenizar” a situação fiscal do país. No entanto, Meirelles acredita que a possibilidade de cortes significativos nos gastos públicos é limitada. “Não acho que vai haver um grande corte de gastos, uma grande contenção. Exatamente porque o presidente Lula foi eleito com uma plataforma de expansão de gastos. É muito difícil para ele, a essa altura, mudar politicamente”, avaliou.

Essa análise indica que o governo pode enfrentar desafios significativos para equilibrar a necessidade de investimento em serviços públicos e a gestão da dívida pública. A postura de Haddad, que procura administrar a situação sem romper com as promessas eleitorais de Lula, será crucial para a estabilidade fiscal nos próximos anos.

Além de discutir a política fiscal atual, Meirelles também abordou rumores sobre uma possível sondagem para assumir a Fazenda no governo Lula. Ele foi enfático em negar essas especulações, afirmando: “Objetivamente, não”. Essa negativa reforça que Meirelles, apesar de sua experiência e conhecimento da economia brasileira, não faz parte da atual administração.

Meirelles aproveitou a oportunidade durante o programa *Stock Pickers* para promover sua autobiografia, “Calma sob pressão”, que explora sua trajetória no comando do Banco de Boston, do Banco Central e do Ministério da Fazenda. O livro oferece uma visão sobre a pressão e as decisões tomadas em momentos críticos da economia brasileira, refletindo sobre lições aprendidas ao longo de sua carreira.