As ações da Lojas Renner (LREN3) registraram uma queda acentuada de até 10% após a divulgação dos resultados do quarto trimestre de 2024 (4T24), nesta sexta-feira (21). A companhia teve um desempenho abaixo das expectativas, com uma combinação de lucro menor que o esperado, uma margem bruta enfraquecida e despesas com bônus que impactaram negativamente os números. A reação do mercado foi imediata, e, às 10h12 (horário de Brasília), as ações estavam em queda de 8,83%, cotadas a R$ 12,50.

Desempenho financeiro do 4T24 e impacto no mercado

No quarto trimestre de 2024, a Lojas Renner reportou um Ebitda ajustado de R$ 1,025 bilhão, com um crescimento de 1,7% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Contudo, o valor ficou abaixo das estimativas do mercado, que esperava R$ 1,096 bilhão. Esse desempenho foi impulsionado, em parte, pela diminuição da margem bruta da empresa e pelo aumento de despesas operacionais, como o pagamento de bônus, o que prejudicou o lucro operacional.

Além disso, o Ebitda ajustado (excluindo créditos fiscais e write-offs) ficou 8% abaixo da previsão da XP Investimentos, destacando a pressão extra vinda das despesas com bônus e impairments/write-offs, que causaram um impacto negativo de R$ 133 milhões no resultado.

As vendas líquidas consolidadas da companhia cresceram 8%, impulsionadas, principalmente, pelo bom desempenho das lojas (+10%), enquanto as vendas da Realize, braço financeiro da Renner, registraram queda de 4%. A desaceleração na concessão de crédito resultou em um desempenho mais modesto nesse segmento.

A margem bruta e o impacto das despesas operacionais

A rentabilidade da Lojas Renner foi, sem dúvida, o principal ponto negativo do trimestre. A margem bruta caiu 0,2 ponto percentual (p.p.) em relação ao ano anterior e 2,2 p.p. abaixo do 4T19. Esse declínio foi registrado mesmo com um aumento significativo nas remarcações de preços, o que indicaria uma maior capacidade de repassar custos ao consumidor. No entanto, a empresa optou por não repassar toda a pressão cambial nos preços, o que impactou diretamente a sua margem.

A análise de analistas como Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer, da XP Investimentos, sugere que a margem bruta fraca foi uma surpresa negativa e levanta preocupações sobre a recuperação dessa métrica em 2025. A falta de repasse dos custos cambiais foi vista como um fator crucial para o enfraquecimento da margem, especialmente considerando a base de comparação difícil.

Desafios e perspectivas para 2025

Em relação aos próximos meses, a Lojas Renner mencionou a expectativa de enfrentar “desafios externos importantes” durante 2025, o que pode levar a uma desaceleração no setor de varejo. A perspectiva de um ano mais difícil somada a um desempenho abaixo das expectativas no 4T24 deixou o mercado cauteloso em relação ao futuro da companhia.

A incerteza sobre o desempenho futuro foi reforçada pela previsão de um crescimento mais modesto para o mercado de vestuário, o que afeta diretamente as perspectivas da Lojas Renner. Além disso, a empresa ressaltou que, apesar de uma expectativa de crescimento, o ritmo de recuperação poderá ser mais lento, o que eleva a apreensão dos investidores.

Recompra de ações

Para tentar reverter a sensação negativa no mercado, a Lojas Renner anunciou um programa de recompra de até 75 milhões de ações, representando cerca de 7% do total de ações em circulação, o que equivale a aproximadamente R$ 1 bilhão com os preços atuais. O programa está programado para ser executado ao longo dos próximos 18 meses.

Apesar de ser uma medida considerada positiva por alguns investidores, como uma tentativa de fortalecer a confiança no papel, a XP Investimentos e o Bradesco BBI alertaram que, dada a fraca performance nos fundamentos, um programa de recompra de ações pode não ser suficiente para reverter o sentimento negativo em torno da companhia. De acordo com o Bradesco BBI, a recompra não deve ter impacto suficiente para alterar a perspectiva estrutural para a empresa.

Análise do Bradesco BBI e recomendação de ações

O Bradesco BBI também analisou os resultados e concluiu que, excluindo fatores não operacionais, o lucro antes de impostos (EBT) da empresa foi 7% inferior à previsão do banco. A recomendação da instituição financeira continua neutra, com preço-alvo de R$ 16 para as ações da Lojas Renner. A análise sugere que, apesar da tentativa de recompra de ações, o fraco desempenho financeiro e a visão mais conservadora para 2025 tornam improvável que haja uma recuperação substancial nos próximos meses.