As taxas dos Depósitos Interfinanceiros (DIs) voltaram a despencar nesta quinta-feira (04), refletindo a mudança de tom no discurso do governo. No dia anterior, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu uma trégua nas críticas ao Banco Central, o que vinha fazendo quase diariamente, e passou a defender o equilíbrio fiscal.

Impulsionados pelo fechamento do mercado de Treasuries hoje, devido ao feriado nos Estados Unidos, os investidores focaram apenas em Brasília.

Nesse cenário, no fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 — que reflete a política monetária no curtíssimo prazo — estava em 10,625%, ante 10,693% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 11,3%, ante 11,526% do ajuste anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2027 estava em 11,62%, ante 12,843%.

Comparando os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,13%, ante 12,304%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,14%, ante 12,291%.

Vale lembrar que na última quarta-feira (03), Lula interrompeu uma sequência recente de críticas ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao atual nível da taxa Selic e ao mercado financeiro, preferindo defender o ajuste das contas públicas.

Por sua vez, após o fechamento dos mercados, o ministro da Fazenda Fernando Haddad, após reunião com Lula, afirmou que o presidente determinou o cumprimento do arcabouço fiscal e que a equipe econômica já identificou 25,9 bilhões de reais em despesas a serem cortadas no Orçamento de 2025.

Hoje, Lula participou de eventos públicos em Campinas, no interior de São Paulo, entretanto, como na véspera, não disparou comentários sobre o Banco Central ou a política monetária.

Redução de riscos

Com esses acontecimentos, os investidores seguem reduzindo parte dos prêmios de risco incorporados à curva de juros nas últimas semanas. No melhor momento do dia, às 10h43, a taxa do DI para janeiro de 2027 atingiu 11,595%, uma baixa de 25 pontos base ante o ajuste de 11,843% da véspera.

Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos comentou que “as últimas semanas foram muito duras, com alta considerável na curva de juros, mas ontem tivemos ajustes na comunicação do governo. Haddad reforçou a preservação do arcabouço fiscal, sinalizando corte de 25,9 bilhões para o orçamento de 2025, o que acabou sendo bem-visto pelo mercado”, disse.

“O ceticismo diminuiu um pouco, mas ainda há bastante prêmio embutido na curva, que inclusive ainda precifica aumento da Selic”, finalizou.

Nas últimas duas sessões, a curva voltou a precificar chances majoritárias de manutenção da Selic em 10,50% ao ano no fim deste mês, em vez de uma alta de 25 pontos base, como chegou a indicar no início da semana.

Entretanto, a curva ainda precifica uma alta da Selic até o fim deste ano, apesar de Campos Neto ter declarado recentemente que uma elevação da taxa básica não está no cenário base do BC.

Próximo ao fechamento, a curva a termo precificava 85% de chances de manutenção da Selic no fim deste mês e 15% de possibilidade de alta de 25 pontos base da taxa básica.