A evolução da tensão no Oriente Médio, agora com o envolvimento direto dos EUA no confronto entre Israel e Irã, acendeu o sinal de alerta no mercado financeiro, principalmente acerca dos efeitos globais nos preços do petróleo — e, consequentemente, na inflação mundial.

Para Caio Megale, economista-chefe da XP, este é hoje o maior risco econômico gerado pela escalada militar na região.

“O grande risco do ponto de vista econômico é o inflacionário”, disse Megale, durante participação no programa Morning Call XP.

Segundo ele, a instabilidade no Oriente Médio ameaça manter o petróleo em patamares elevados por mais tempo, pressionando o custo de bens e serviços em todo o mundo.

“É uma região estratégica na produção global de petróleo, e qualquer interrupção afeta diretamente o preço da commodity”, acrescentou.

O barril do tipo Brent já havia superado os US$ 60 neste ano e avançou para US$ 65 e, mais recentemente, para US$ 75 — patamar que tende a se consolidar ou até subir ainda mais, a depender da resposta do Irã aos ataques americanos ocorridos no fim de semana.

Quais serão as consequências do conflito entre Israel, Irã e EUA no Brasil?

No Brasil, o repasse dos preços internacionais pode ser atenuado no curto prazo, já que a Petrobras (PETR4) reduziu recentemente o preço do diesel, contribuindo para a queda das projeções de inflação. No entanto, uma alta prolongada do petróleo no mercado externo pode obrigar a estatal a rever sua política de preços nos próximos meses.

Nos Estados Unidos, o cenário é mais desafiador. Com a inflação ainda acima da meta e decisões sensíveis à vista no Federal Reserve (Fed), o aumento dos preços do petróleo pode reduzir as chances de corte de juros neste ano, ampliando as incertezas nos mercados globais.

“A extensão dos desdobramentos ainda é incerta”, alertou Megale. “Não se sabe como o Irã vai reagir e até que ponto a escalada pode evoluir para um conflito prolongado, que historicamente mantém o petróleo em alta por mais tempo.”

Incerteza trava decisões dos bancos centrais

O economista destaca que momentos de forte incerteza geopolítica, como o atual, costumam frear decisões mais ousadas dos bancos centrais. “O mais natural é que esperem a acomodação dos preços antes de qualquer movimento na política monetária”, avaliou.

Para ele, o risco maior seria uma mudança de regime no Irã — cenário sugerido pelo ex-presidente Donald Trump, mas considerado improvável por analistas. “Se isso acontecesse, o impacto sobre o petróleo seria ainda mais intenso e duradouro”, concluiu.

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Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.