A inadimplência no Brasil voltou a subir em julho, atingindo o maior patamar em quase oito anos, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (27). O crescimento dos ativos problemáticos ocorre em um momento de desaceleração do crédito e manutenção de juros elevados, refletindo as condições financeiras mais restritivas do país.

No segmento de recursos livres, em que as condições dos empréstimos são negociadas diretamente entre bancos e clientes sem interferência governamental, a inadimplência chegou a 5,2%, ante 5,0% em junho. Esse nível não era registrado desde novembro de 2017 e representa um aumento de 1,1 ponto percentual em relação ao início do ano.

O aumento dos índices de inadimplência acompanha uma recente mudança regulatória que resultou na mensuração de valores mais altos do que os anteriormente reportados pelos bancos. Ainda assim, o Comitê de Estabilidade Financeira (Comef) destacou que o crescimento da inadimplência é real e não se deve apenas aos ajustes contábeis.

Crescimento do crédito desacelera, mas permanece em ritmo elevado

Apesar da alta da inadimplência, as concessões de crédito avançaram 1,2% em julho na comparação com junho, elevando o estoque total de crédito para R$ 6,716 trilhões. No entanto, o aumento em 12 meses do estoque de crédito caiu para 10,7%, de 10,8% em junho, indicando sinais de desaceleração.

Segundo a ata do Comef, essa tendência já era esperada e está alinhada às políticas de contenção da atividade econômica adotadas pelo Banco Central. A instituição mantém a taxa Selic em 15% ao ano, um patamar considerado restritivo, com o objetivo de desacelerar o consumo e controlar a inflação, cuja meta é de 3% ao ano.

Entre os tipos de crédito, os financiamentos com recursos livres tiveram crescimento de 0,5% em julho, enquanto os empréstimos com recursos direcionados, que seguem regras do governo, registraram alta de 7,4%.

Juros altos e spread bancário

Os juros cobrados pelas instituições financeiras seguem elevados, especialmente no crédito livre. A taxa média nesse segmento foi de 45,4% ao ano, com leve queda de 0,1 ponto percentual em relação a junho. Já os recursos direcionados mantiveram a taxa estável em 11,8%.

O spread bancário, que representa a diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa cobrada aos clientes, caiu ligeiramente para 31,6 pontos percentuais nos recursos livres, ante 31,7 pontos no mês anterior. Essa diminuição é considerada mínima, mas indica um esforço gradual das instituições financeiras para reduzir o custo do crédito.

Contexto econômico e efeitos sobre o consumidor

A combinação de inadimplência crescente, juros altos e crédito desacelerado reflete um cenário econômico mais desafiador para consumidores e empresas. A alta da inadimplência sugere que mais brasileiros enfrentam dificuldade em honrar compromissos financeiros, impactando diretamente o consumo e o investimento.

Segundo especialistas, o aumento da inadimplência no Brasil está relacionado a fatores como a elevação dos juros, inflação ainda presente em alguns setores e moderação no crescimento da economia. Além disso, o crédito direcionado, que tem regras específicas e menor custo, cresce mais rapidamente, indicando que os consumidores e empresas buscam linhas de financiamento mais acessíveis e controladas pelo governo.

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