O dólar comercial subiu de forma expressiva nesta sexta-feira, 29 de novembro, superando a marca de R$ 6,05 pela primeira vez, com um cenário de incerteza no mercado financeiro. A forte alta da moeda americana, que já havia fechado em seu maior valor nominal de fechamento histórico na quinta-feira (28), foi impulsionada por uma crescente desconfiança em relação ao pacote fiscal anunciado pelo governo. Com o mercado observando de perto os efeitos das novas medidas econômicas, as perspectivas para a economia brasileira e as futuras decisões do Banco Central se tornaram ainda mais incertas.

O impacto imediato do pacote fiscal no dólar

A cotação do dólar apresentou uma alta de 0,9% logo pela manhã, operando a R$ 6,042 na compra e R$ 6,044 na venda, e chegando a bater R$ 6,055 na máxima do dia. O movimento reflete um sentimento negativo entre investidores, que veem o pacote fiscal como um sinal de fragilidade na condução da política econômica do Brasil. Esse cenário de aversão ao risco resultou em uma elevação da cotação da moeda americana, que, por sua vez, também pressiona a inflação e aumenta os custos das importações.

Segundo dados atualizados, o dólar à vista na quinta-feira (28) fechou a R$ 5,991, com uma alta de 1,30%, atingindo o maior valor nominal de fechamento da história. Esse cenário de desvalorização do real está diretamente relacionado à insatisfação do mercado com a proposta de cortes de gastos do governo, que, ao invés de tranquilizar os investidores, gerou um sentimento de incerteza sobre a capacidade do Brasil de controlar suas finanças públicas.

O que está por trás da alta do dólar?

A reação do mercado à política fiscal foi um dos principais fatores responsáveis pelo aumento do dólar. Especialistas apontam que a insatisfação com as medidas anunciadas criou uma pressão sobre as decisões futuras do Banco Central em relação à taxa Selic. O CEO da gestora AZ Quest, Walter Maciel, observou que, devido à atual situação fiscal, o mercado agora antecipa uma “elevação brutal” dos juros, com expectativas de dois aumentos de 100 pontos-base, ou 1 ponto porcentual, nos próximos meses.

A confiança do mercado foi abalada pelo pacote de medidas fiscais, que não trouxe garantias suficientes de que o governo será capaz de controlar efetivamente os gastos públicos. Com isso, a expectativa de uma elevação da Selic torna-se uma resposta ao aumento das tensões inflacionárias, agravadas pela depreciação do real. A falta de clareza sobre as ações fiscais do governo fez com que muitos investidores ficassem receosos sobre a capacidade do país de atingir a estabilidade econômica, o que culminou na fuga de capital estrangeiro.

A avidez do mercado por decisões fiscais claras

Com a recente alta do dólar, a atenção agora se volta para as medidas que o Banco Central tomará para controlar a volatilidade cambial e, possivelmente, reduzir os impactos da inflação. O Banco Central anunciou que realizará leilões de swap cambial tradicional, com o objetivo de rolar o vencimento do contrato que está previsto para janeiro de 2025. Embora essas ações ajudem a estabilizar momentaneamente o mercado, os investidores aguardam ansiosamente uma posição mais firme do governo sobre o ajuste fiscal.

Além disso, a preocupação com o fluxo de capital estrangeiro se intensifica. Com o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, os investidores estrangeiros estão cada vez mais relutantes em investir no Brasil enquanto a situação fiscal não for resolvida de maneira definitiva. Isso impede que o país aproveite as condições de “carry trade”, que aproveitam a diferença de juros entre os dois países, o que se reflete diretamente nas expectativas sobre o comportamento da moeda.

Julia Peres

Redatora do Melhor Investimento.