A recente crise do metanol, que já resultou em mortes e diversos casos de intoxicação no Brasil, trouxe preocupação para consumidores e investidores. A tragédia pode alterar os hábitos de consumo de bebidas alcoólicas, levantando dúvidas sobre os efeitos para o setor cervejeiro e, em especial, para a Ambev (ABEV3), líder do mercado no país.

Mortes confirmadas e casos sob investigação

Desde 19 de setembro, autoridades de saúde registraram pelo menos seis mortes associadas ao consumo de bebidas adulteradas com metanol. Além das vítimas fatais, há dezenas de casos suspeitos em apuração. O estado de São Paulo concentra a maior parte das ocorrências, com casos sob investigação e confirmados. Pernambuco notificou possíveis intoxicações, enquanto Distrito Federal e Bahia registraram um caso cada.

O metanol é uma substância altamente tóxica que pode aparecer em destilados como gin e whisky quando há falhas ou adulterações no processo de produção. Já nas bebidas fermentadas, como cervejas e vinhos, os riscos são menores porque não ocorre concentração do álcool na destilação e as leveduras tendem a eliminar o composto. Essa diferença faz com que a ameaça esteja muito mais ligada a destilados do que às cervejas.

Possíveis impactos no consumo de bebidas alcoólicas

O principal questionamento agora é como a crise pode influenciar o comportamento dos consumidores. De um lado, há a possibilidade de migração do consumo de destilados para cervejas, já que não há registros de contaminação no segmento. Essa mudança poderia beneficiar companhias como a Ambev (ABEV3), que concentra grande parte do mercado de cervejas no Brasil.

Por outro lado, analistas alertam que a tragédia pode gerar um efeito contrário: a redução no consumo geral de bebidas alcoólicas, motivada pelo medo e pela desconfiança. Esse impacto seria mais visível no chamado “on trade” — bares, restaurantes e casas noturnas — onde a procura por destilados deve cair de forma imediata.

Ambev (ABEV3) já sente pressão no mercado financeiro

Os reflexos econômicos não demoraram a aparecer. De acordo com levantamento da Quantum, a Ambev perdeu R$ 9,6 bilhões em valor de mercado desde o início da crise do metanol. A queda reforça a cautela dos investidores diante de um ano já difícil para o setor.

Um relatório do JP Morgan, publicado em 3 de outubro, destacou que a produção de bebidas alcoólicas no Brasil caiu 11,8% em agosto, segundo dados do IBGE. O banco avaliou que a notícia soma-se a outros desafios enfrentados pela Ambev, como a retração do consumo no Brasil e no México, além de condições climáticas desfavoráveis.

Na mesma semana, a XP Investimentos rebaixou a recomendação das ações da Ambev (ABEV3) para venda, reduzindo o preço-alvo de R$ 13,40 para R$ 10,90. Entre os fatores citados pela corretora estão o aumento da concorrência, mudanças nos hábitos das novas gerações e até o avanço do uso de medicamentos emagrecedores, que podem reduzir o consumo de álcool.

Grandes marcas podem sair fortalecidas

Apesar da turbulência, alguns especialistas enxergam oportunidades para as grandes cervejarias. Empresas como Ambev e Heineken contam com rígidos controles de qualidade e processos de rastreabilidade, o que as protege de riscos de adulteração e fortalece a confiança do consumidor.

Segundo analistas do setor, marcas consolidadas tendem a ganhar espaço em meio à crise, uma vez que os consumidores buscam segurança e credibilidade. Já pequenos produtores e empresas informais, com menos estrutura para garantir qualidade, podem ser os mais prejudicados pela perda de confiança no mercado.

Achou este conteúdo útil?
Siga o Melhor Investimento nas redes sociais:  Instagram | Facebook | Linkedin