Milei anuncia fim do controle cambial na Argentina até 2026
O presidente da Argentina, Javier Milei, revelou que planeja eliminar o controle cambial até 2026, com a possibilidade de antecipar a mudança, dependendo das negociações com o FMI.

O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou na última segunda-feira, 3 de fevereiro, que pretende eliminar o controle cambial, também conhecido como “cepo cambiario”, até 2026. Este sistema restringe o acesso da população a dólares, limitando a aquisição de moeda estrangeira e afetando diretamente a economia do país. A mudança pode ser antecipada, caso o governo consiga fechar um novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) antes da data prevista. A decisão reflete a busca por estabilidade econômica e maior liberdade cambial, que poderiam impulsionar a recuperação do país após anos de alta inflação e volatilidade financeira.
O que é o controle cambial e como afeta a economia Argentina?
Desde 2019, o controle cambial tem sido uma ferramenta central na política econômica da Argentina, em resposta à crescente escassez de dólares e à desvalorização do peso argentino. O “cepo cambiario” foi implementado como uma medida para evitar a fuga de capitais e controlar as reservas internacionais do país, que estavam em queda. A prática restringe a compra de dólares para cidadãos e empresas, obrigando a economia local a operar majoritariamente com a moeda nacional, o peso, em um cenário de inflação elevada e desconfiança na moeda.
O impacto dessa política é notável, já que, devido à inflação galopante, muitos argentinos veem o dólar como um valor seguro para proteger seus ativos. A restrição no acesso a essa moeda tem gerado distorções no mercado, com a criação de um mercado paralelo, o “dólar blue”, que tem uma cotação muito mais alta do que a oficial, refletindo a desconfiança nos mecanismos econômicos do governo.
Quando o controle cambial deve ser eliminado?
Milei indicou que a eliminação do controle cambial está prevista para 2026, mas se houver sucesso nas negociações com o FMI, a mudança pode ocorrer antes dessa data. O presidente está buscando um novo acordo com o FMI, relacionado ao empréstimo de US$ 44 bilhões feito pelo governo anterior, que tinha como objetivo estabilizar as finanças do país. A negociação de um novo acordo com o FMI é vista como uma chave importante para implementar mudanças econômicas mais profundas, incluindo a flexibilização das políticas cambiais.
Essa possibilidade de antecipação do fim do controle cambial levanta esperanças no mercado financeiro, que espera uma maior liberdade de movimento para o capital e a eliminação das distorções provocadas pelas restrições cambiais.
Como a medida afeta a economia Argentina e o mercado?
A eliminação do controle cambial pode ser um passo fundamental para a recuperação econômica da Argentina, um país que enfrenta uma das inflações mais altas do mundo. Para o banco Bradesco BBI, essa mudança traria estabilidade ao mercado financeiro, com um impacto positivo no crescimento da economia, na desaceleração da inflação e na aceleração do crédito. Além disso, o banco acredita que a flexibilização das políticas cambiais ajudará nas negociações com o FMI, criando um ciclo virtuoso que pode resultar em maior confiança no mercado.
A redução do “crawling peg”, uma medida que diminui a desvalorização diária do peso, também faz parte dessa estratégia de estabilização econômica. O governo argentino já reduziu o ritmo de desvalorização do peso de 2% para 1%, e a medida está sendo vista como um passo inicial para alcançar a meta de eliminar o controle cambial nos próximos anos.
A repercussão no setor de petróleo, gás e energia
Além dos impactos diretos sobre o mercado financeiro, a flexibilização do controle cambial também deve beneficiar setores chave da economia argentina, como o petróleo e gás. O Bradesco BBI observou que, com a estabilidade proporcionada pela redução das restrições cambiais, empresas como YPF e Vista poderão ter mais condições de oferecer dividendos estáveis e expandir suas operações. Esse cenário favorece, ainda, o aumento da oferta de sondas no país, o que pode reduzir os custos de perfuração e estimular a produção de petróleo.
A mudança no controle cambial também abre um espaço favorável para empresas como a Raízen (RAIZ4), que está considerando vender sua operação de combustíveis na Argentina. O fim das distorções cambiais poderia proporcionar um ambiente mais previsível para essa transação, ajudando na desalavancagem da companhia.