Azul (AZUL4) despenca após prejuízo bilionário no 1T25
A Azul (AZUL4) apresentou um prejuízo líquido ajustado de R$ 1,82 bilhão no primeiro trimestre de 2025, bem acima das expectativas do mercado.

As ações da Azul (AZUL4) registraram forte queda nesta quarta-feira (14) após a companhia aérea divulgar seus resultados do primeiro trimestre de 2025. O balanço trouxe números que desagradaram o mercado, em especial um prejuízo líquido ajustado muito acima do esperado, levando os papéis da empresa a caírem mais de 14% na B3.
Ações da Azul (AZUL4) caem mais de 14% após balanço decepcionante
Às 11h05 (horário de Brasília), as ações da Azul (AZUL4) operavam com queda de 14,69%, cotadas a R$ 1,22. O tombo reflete a frustração dos investidores com os resultados do 1T25, especialmente diante da piora nas margens operacionais e do aumento expressivo na alavancagem da companhia.
O desempenho negativo reforça a sequência de volatilidade dos papéis da empresa nos últimos meses, enquanto investidores acompanham de perto o plano de reestruturação de dívidas da Azul, que tenta manter a sustentabilidade financeira sem recorrer à recuperação judicial, como fizeram outras concorrentes do setor aéreo.
Prejuízo ajustado salta e pressiona resultados da Azul
A Azul encerrou o primeiro trimestre com um prejuízo líquido ajustado de R$ 1,82 bilhão, um aumento significativo em relação aos R$ 324 milhões negativos registrados no mesmo período de 2024. O resultado foi considerado uma surpresa negativa pelo mercado, sendo 5,66 vezes maior que o prejuízo do ano anterior.
Apesar do prejuízo ajustado, o resultado líquido sem ajustes ficou positivo em R$ 783 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 1,12 bilhão registrado um ano antes. A reversão se deve a efeitos não recorrentes e contábeis, o que torna o número menos representativo do desempenho real da operação.
Desempenho operacional decepciona com queda no Ebitda
Outro ponto que chamou a atenção foi a queda de 29,4% no Ebitda, que totalizou R$ 1,38 bilhão no trimestre. A margem Ebitda caiu de 30,3% para 25,7%, mesmo com a receita líquida subindo 15,3%, alcançando R$ 5,39 bilhões. Esse avanço na receita ocorreu mesmo com uma retração de 3,5% no yield, que representa o valor médio das passagens aéreas.
Segundo analistas, a queda no Ebitda refletiu um aumento de custos operacionais, especialmente o CASK ex-combustível (custo por assento-quilômetro), que ficou 9% acima das projeções do mercado.
Azul enfrenta alta alavancagem e dívida bilionária
A companhia aérea terminou o trimestre com uma alavancagem financeira de 5,2 vezes, acima das 3,7 vezes registradas no mesmo período de 2024. O aumento é atribuído principalmente à desvalorização do real frente ao dólar, que encarece o serviço da dívida em moeda estrangeira.
A dívida bruta da Azul somava R$ 34,7 bilhões ao final de março. Caso se concretize a conversão de parte dessa dívida em ações — uma das estratégias previstas no plano de reestruturação em negociação com credores —, a alavancagem cairia para cerca de 4,4 vezes.
A Azul é, até o momento, a única companhia aérea entre as grandes do Brasil que não solicitou recuperação judicial, o que fortalece sua posição, ainda que os desafios financeiros permaneçam intensos.
Caixa encolhe e liquidez preocupa analistas
O caixa da Azul fechou o trimestre em R$ 3,3 bilhões, uma redução de 19% em relação ao final de 2024. A liquidez imediata recuou para R$ 2,3 bilhões, frente aos R$ 3,1 bilhões do último trimestre do ano passado — movimento considerado sazonal, mas que ainda assim gera atenção dos analistas.
Esse cenário pode comprometer a capacidade da companhia de enfrentar adversidades no curto prazo, o que se soma às incertezas quanto à reestruturação de sua dívida e potencial diluição acionária.
Bancos destacam riscos e mantêm postura cautelosa com AZUL4
O JPMorgan classificou os resultados da Azul como decepcionantes, com o Ebitda 19% abaixo das estimativas do banco e 17% abaixo do consenso de mercado. A instituição também destaca os riscos relacionados ao plano de gestão de passivos da empresa, que pode levar a uma diluição superior a 80% para os acionistas atuais.
O Goldman Sachs manteve recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 4,60, o que representa um potencial de valorização de 222% sobre os valores atuais. No entanto, o banco apontou que o Ebitda da Azul ficou 20% abaixo das expectativas, com impacto negativo vindo de problemas com fornecedores e aumento de custos com passageiros.
Azul mantém projeção anual, mas não comenta guidance
Apesar do desempenho fraco no 1T25, a Azul não revisou oficialmente seu guidance para o ano. O mercado entende que a empresa deve manter a projeção de Ebitda de R$ 7,4 bilhões para 2025, ligeiramente acima da estimativa do JPMorgan, que está em R$ 7,3 bilhões. A ausência de comentários específicos reforça essa percepção, mas também levanta dúvidas sobre a capacidade da companhia de cumprir esse objetivo.
Frota cresce, mas yield recua
No primeiro trimestre, a frota da Azul cresceu em três aeronaves, totalizando 184 aviões em operação. Por outro lado, o yield médio caiu 3,5%, refletindo uma leve pressão sobre o valor dos bilhetes aéreos, em um cenário ainda desafiador para o setor.