Argentina: seca histórica eleva preço do dólar e põe país em alerta
Nas últimas semanas, aumentou a preocupação com a possibilidade de uma crise econômica na Argentina, semelhante ao colapso ocorrido em 2001/2002. Dentre os fatores que podem desencadear a turbulência, destacam-se a inflação descontrolada – que atingiu 104,3% em 12 meses até março – a crescente valorização do dólar, que já ultrapassa os 400 pesos, e […]
Nas últimas semanas, aumentou a preocupação com a possibilidade de uma crise econômica na Argentina, semelhante ao colapso ocorrido em 2001/2002.
Dentre os fatores que podem desencadear a turbulência, destacam-se a inflação descontrolada – que atingiu 104,3% em 12 meses até março – a crescente valorização do dólar, que já ultrapassa os 400 pesos, e a pior seca no país desde 1929.
Além disso, os conflitos internos, marcados pela disputa de poder entre o presidente Alberto Fernández e sua vice, Cristina Kirchner, continuam intensos. Como resultado, as projeções para o PIB argentino foram revisadas de 2% a 3% para zero este ano.
Em meio à crise, Fernández anunciou que não irá disputar a reeleição nas eleições marcadas para 22 de outubro e se comprometeu a entregar a faixa presidencial para quem quer que vença a disputa.
Dante Sica, ex-ministro da Produção do governo de Mauricio Macri (2015-2019) e assessor da pré-candidata presidencial da oposição Patricia Bullrich, acredita que a Argentina pode estar se encaminhando para um “evento explosivo”.
Segundo ele, a situação internacional se deteriorou no primeiro trimestre e as expectativas pioraram muito. Internamente, a situação também está mais complexa, podendo levar a uma forte desvalorização da moeda e a uma inflação mensal de até 30%.
Ainda de acordo com o economista, o governo não pode adiar a resolução da crise até as eleições. E a opinião da Casa Rosada é a mesma. Durante uma reunião com Wendy Sherman, do Departamento de Estado dos EUA, o ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, afirmou que a seca “nos deixou sem os dólares que esperávamos receber até as eleições” e que a economia do país está sem uma âncora.
Crise na agropecuária argentina e dólar acima de 400 pesos
Durante a mesma reunião com Wendy Sherman, o ministro da Economia argentino Sergio Massa teria solicitado a antecipação dos reembolsos do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a assistência de outros organismos internacionais.
Fontes do governo confirmaram que na última semana o dólar paralelo (também conhecido como “blue”, um dos 48 tipos de dólar no país) ultrapassou a marca dos 400 pesos, ao mesmo tempo em que as reservas líquidas do Banco Central da República Argentina (BCRA) estão praticamente esgotadas.
O ministro da Economia argentino afirmou que o governo tem reservas suficientes para atuar no mercado cambial por apenas duas ou três semanas. A situação do Banco Central da República Argentina foi agravada pela decisão dos produtores rurais de reduzir a liquidação de divisas provenientes de exportações, em uma manobra especulativa, aguardando um retorno maior no futuro. As divisas do setor agropecuário são cruciais para as operações do banco central argentino.
Os produtores rurais argumentam que o governo utiliza a cotação oficial do dólar (que é mais baixa) para efetuar os pagamentos, enquanto os custos dos insumos e outras despesas acompanham a cotação do mercado paralelo, que é mais alta, como ocorre com a maioria dos produtos.
Daniel Pelegrina, que já presidiu a Sociedade Rural e é produtor agropecuário e consultor em agronegócios, estima que a produção de grãos terá uma queda de 34%, o que resultará em uma perda de 45 milhões de toneladas.
O ex-presidente da Sociedade Rural avalia que o problema é que a renda do produtor desabou 90%, enquanto os tributos caíram apenas 37%. Nossa esperança, como produtores, está no futuro e em uma mudança de governo, que traga regras mais proativas. É muito difícil operar com estas variações do dólar — diz Pelegrina.