Alta dos fertilizantes preocupa agricultores e pressiona safra 2025/2026 no Brasil
A alta dos fertilizantes causada pelo conflito entre Irã e Israel preocupa os agricultores brasileiros na preparação da safra 2025/2026.

A alta dos fertilizantes tem gerado grande apreensão no setor agrícola brasileiro, especialmente entre os produtores que se preparam para iniciar a safra 2025/2026 já em setembro. O aumento dos custos é consequência direta da instabilidade geopolítica no Oriente Médio, com destaque para o conflito entre Irã e Israel. A tensão na região afeta a produção e o transporte de insumos essenciais, como a ureia, trazendo reflexos imediatos aos bolsos dos agricultores brasileiros.
Leia também: Ações do Setor de Alimentos e Agronegócio para Investir na B3
Conflito no Oriente Médio paralisa produção e eleva custos
A escalada de tensão entre Irã e Israel já apresenta impactos concretos na oferta de fertilizantes. De acordo com relatório recente da consultoria StoneX, a produção de ureia foi suspensa tanto no Irã quanto no Egito, dois grandes fornecedores do produto. No caso egípcio, a paralisação está associada à interrupção do fornecimento de gás natural israelense, insumo essencial para a produção de fertilizantes nitrogenados. Já no Irã, o cenário de guerra levou ao fechamento temporário de fábricas de ureia e amônia, por questões de segurança.
O Brasil, que depende fortemente da importação desses insumos, sente os efeitos quase imediatos. Estima-se que cerca de 17% a 20% da ureia utilizada nas lavouras brasileiras venha do Irã, o que torna o país ainda mais vulnerável aos desdobramentos do conflito.
Poder de compra dos produtores atinge pior nível em dois anos e meio
Além do impacto direto na oferta, a alta dos fertilizantes compromete o poder de compra dos produtores rurais. De acordo com análise da Mosaic Fertilizantes, o índice que mede a capacidade dos agricultores de adquirirem insumos atingiu o nível mais baixo dos últimos 30 meses. A razão principal está na combinação entre a queda nos preços das principais commodities agrícolas, como a soja e o milho, e a disparada nos custos dos adubos.
Segundo a StoneX, um produtor que em março de 2025 precisaria vender 28 sacas de soja para comprar uma tonelada de MAP (fertilizante à base de nitrogênio e fósforo), hoje precisa vender 31 sacas — um aumento significativo na relação de troca. Esse cenário preocupa, principalmente porque muitos agricultores ainda não garantiram todos os insumos necessários para o segundo semestre. Apenas 61% das compras já foram realizadas, e nem todos os pedidos foram entregues.
Logística internacional enfrenta gargalos e encarece fretes
Outro fator que agrava a situação é a logística. Com a ameaça do Irã de fechar o Estreito de Ormuz, rota crucial para o transporte de petróleo e fertilizantes, o custo do frete marítimo disparou. Segundo Evandro Turatto, diretor da Next Shipping, os afretadores já estão cobrando o dobro para cruzar a região. Nos últimos dez dias, o valor do frete de contêineres fracionados aumentou em média 30%.
Turatto alerta que, caso o conflito se intensifique, o mundo poderá enfrentar uma crise de cadeia de suprimentos sem precedentes, com consequências ainda mais severas que as vistas durante a pandemia. Essa conjuntura atinge diretamente o agronegócio brasileiro, que depende fortemente de uma logística internacional eficiente para manter a produtividade.
Milho e soja podem ser afetados, mas não há previsão de escassez
Apesar do cenário preocupante, especialistas evitam prever um cenário de escassez. Francisco Vieira, analista da Agroconsult, afirma que ainda é cedo para concluir se os custos mais altos resultarão em redução das áreas plantadas de soja e milho. No entanto, ele admite que o maior problema enfrentado pelos produtores neste momento é o preço, não a disponibilidade dos fertilizantes.
Vieira também ressalta que o Brasil pode contar com fornecedores alternativos fora do Oriente Médio, como a China e o Marrocos, o que reduz o risco de desabastecimento. No entanto, o processo de substituição não é imediato e pode não compensar totalmente a pressão nos preços.