Um processo judicial ganho pode representar milhões a receber, mas também pode significar anos de espera até que o valor seja pago. Nesse intervalo, o dinheiro existe no papel, mas não circula. Foi diante desse cenário que surgiu a Artemis, uma startup brasileira que decidiu transformar esses créditos judiciais em ativos financeiros negociáveis, abrindo um novo universo de oportunidades para investidores e credores.

Unindo tecnologia, análise de dados e uma abordagem inovadora do sistema jurídico, a Artemis se destaca como uma legaltech que atua na fronteira entre o Direito, o mercado financeiro e a transformação digital.

No Melhor Investimento, você vai conhecer como a empresa funciona, como surgiu, os riscos e oportunidades desse modelo e por que ela chama tanta atenção dentro do ecossistema de fintechs e legaltechs.

O que são créditos judiciais e ativos financeiros?

Créditos judiciais são valores que pessoas físicas ou jurídicas têm a receber após uma decisão favorável em um processo.

Na prática, é o reconhecimento formal de que existe uma dívida, muitas vezes milionária, a ser paga pela parte vencida. No entanto, esse pagamento pode levar anos para se concretizar, especialmente quando envolve entes públicos ou grandes corporações.

A proposta da Artemis é dar liquidez a esses créditos, transformando-os em ativos financeiros. O credor recebe uma parte antecipada do valor e transfere o direito de recebimento à empresa.

A Artemis, por sua vez, estrutura esse crédito como um produto financeiro que pode ser negociado com investidores, funcionando de forma semelhante à securitização.

Essa abordagem não apenas beneficia o credor, que passa a contar com recursos financeiros de forma mais ágil, mas também cria um novo tipo de ativo alternativo para o mercado, diversificando possibilidades de investimento e movimentando valores antes presos à morosidade judicial.

Como surgiu a startup Artemis

Fundada em 2023, a Artemis surgiu da união das competências de seus fundadores, Bruno Bitelli, Eduardo Ferrari e Giuliano Giuzio, que combinam experiências em tecnologia, inteligência artificial, investimentos e crédito judicial.

A proposta inicial era desenvolver uma inteligência artificial capaz de substituir análises humanas no cálculo de provisionamento de ações judiciais, oferecendo precisão estatística na tomada de decisão. A ideia ganhou tração e, entre 2021 e 2022, a equipe desenvolveu a tecnologia que daria base ao negócio.

A Artemis foi oficialmente lançada em outubro de 2023 com um MVP voltado à originação de crédito judicial, processo de identificar oportunidades de compra de ativos legais, e operou de forma discreta até fevereiro de 2025.

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Brasil possui mais de 83 milhões de processos em andamento, um oceano de potenciais ativos que, até então, permaneciam estagnados.

Para Bitelli, CEO da Artemis, esse volume demonstra o enorme espaço para inovação:

“O mundo jurídico está acostumado a fazer predições mais conservadoras porque ninguém tem certeza do que vai acontecer. Os advogados desenvolvem modelos próprios, em suas cabeças, a partir de suas experiências, mas isso se limita a uma estimativa, faltam dados para embasar as decisões. Nossa proposta de valor é predizer com alta precisão o movimento do judiciário”.

Tecnologia, análise de dados e uso de IA na precificação

A principal força da Artemis está no uso estratégico da tecnologia. Sua plataforma é capaz de mapear milhões de processos judiciais por mês, utilizando algoritmos próprios que cruzam informações jurídicas, comportamentais e históricas de tribunais e juízes.

A inteligência artificial da startup é treinada com dados públicos, o que permite avaliar com precisão fatores como:

  • Tempo médio de tramitação;
  • Probabilidade de ganho de causa;
  • Valor estimado do retorno;
  • Riscos jurídicos envolvidos.

Atualmente, cerca de 10 mil processos são analisados por dia, com o objetivo de atingir 40 mil análises diárias até o fim de 2025. A IA consegue, por exemplo, estimar o tempo provável de recebimento de um crédito judicial e sugerir uma precificação justa. Isso permite à Artemis tomar decisões rápidas e com alto grau de precisão em um setor historicamente marcado por incertezas.

Outro diferencial importante é o foco em ativos pulverizados e de menor valor, que costumam ser ignorados por grandes gestoras, geralmente interessadas apenas em processos de centenas de milhões de reais. Ao atacar esse nicho, a Artemis amplia o alcance do mercado e democratiza o acesso à antecipação de crédito judicial.

Além disso, a empresa desenvolve soluções baseadas em blockchain, com foco na tokenização de créditos judiciais. Esse modelo permite a negociação fracionada dos ativos, trazendo mais liquidez e acesso a investidores de diferentes perfis.

Performance financeira e tração de mercado

A trajetória da Artemis tem sido marcada por crescimento acelerado e reconhecimento de mercado. Em fevereiro de 2025, a startup atingiu o ponto de equilíbrio, apenas quatro meses após o lançamento oficial do produto, impulsionada por um aporte de capital vindo de um investidor estrangeiro.

Os números da operação impressionam: mais de 4 milhões de ativos mapeados mensalmente, com expectativa de atingir 10 milhões até o final do ano.

Atualmente, a empresa conta com cinco gestoras de crédito como clientes recorrentes, além de cerca de 30 escritórios de advocacia com parcerias fixas e três departamentos jurídicos corporativos que operam com a startup de forma contínua.

A monetização da empresa ocorre por meio de três frentes: taxa pela originação dos ativos, participação no resultado da operação e cobrança por consultoria especializada.

Bitelli afirma que a estratégia da Artemis não é simplesmente expandir o número de clientes, mas aumentar a profundidade dos negócios gerados com cada parceiro. Com uma equipe de 22 pessoas atualmente, a empresa projeta crescer para 35 colaboradores até o final de 2025, com reforço especial no time de tecnologia e IA.

Oportunidades de investimento e riscos associados

O modelo da Artemis cria um novo tipo de ativo financeiro para investidores que buscam diversificação com retorno acima da média.

A startup estrutura operações com risco mensurado por dados e tecnologia, reduzindo a exposição a perdas e aumentando a previsibilidade. Além disso, ao oferecer ativos baseados em decisões judiciais com elevado grau de segurança, ela conquista espaço entre investidores mais conservadores.

Entre os principais diferenciais e pontos de atenção do modelo, destacam-se:

  • Uso intensivo de dados e IA na precificação dos ativos, aumentando a previsibilidade das operações.
  • Atratividade para perfis conservadores, ao estruturar ativos baseados em decisões judiciais já avançadas.
  • Estruturação em parceria com gestoras e securitizadoras, o que agrega segurança jurídica e financeira às operações.
  • Riscos inerentes, como:
    • Atrasos no recebimento, mesmo após a sentença favorável.
    • Mudanças legislativas que podem impactar a viabilidade dos ativos.
    • Possibilidade de imprecisões na precificação em casos atípicos ou com variáveis incomuns.

Ainda assim, a proposta da Artemis se diferencia pela maneira como estrutura cada operação e pelo potencial de escala. A empresa já sinalizou a intenção de buscar um novo aporte, entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões ainda em 2025, para:

  • Expandir a equipe;
  • Aumentar a oferta de produtos;
  • Entrar em novos segmentos do Direito, como fiscal, falências e recuperações judiciais.

O que investidores devem saber sobre legaltech

O setor de legaltechs cresce em ritmo acelerado no Brasil, impulsionado pela digitalização da Justiça e pela busca por eficiência no setor jurídico. Startups como a Artemis mostram que o Direito pode ser muito mais do que um ambiente de litígio: pode ser fonte de valor, de inovação e de retorno financeiro.

O uso de inteligência artificial, tokenização e análise preditiva transforma um mercado tradicionalmente fechado em um ecossistema vibrante, acessível e atrativo para investidores institucionais e de varejo.

Para quem busca ativos alternativos não correlacionados com o mercado tradicional, o universo jurídico-financeiro se mostra uma nova fronteira.

A Artemis, com sua estrutura robusta, equipe multidisciplinar e visão clara de mercado, desponta como protagonista dessa transformação.

Onde a Artemis pode chegar

O que começou como um grupo de estudos entre três jovens empreendedores se tornou uma empresa com base tecnológica sólida, carteira ativa de clientes e um mercado gigantesco pela frente.

Ao transformar créditos judiciais em ativos negociáveis, a Artemis está criando um novo paradigma: o de que o Judiciário pode, sim, ser uma fonte de liquidez e dinamismo econômico.

A combinação entre inteligência artificial, ciência de dados, direito e finanças coloca a empresa na linha de frente de uma revolução silenciosa, mas poderosa. Para investidores, é uma chance de participar de algo novo, que já mostra resultados, mas ainda tem muito espaço para crescer.

Se a Artemis mantiver o ritmo e a visão estratégica que demonstrou até aqui, não é exagero pensar que ela poderá, em breve, se tornar referência global no segmento de ativos judiciais.

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Carolina Gandra

Jornalista do portal Melhor Investimento, especializada em criptomoedas, ações, tecnologia, mercado internacional e tendências financeiras. Transforma temas complexos como blockchain, inteligência artificial e estratégias de mercado em conteúdos acessíveis e envolventes. Com análises atuais e visão estratégica, ajuda leitores a decifrar o futuro dos investimentos e identificar oportunidades no mercado financeiro.