Lula descarta privatizar Correios e estuda plano para conter prejuízos
Lula descarta a privatização dos Correios e defende reestruturação para recuperar a estatal. Veja o plano do governo e os números da crise.
Imagem: Blog dos Correios/Reprodução
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou, nesta quarta-feira (18), qualquer possibilidade de privatização dos Correios. Em declaração durante um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, o chefe do Executivo afirmou que o governo discute uma reestruturação da estatal, que enfrenta graves dificuldades financeiras.
Segundo Lula, o objetivo é tornar a empresa “totalmente de pé e produtiva para o país”, sem abrir mão do controle público.
Os números financeiros dos Correios mostram um agravamento contínuo da situação. Em 2023, a estatal registrou prejuízo de R$ 633 milhões, valor que saltou para R$ 2,6 bilhões em 2024. Apenas entre janeiro e setembro de 2025, o déficit chegou a R$ 6 bilhões, e a projeção é de que o rombo possa alcançar R$ 10 bilhões ao fim do ano.
De acordo com dados oficiais, os Correios respondem por mais de 60% do déficit estimado das estatais federais, que deve chegar a R$ 9,2 bilhões em 2025.
Parcerias são consideradas, mas privatização é descartada
Durante a conversa com jornalistas, Lula reforçou que, enquanto estiver na Presidência, não haverá privatização dos Correios. O presidente destacou, no entanto, que o governo avalia a construção de parcerias com empresas privadas como alternativa para fortalecer a estatal.
Ele citou, inclusive, o interesse de companhias estrangeiras em discutir possíveis colaborações com os Correios, sem detalhar os termos dessas conversas.
“Enquanto eu for presidente não tem privatização. O que pode ter é construção de parceria com empresas. Eu sei que tem empresas italianas querendo vir aqui discutir com os correios”, declarou.
Na avaliação de Lula, parte das dificuldades financeiras enfrentadas pela estatal pode ser consequência de uma gestão inadequada em períodos anteriores. O presidente afirmou lamentar profundamente a situação da empresa e disse que mudanças já começaram a ser implementadas.
“Nós resolvemos colocar a mão na ferida e resolver […]. Vamos tomar as medidas que tiver que tomar, mudar todos os cargos que tiver que mudar”, disse o chefe do executivo.
Governo avalia plano de socorro à estatal
Diante do cenário, o governo federal passou a discutir um plano de socorro aos Correios. As alternativas em análise incluem um aporte direto de recursos públicos ou a contratação de empréstimos junto a bancos, com garantia do Tesouro Nacional.
Relatórios técnicos indicam que a estatal pode fechar o ano com um déficit de R$ 5,8 bilhões, reforçando a necessidade de medidas emergenciais para evitar o agravamento da crise.
O novo presidente dos Correios, Emmanoel Rondon, apresentou a primeira fase de um plano de reestruturação financeira e operacional voltado à sustentabilidade da empresa. O documento aponta a necessidade de um aporte de até R$ 20 bilhões e prevê a redução de cerca de 19% da força de trabalho.
Entre as ações está a implementação de um Programa de Demissão Voluntária (PDV), que pode atingir até 15 mil funcionários.
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Concorrência e falta de investimentos agravaram situação
Segundo Rondon, a crescente concorrência no comércio eletrônico contribuiu significativamente para o desequilíbrio financeiro da estatal. Já a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, afirmou recentemente que a situação foi agravada pelo fato de governos anteriores terem incluído os Correios em listas de possíveis privatizações, o que teria inibido investimentos estruturais.
Em meio à crise, o governo federal editou um decreto que altera regras para a transição entre estatais dependentes e não dependentes do Tesouro Nacional. A medida cria um mecanismo para que empresas com dificuldades financeiras possam reorganizar as contas sem perder imediatamente a autonomia orçamentária.
Segundo o governo, a mudança busca dar maior flexibilidade para a recuperação financeira de estatais estratégicas, como os Correios.