A Eletrobras anunciou nesta quarta-feira (15 de outubro) um novo movimento estratégico: a venda de sua participação minoritária na Eletronuclear para a J&F Investimentos/Âmbar Energia por R$ 535 milhões.

Com isso, a estatal praticamente encerra sua atuação direta no segmento nuclear, transferindo à Âmbar as obrigações, garantias e debêntures relativas à Eletronuclear, estimadas em R$ 2,4 bilhões.

A operação ainda depende de aprovações regulatórias e outros trâmites, mas reflete uma clara redefinição da postura da Eletrobras após a privatização.

Mercado reage positivamente e ações ELET3 sobem

Logo após o anúncio, os papéis da Eletrobras reagiram em bolsa:

  • As ações ELET3 subiram cerca de 2,20 % no meio da sessão.
  • ELET6 também registrou alta.

Os analistas interpretaram que a venda da Eletronuclear elimina um dos “últimos grandes riscos” remanescentes na tese de investimento da empresa.

O JP Morgan já havia observado que a presença da Eletronuclear gerava insegurança entre investidores, especialmente em relação ao futuro dos dividendos e obrigações financeiras.

Impactos contábeis e financeiros: provisão e liberação de capital

No âmbito contábil, a Eletrobras registrará uma provisão de aproximadamente R$ 7 bilhões no 3º trimestre de 2025, já que o valor contábil da Eletronuclear nos seus balanços era estimado em cerca de R$ 7,8 bilhões.

Apesar desse impacto pontual negativo, a empresa argumenta que a operação permite:

  1. Redução de risco jurídico e regulatório atrelado ao setor nuclear;
  2. Liberação de caixa e capital antes alocado em obrigações não estratégicas;
  3. Maior flexibilidade para novos investimentos em geração renovável e transmissão;
  4. Potencial para aumento de dividendos futuros, dependendo da evolução operacional e da alocação de capital.

O Itaú BBA destaca três aspectos positivos da operação: eliminação da obrigação de subscrição de debêntures, liberação de garantias de cerca de R$ 6 bilhões e potencial crédito tributário vinculado à transação.

Estratégia pós-privatização: foco em energia limpa e core business

Este movimento é coerente com a trajetória que a Eletrobras vinha adotando desde sua privatização: desinvestir em ativos não estratégicos e concentrar-se em negócios de energia limpa, transmissão e geração sob controle direto.

A empresa já vinha desfazendo participações em termelétricas e simplificando sua estrutura societária.

Com a Eletronuclear fora do balanço operacional, a Eletrobras fica mais “enxuta” e com menos contingências, o que torna seu perfil mais atraente para investidores de longo prazo.

Desafios e riscos que persistem

Mesmo com o novo movimento, alguns pontos de atenção permanecem:

  • A conclusão definitiva da transação depende de aprovadores regulatórios e pode enfrentar atrasos.
  • A provisão contábil de R$ 7 bilhões pode impactar dados de curto prazo e margens, apesar de ser tratada como efeito pontual.
  • A nova Eletrobras dependerá cada vez mais de gestão eficiente e execução nos projetos de geração renovável e transmissão para compensar a saída do setor nuclear.
  • A volatilidade dos preços de energia ou mudanças regulatórias no setor elétrico podem influenciar fortemente sua performance futura.

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Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.