Queda do déficit fiscal reduz juros neutros nos EUA, afirma diretor do Fed
Em entrevista, ele destacou que a inflação segue com trajetória benigna e que os preços de moradia devem contribuir para a desinflação de serviços.

A redução do déficit fiscal nos Estados Unidos está contribuindo para a queda dos juros neutros, segundo Stephen Miran, diretor do Federal Reserve (Fed). Em entrevista concedida nesta sexta-feira (3) à Bloomberg, o dirigente destacou que esse movimento deixa a política monetária americana em uma posição mais restritiva, influenciando as próximas decisões do banco central sobre os rumos da economia.
Déficit fiscal e juros neutros: impacto direto na política monetária
De acordo com Miran, a diminuição do déficit fiscal tem papel relevante na definição do nível de juros neutros, conceito que representa a taxa de equilíbrio capaz de sustentar o crescimento econômico sem pressionar a inflação. Com essa queda, o Fed passa a adotar uma política mais rígida do que aparenta, mesmo sem mudanças expressivas nas taxas atuais.
O dirigente do Fed ressaltou que as condições financeiras nos Estados Unidos ainda não se encontram totalmente flexíveis, apesar do desempenho positivo do mercado acionário. Esse cenário reforça a necessidade de cautela ao avaliar os próximos passos da política monetária, já que os efeitos do déficit fiscal se somam a outros fatores de impacto sobre a economia.
Política monetária precisa olhar para frente
Durante a entrevista, Miran enfatizou que as decisões do Federal Reserve devem considerar não apenas o cenário atual, mas também as projeções futuras. Ele acredita que parte da pressão inflacionária acumulada nos últimos meses tende a ser revertida, especialmente com a queda nos preços de moradias, setor que exerce influência significativa sobre os custos de serviços.
“Os preços de moradia são um indicador crucial para compreender os choques que afetam a inflação. É nesse ponto que concentro maior atenção, pois reflete diretamente o que as famílias sentem em seu dia a dia”, afirmou o diretor.
Esse posicionamento reforça a ideia de que o Fed pode adotar uma estratégia mais cautelosa, aguardando os efeitos de mudanças estruturais da economia antes de promover ajustes adicionais nos juros.
Inflação segue com trajetória benigna
Apesar das incertezas, Miran avalia que a inflação nos Estados Unidos apresenta uma trajetória considerada benigna. Para ele, as expectativas de médio e longo prazo permanecem ancoradas, fator que contribui para reduzir riscos de descontrole nos preços.
Contudo, o diretor também deixou claro que está atento a possíveis surpresas. Segundo ele, qualquer dado inesperado ou novo choque econômico pode levar a revisões nas projeções, exigindo do Fed flexibilidade em sua política monetária.
Essa visão destaca o papel central do banco central americano na tentativa de equilibrar estímulo ao crescimento e controle da inflação — dois objetivos que frequentemente entram em conflito em momentos de mudanças fiscais e políticas.
Políticas econômicas do governo Trump e seus efeitos
Outro ponto abordado por Miran foi o impacto das recentes medidas do governo Donald Trump na economia. Ele destacou que as políticas comerciais, regulatórias, econômicas e imigratórias têm influenciado os EUA por canais não diretamente ligados à política monetária.
Na avaliação do diretor, tais medidas contribuem para elevar a produtividade e aumentar o Produto Interno Bruto (PIB) potencial do país. Ao mesmo tempo, reduzem parte das pressões inflacionárias que poderiam surgir em um ambiente de maior crescimento econômico.
Esse conjunto de fatores fortalece a ideia de que a economia americana pode sustentar níveis mais elevados de atividade sem provocar aceleração significativa nos preços, cenário que influencia a leitura do Fed sobre os juros neutros.
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