A televisão pode estar perdendo terreno para os streamings, mas está longe de ser irrelevante. Na verdade, a TV americana ainda movimenta bilhões, e isso se reflete diretamente nos salários impressionantes de algumas de suas maiores estrelas.

Um levantamento da Forbes confirmou o poder financeiro desses apresentadores. Eles não apenas superam, mas dominam o mercado de altos salários, deixando para trás muitos atores de sucesso. Juntos, os 25 apresentadores bem pagos da TV americana acumulam uma receita de US$ 582 milhões (R$ 3,11 bilhões).

O mercado televisivo nos EUA

A TV americana já não é o que era. Se antes as emissoras lucravam com séries de sucesso, hoje esse formato migrou quase que totalmente para as plataformas de streaming. A salvação pareceu ser os tradicionais talk shows, ou realities e coberturas esportivas, conteúdos que ainda se encaixam no formato de programação da televisão.

Contudo, o futuro dos tradicionais late night — programas de entrevistas e humor exibidos no fim da noite — já apresenta sinais de desgaste, apontam analistas. A Forbes ilustra esse cenário com o caso do The Late Show with Stephen Colbert, que será encerrado pela CBS em maio de 2026, após três décadas no ar.

Especialistas destacam que, embora os talk shows noturnos ainda mantenham audiência relevante, já não são lucrativos. No caso de Colbert, o programa permanece entre os líderes de audiência em seu horário, mas a emissora decidiu cancelá-lo por razões “puramente financeiras”, reflexo do momento desafiador que o formato atravessa.

Relatórios jornalísticos sugerem que os prejuízos atribuídos ao Late Show podem ultrapassar US$ 40 milhões por ano. Na esteira desse contexto, outras emissoras como a ABC e a NBC cortaram suas programações para quatro dias por semana, independentemente do desejo dos apresentadores.  

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Relevância da tv americana no cenário global

Apesar do cenário desafiador, a influência global da televisão americana continua significativa. Produções de alta qualidade — séries, talk shows, programas esportivos e reality shows — seguem sendo exportadas para diversos mercados, inspirando adaptações locais e definindo tendências culturais. 

Estudos mostram que conteúdos americanos dominam rankings globais de visualização em plataformas VOD, reforçando o soft power dos EUA no entretenimento internacional. No entanto, manter essa relevância custa caro, e o financiamento do modelo tradicional de TV enfrenta obstáculos cada vez maiores:

Declínio na publicidade linear

A publicidade em TV linear (transmissão tradicional) está em queda. Estimativas divulgadas pela Accio apontam que os gastos com anúncios em TV linear nacional nos EUA vão diminuir cerca de 13% em 2025, com projeções de que o investimento em streaming com anúncios (CTV) cresça substancialmente neste mesmo período.

Mudança nos hábitos de audiência

O público, especialmente o mais jovem, tem migrado para o streaming, conteúdos sob demanda ou plataformas híbridas. Isso reduz a audiência linear, o que encarece o custo por mil impressões (CPM) e torna mais difícil para programas tradicionais justificar os altos orçamentos, com base apenas em espectadores ao vivo ou em horários fixos.

Concorrência de formatos e plataformas

Serviços de streaming ou híbridos têm investido em tiers com anúncios, formatos de conteúdo leve, séries produzidas com alcance global e licenciamento internacional. Eles disputam não só a audiência, mas também o investimento publicitário que antes era monopólio da TV tradicional. 

Paralelamente, a TV conectada (CTV) já representa quase metade do consumo de vídeo nos EUA, segundo a Nielsen, impulsionada pelo crescimento do YouTube, que detém 12,8% da participação no país, de acordo com a WARC.

Quem são os apresentadores mais bem pagos da tv americana

Montagem com Tom Brady à esquerda, Jhon Oliver ao centro e Gordon Ramsay à direita.
Brady à esq.; Oliver ao centro; Ramsay à esq.; (Imagem: Instagram/Reprodução/Montagem: MI)

Embora os salários de Hollywood dominem as manchetes, a televisão americana tem suas próprias estrelas financeiras. A Forbes revelou uma lista, mostrando que o sucesso na tela se traduz em ganhos milionários. 

Conheça os 11 apresentadores mais bem pagos dos Estados Unidos e descubra quem comanda o topo do ranking: 

Savannah Guthrie 

  • Salário: US$ 24 milhões. 
  • Programa(s): Today Show.

Aos 53 anos, a também jornalista e advogada comanda o matinal Today e especiais festivos da NBC. Segundo a Forbes, um debate com o então presidente Donald Trump transmitido em 2020, garantiu a Guthrie um significativo aumento salarial. 

Sean Hannity

  • Salário: US$ 25 milhões. 
  • Programa(s): Hannity.

Presente na Fox News desde a fundação da emissora, Sean é um de seus veteranos e um dos comentaristas políticos mais conhecidos. Atualmente à frente do programa Hannity, ele recebe cerca de US$ 25 milhões da TV, mas sua maior fonte de renda vem do The Sean Hannity Show, programa de rádio que lhe gera mais de US$ 30 milhões.

Robin Roberts 

  • Salário: US$ 25 milhões. 
  • Programa(s): Good Morning America.

Co-apresentadora do Good Morning America há 20 anos, a jornalista mantém o programa matinal no topo da audiência. Desde 2012, o programa lidera de forma consistente seu horário de exibição. Antes, perdia para Today Show apresentado por Guthrie. 

Rachel Maddow 

  • Salário: US$ 25 milhões. 
  • Programa(s): The Rachel Maddow Show. 

A comentarista progressista da MSNBC permanece como o rosto principal da emissora. Embora, agora, seja exibido apenas uma vez por semana, o programa continua expandindo sua influência em podcasts e livros.

Michael Strahan 

  • Salário: US$ 26 milhões. 
  • Programa(s): Good Morning America e outros.

Ex-jogador do New York Giants, Strahan hoje coapresenta o Good Morning America e atua como comentarista esportivo em programas da Fox. Seus contratos milionários atualmente superam em muito os rendimentos que obtinha como atleta.

Judy Sheindlin 

  • Salário: US$ 28 milhões. 
  • Programa(s): Judy Justice. 

A juíza, agora octogenária, mantém altos ganhos com Judy Justice no streaming da Amazon, após vender os direitos de seu programa original. Uma das maiores personalidades televisivas dos EUA, Sheindlin já chegou a faturar US$ 45 milhões, no auge do programa Judge Judy.

Ryan Seacrest

  • Salário: US$ 29 milhões. 
  • Programa(s): Wheel of Fortune e American Idol.

Seacrest ainda é um dos maiores nomes da TV americana. Além de seguir no “American Idol” e apresentar o popular “Wheel of Fortune”, programa que assumiu em 2024, ele ainda tem outras fontes de renda milionárias. A Forbes revela que seu programa de rádio, o “On Air With Ryan Seacrest”, rende a ele mais de US$ 10 milhões por ano.

John Oliver 

  • Salário: US$ 30 milhões. 
  • Programa(s): Last Week Tonight.

O britânico comanda o “Last Week Tonight”, talk show noturno vencedor de 30 Emmys na última década. Em virtude do sucesso do programa, o apresentador ganha quase o dobro do que outros nomes famosos do mesmo formato, segundo a Forbes. 

Guy Fieri 

  • Salário: US$ 33 milhões; 
  • Programa(s): Diners, Drive-ins and Dives e outros. 

Guy Fieri abre a trinca de chefs celebridades empatados em segundo lugar na lista de apresentadores mais bem pagos da Forbes. No final de 2023, foi revelado que ele assinou um contrato de três anos com o Food Network no valor de US$ 100 milhões (R$ 535 milhões), um acordo que levou concorrentes a buscar remunerações semelhantes.

Bobby Flay

  • Salário: US$ 33 milhões; 
  • Programa(s): Bobby’s Triple Threat; Beat Bobby Flay e BBQ Brawl.

Também em segundo lugar, o chef Bobby Flay tem um novo e gordo contrato para comemorar. Em novembro, ele renovou o acordo para igualar seus ganhos aos de Guy Fieri. O salário astronômico de Flay agora inclui não só os cachês por aparições, mas também a participação em seus programas de culinária e em negócios paralelos, como produtos e restaurantes.

Gordon Ramsay 

  • Salário: US$ 33 milhões; 
  • Programa(s): Hell’s Kitchen, MasterChef e outros. 

Conhecido pelo temperamento explosivo, Ramsay construiu um império nas telas. Atualmente lidera diversos programas culinários, incluindo Hell’s Kitchen e MasterChef. Com oito estrelas Michelin, o escocês é um nome de peso no mundo gastronômico, e fecha o trio de chefs celebridades no ranking da Forbes. 

Tom Brady 

  • Salário: US$ 37,5 milhões; 
  • Programa(s): jogos de futebol americano e outros eventos esportivos.

O ex-astro da NFL, Tom Brady, é, atualmente, o apresentador mais bem pago da TV americana. Como comentarista de jogos ao vivo e embaixador da Fox, ele assinou um contrato bilionário com a emissora. 

O valor exato do acordo é praticamente incalculável, já que parte de sua remuneração é paga em ações da empresa, cujo valor tem se valorizado significativamente desde a assinatura. Estima-se que, em reais, o rendimento de Brady ultrapasse a casa dos 200 milhões.

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Tendências e futuro da remuneração em mídia

A remuneração no setor de mídia passa por uma transformação decisiva. Se antes parecia impensável que comentaristas esportivos ganhassem mais do que atletas em atividade, hoje essa realidade é parte do mercado televisivo. 

As emissoras desembolsam bilhões pelos direitos de transmissão, já que as partidas esportivas lideram os índices de audiência. Nesse cenário, investir milhões em apresentadores e analistas tornou-se uma estratégia para reforçar a qualidade das transmissões e garantir acesso aos jogos mais valiosos.

Estrelas que movimentam contratos milionários

Um exemplo é Tom Brady, contratado pela Fox para ser o grande nome das transmissões da NFL após a saída de Troy Aikman e Joe Buck para a ESPN. O movimento ilustra como a disputa por talentos está diretamente ligada à competição entre emissoras pelos eventos esportivos mais prestigiados. Para especialistas, como Neal Zuckerman, do Boston Consulting Group, existe, porém, um limite: “há um teto para o quanto é possível investir em conteúdo e ainda manter o negócio lucrativo”.

Avanço feminino entre os mais bem pagos

A lista de profissionais com maiores salários também reflete mudanças de representatividade. Nomes como Judy Sheindlin, Rachel Maddow e Robin Roberts figuram entre as dez personalidades mais bem remuneradas da TV. Já Savannah Guthrie e Kelly Ripa aparecem entre os quinze primeiros lugares, reforçando a presença feminina em posições de destaque.

O impacto do streaming e novos modelos

Apesar dos contratos milionários da TV, especialistas apontam que essa fase pode estar perto do fim. Plataformas digitais como YouTube e serviços de streaming oferecem outro modelo de remuneração, baseado em divisão de receita publicitária — em geral, 55% para os criadores. Esse formato estimula apresentadores a manterem maior autonomia e controle editorial, como no caso de Pat McAfee, que licencia seu talk show diário à ESPN, mas preserva direitos sobre o conteúdo.

Futuro da remuneração em mídia

A tendência aponta para acordos mais flexíveis, nos quais talentos utilizam seu poder de audiência para negociar diretamente com plataformas, reduzindo a dependência de contratos fixos da TV. A remuneração, antes centralizada nos grandes canais, tende a se fragmentar entre múltiplos formatos e canais digitais, acompanhando a mudança no consumo de mídia.

Late Nights em queda, mas salários em alta 

Embora não figurem entre os dez mais bem pagos da televisão, alguns nomes do formato late night continuam recebendo cifras expressivas. John Oliver é a exceção. Como visto, ele aparece com um salário anual de US$ 30 milhões (cerca de R$ 160,5 milhões), ficando atrás apenas dos chefs celebridades e do ex-quarterback Tom Brady.

Outros apresentadores também marcam presença na lista dos 25 mais bem remunerados pela Forbes. Jimmy Fallon recebe aproximadamente US$ 16 milhões (R$ 85,6 milhões) pelo The Tonight Show, mesmo valor pago a Jimmy Kimmel pelo Jimmy Kimmel Live!. Já Stephen Colbert fatura cerca de US$ 15 milhões (R$ 80,2 milhões) com o The Late Show.

Esses números reforçam que, apesar do desgaste do modelo tradicional de televisão, o gênero ainda movimenta receitas significativas para as emissoras. Contudo, especialistas apontam que o futuro dos late nights é incerto, já que muitos programas não conseguem mais gerar o mesmo nível de lucro de décadas anteriores.

Em uma medida de contenção de custos, as emissoras ABC e NBC reduziram suas programações de late night para apenas quatro dias por semana. A decisão, que afetou diretamente os apresentadores, gerou insatisfação. Fallon expressou sua frustração à Forbes, afirmando: “Fiquei chateado. Eu quero fazer cinco dias por semana. Eu amo fazer isso.”

Streaming ultrapassa a TV linear

Em maio de 2025, pela primeira vez na história, o streaming superou a televisão linear em participação no uso total da TV. Segundo levantamento da Accio, as plataformas digitais responderam por 44,8% do consumo, enquanto a TV linear — que inclui transmissão aberta e por cabo — registrou 44,2%.

Apesar da virada simbólica, o modelo tradicional ainda conserva um peso significativo, sobretudo no segmento de audiência com suporte de anúncios: 57,6% contra 42,4% do streaming, favorecido por maior alcance e cargas de publicidade mais robustas.

Força dos eventos ao vivo

Eventos de grande porte continuam sendo a principal fortaleza da TV linear. O Super Bowl LIX, por exemplo, somou 110 bilhões de minutos assistidos de transmissão ao vivo em fevereiro de 2025, reforçando a força desse tipo de conteúdo. As Olimpíadas seguem a mesma lógica, movimentando audiências massivas e oferecendo às emissoras oportunidades únicas de monetização.

Não por acaso, conglomerados como Disney+ e NBCUniversal têm apostado em modelos híbridos, que combinam programação linear e catálogos digitais, usando eventos ao vivo como porta de entrada para o streaming.

Convivência entre formatos e ascensão da CTV

O cenário aponta para uma convivência entre os dois modelos. A TV linear tende a manter relevância por meio de transmissões ao vivo e do avanço dos anúncios endereçáveis, enquanto o streaming continua a expandir seu espaço impulsionado pela personalização e pelo consumo sob demanda.

Paralelamente, a TV conectada (CTV) cresce em ritmo acelerado: os investimentos em publicidade no segmento devem atingir US$ 33 bilhões ainda em 2025, preenchendo as lacunas deixadas pelo alcance decrescente da TV tradicional.

Oportunidades e riscos para investidores no setor de mídia

O setor de mídia nos Estados Unidos vive um momento de transição que abre tanto oportunidades quanto riscos para investidores. De um lado, o crescimento do streaming com anúncios (AVOD e CTV) cria novos fluxos de receita, apoiados na publicidade segmentada e no avanço da TV conectada, que já responde por quase metade do consumo de vídeo no país. 

Além disso, a força global das franquias americanas garante ganhos com licenciamento internacional, formatos exportados e merchandising. 

Por outro lado, o setor enfrenta desafios relevantes: a queda da audiência linear reduz a atratividade da TV tradicional para anunciantes, enquanto os custos de produção e direitos de transmissão seguem em alta. A concorrência intensa entre plataformas também pressiona margens e aumenta o risco de saturação do mercado. 

Para investidores, trata-se de um ambiente em que o potencial de retorno é significativo, mas exige cautela na escolha de empresas com modelos de negócios sustentáveis e diversificação de receitas.

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Lucas Machado

Redator e psicólogo com mais de 3 anos de experiência na produção de artigos e notícias sobre uma ampla gama de temas. Suas áreas de interesse e expertisse incluem previdência, seguros, direito sucessório e finanças, em geral. Atualmente, faz parte da equipe do Melhor Investimento, abordando uma variedade de tópicos relacionados ao mercado financeiro.