As taxas do Tesouro Direto atingiram em setembro o maior nível do ano, elevando a rentabilidade real oferecida aos investidores. O Tesouro IPCA+ 2040, por exemplo, passou a pagar IPCA + 7,28% ao ano (contra 7,13% no fim de agosto).

Diante desse cenário, alguns investidores se perguntam se é hora de aproveitar as taxas elevadas do Tesouro IPCA.

Para descobrir se esse tipo de investimento é indicado para o seu perfil, vamos entender como funciona esse tipo de título, forma de rentabilidade e os fatores macroeconômicos que influenciam suas taxas, além das vantagens e riscos no longo prazo.

Continue a leitura e saiba mais sobre o Tesouro IPCA:

O que é o Tesouro IPCA e como funciona

O Tesouro IPCA é um título público federal do Brasil emitido pelo Tesouro Nacional, parte do programa Tesouro Direto, que une:

Essa combinação garante que o rendimento preserva o poder de compra, pois a inflação é compensada, e você ganha “por cima” dela.

Há duas modalidades principais:

  • Tesouro IPCA+ (sem juros semestrais) – o investidor só recebe os rendimentos (corrigidos pela inflação + taxa fixa) no vencimento do título.
  • Tesouro IPCA+ com juros semestrais – paga cupons a cada seis meses (juros fixos somados à inflação).

Diferença entre Tesouro IPCA+ com juros semestrais e sem

ASPECTOSEM JUROS SEMESTRAISCOM JUROS SEMESTRAIS
Fluxo de caixaSó no vencimentoA cada 6 meses
Volatilidade até o vencimentoGeralmente maior, pois todo o retorno está “acumulado”Tende a variar menos ao longo do tempo, já que há pagamentos intermediários
Ideal para quemPagar objetivos de longo prazo, aposentadoria, reserva de emergência de longo prazoQuem precisa de algum rendimento periódico ou prefere “realizar parte dos ganhos” com cupons
Riscos ao resgatar antes do vencimentoAlta sensibilidade a marcação a mercado – se o mercado de taxas subir, o valor de venda pode sofrer muitoTambém sofre marcação, mas o impacto costuma ser um pouco menor por causa dos cupons já recebidos em parte

Como é feito o cálculo da rentabilidade (IPCA + taxa fixa)

A fórmula do retorno “real” do Tesouro IPCA+ envolve dois componentes:

  1. Inflação acumulada (IPCA) no período que o título fica ativo.
  2. Taxa fixa anual (juros real) contratada no momento da compra.

Então, o rendimento nominal total até o vencimento ≈ (1 + taxa fixa) × (1 + inflação) – 1.

Se você resgatar antes do vencimento, o valor que receberá dependerá do preço de mercado do título, que varia conforme:

  • cenário de taxas de juros no mercado;
  • expectativas de inflação futura;
  • oferta/demanda por títulos públicos.

Além disso, incidem custos como imposto de renda (tabela regressiva) e taxa de custódia da B3.

Por que as taxas do Tesouro IPCA dispararam em 2025?

Vários fatores macroeconômicos e políticos explicam a alta das taxas reais oferecidas:

  • Inflação persistente acima da meta leva os investidores a exigir prêmios maiores para risco de desvalorização.
  • Taxa básica de juros (Selic) alta: quando Selic está elevada, o custo de oportunidade aumenta, e títulos de longo prazo precisam oferecer mais para competir.
  • Percepção de risco fiscal / déficit público crescente. No Brasil, déficit primário elevado e crescimento da dívida pública elevam o risco de crédito percebido, pressionando as taxas para cima.
  • Cenário global de taxas mais altas: investidores globais exigem retorno maior de ativos de países emergentes, inclusive títulos públicos brasileiros.
  • Incertezas políticas: instabilidades ou dúvidas sobre reformas, ou políticas fiscais, afetam o prêmio de risco.

Vantagens do Tesouro IPCA foco no longo prazo

Proteção contra inflação

Como o rendimento é atrelado ao IPCA, o poder de compra do que foi investido está protegido. Se a inflação subir, você “pega isso” no retorno corrigido.

Previsibilidade da rentabilidade real

Se manter o título até o vencimento, você garante que ganhará, acima da inflação, a taxa real contratada. Isso oferece previsibilidade importante para planejamento financeiro (aposentadoria, metas de longo prazo).

Aposentadoria e metas futuras

Para objetivos com prazos de 10-20-30 anos, IPCA+ é excelente pela combinação de proteção inflacionária + taxa real fixa. Específico para quem quer garantir que o valor aplicado não seja corroído pelo aumento geral de preços.

Leia também:

Riscos e cuidados ao investir no Tesouro

Marcação a mercado (volatilidade antes do vencimento)

Se precisar vender antes do vencimento, o valor dependerá do preço naquele momento — taxas de juros, expectativas de inflação e demanda impactam esse preço. Pode ocorrer desvalorização significativa em curto e médio prazo.

Comparação com alternativas: Prefixados, CDBs, FIIs de papel

ALTERNATIVAQUANDO PODE SER VANTAJOSO
Tesouro PrefixadoSe o investidor acredita que as taxas de juros vão cair no futuro — aí, garantir taxa fixa hoje pode render acima do IPCA+ em certas jornadas.
CDBsPara liquidez intermediária ou prazos mais curtos, e se oferecerem rendimento real competitivo; mas normalmente têm tributação e risco de crédito maiores.
FIIs de papelPodem gerar renda mensal, mas com riscos de crédito, vacância, e retorno real incerto dependendo da inflação e dos contratos; mais complexos de comparar diretamente com IPCA+, que é muito mais previsível e seguro.

Quando cada alternativa pode ser mais vantajosa

  • Se você precisa de fluxo de caixa (por exemplo, para complementar a renda), o IPCA+ com juros semestrais pode ser melhor.
  • Se você não vai resgatar cedo, e quer maximizar retorno real, sem interrupções, o IPCA+ sem pagamento semestral pode gerar mais efeito de juros compostos.
  • Se espera que taxas de juros nominais caiam (e inflação moderada), títulos prefixados podem superar o IPCA+ em determinados prazos.
  • Para metas de prazo muito curto, pode ser que Selic ou CDBs de curto prazo ofereçam menor risco.

Como investir no Tesouro IPCA

  1. Abra conta em uma corretora ou banco habilitado para Tesouro Direto.
  2. Acesse a plataforma do Tesouro Direto: verifique os títulos IPCA+ disponíveis e suas taxas reais atuais.
  3. Escolha entre modalidade com ou sem cupons, conforme seu objetivo.
  4. Defina o vencimento que se alinha ao seu horizonte de investimento (5, 10, 15, 20+ anos).
  5. Verifique custos implicados: imposto de renda (regressivo), taxa de custódia da B3, taxas da corretora, e fique consciente sobre risco de resgate antecipado.
  6. Mantenha acompanhamento das expectativas de inflação, juros e situação fiscal, para decisões de rotação ou necessidade de resgate.

Em detalhes no artigo:

Conclusão: para quem o Tesouro IPCA é indicado?

Se você:

  • tem objetivos de longo prazo (aposentadoria, metas daqui a 10-30 anos);
  • quer proteção contra inflação;
  • está disposto a manter o título até o vencimento (ou ao menos sem resgatar em momentos críticos de alta de taxas);
  • não depende do investimento para liquidez imediata ou renda mensal (a menos que opte pela versão com cupons);

… então, sim, o Tesouro IPCA está entre as melhores opções atuais de renda fixa para garantir retorno real, previsível e seguro.

Por outro lado, se você:

  • pode precisar do dinheiro antes;
  • está pessimista com inflação futura ou taxas futuras;
  • acredita que prefixados ou outros ativos vão superar IPCA+ dados os cenários;

… talvez valha fazer uma alocação diversificada, com parte em IPCA+, parte em prefixados ou ativos híbridos, para balancear risco vs retorno.

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Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.