Narcobabies? Veja quem são os famosos que são filhos de criminosos
Em referência a expressão “nepobabies”, os chamados “narcobabies” são filhos de líderes históricos do crime organizado.

Nas redes sociais, o termo narcobabies tem ganhado cada vez mais atenção. A expressão vem sendo utilizada para se referir a filhos de criminosos notórios que, de alguma forma, cresceram sob os holofotes — seja por sua própria projeção pública, seja pelo interesse em torno de suas origens.
A expressão ganhou vasta repercussão na mídia brasileira após a vereadora paulistana Amanda Vettorazzo (UNIÃO) citar publicamente nomes de influenciadores que, segundo ela, seriam “herdeiros diretos das facções criminosas”.
No cruzamento entre crime e fama, estão figuras que despertam fascínio, polêmica e debate público. Afinal, até que ponto o passado de uma família define o futuro de seus descendentes?
“Narcobabies”: polêmica e significado do termo
Em essência, a expressão utilizada inicialmente por Vettorazzo faz alusão aos ditos nepobabies. Seriam aqueles filhos de celebridades que se beneficiam da influência e do prestígio dos pais para ganhar espaço na mídia e no entretenimento.
No caso dos narcobabies, no entanto, a herança é controversa. Em suma, não se trata de fama herdada, mas de um passado criminal que ainda reverbera em algum grau nas suas trajetórias.
Em uma publicação no X (antigo Twitter), a parlamentar mencionou nomes ligados — em maior ou menor grau — a facções como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). Entre os citados, o destaque fica para o rapper Oruam, filho de Marcinho VP (CV), que se encontra no epicentro das discussões envolvendo o tema.
Em mais de uma ocasião, Vettorazzo acusou Oruam de fazer apologia ao crime organizado por meio de suas músicas. O embate, aliás, já resultou em uma queixa registrada contra o artista por difamação, injúria e incitação ao crime, após ele incitar seus seguidores a irem até o perfil da vereadora. “Vamos deixar ela famosa, tropa. Já sabem”, dizia a publicação.
Quem são os narcobabies brasileiros?

Oruam
Com apenas 23 anos, Oruam, nome artístico de Mauro Davi dos Santos Nepomuceno, se firmou como um dos nomes mais populares do trap nacional. Filho de Marcinho VP, líder histórico do Comando Vermelho, sua trajetória artística frequentemente esbarra em questões ligadas ao pai.
Em 2024, causou polêmica ao subir no palco do Lollapalooza com uma camiseta estampando o rosto de Marcinho e a palavra “Liberdade”. O rapper também fez homenagens ao pai em datas como o Dia dos Pais, onde criticou a mídia por tentar “destruir o que esse cara é para mim”.
“Hoje é daqueles dias que eu nem gosto de entrar na internet. Não tenho uma foto com meu pai, não tenho a presença dele, e como se isso não fosse castigo suficiente, a mídia tenta o tempo todo destruir o que esse cara é para mim”, disse Oruam.
Atualmente, Oruam figura entre os artistas mais ouvidos do país. Presente no ranking Billboard Brasil Hot 100, ele também ocupa a 15ª colocação na lista Billboard Brasil Artistas 25.
Raulzeira
Raul Fernandes, ou apenas Raulzeira, é filho do traficante Elias Maluco, tido como “irmão” de Marcinho VP. Tal relação faz com que Raul seja colocado, muitas vezes, por associação, como primo de Oruam. Apesar de não ser um músico de destaque ou ter uma base de fãs massiva, o jovem é frequentemente citado como exemplo do que se convencionou chamar de narcobaby.
Elias Maluco foi preso em 2002 e condenado a mais de 28 anos de prisão pelo brutal assassinato do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, que investigava o tráfico de drogas e a exploração sexual infantil na Vila Cruzeiro.
Raul costuma exibir um estilo de vida marcado pelo luxo: viagens à Europa, roupas de grife, acessórios de ouro — aspectos compartilhados para os seus mais de 180 mil seguidores nas redes sociais.
Um dos elementos que mais chama atenção em sua imagem pública é o uso frequente do número 22, símbolo amplamente relacionado ao Comando Vermelho. O número aparece estampado em cordões, camisetas e até emojis.
Lucas Camacho
Fora do contexto carioca e voltando o olhar para São Paulo, Vettorazzo aponta Lucas Camacho como o herdeiro direto de Marcola — apelido de Marcos Willians Herbas Camacho, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC).
O nome de Lucas ganhou repercussão na mídia após o anúncio de uma possível parceria musical com Oruam. Apesar disso, o jovem, ainda no ensino médio, afirma querer seguir um caminho mais tradicional, demonstrando interesse em cursar economia. Sobre o interesse, diz que sempre teve um “desempenho melhor em matemática do que nas demais disciplinas, o que fez com que eu desenvolvesse um apreço maior por essa área”.
Nas redes sociais, Lucas mantém viva a memória do pai. Em uma de suas postagens fixadas, aparece ainda criança ao lado de uma imagem de Marcola na prisão. A legenda trouxe a seguinte mensagem: “Sinto sua falta que o tempo do relógio não seja violento”.
Em entrevista ao Visão do Corre, acompanhada por seu advogado, Lucas afirmou, aos 16 anos, que enxerga na música um ponto de partida para se libertar do peso negativo associado à “herança”. Declarou que sua meta é usar a música para ressignificar o peso do nome que herdou e mostrar que é “uma pessoa como qualquer outra, com um bom coração e uma índole íntegra”.
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Menções e omissões
Ao listar os chamados narcobabies, Amanda Vettorazzo gerou debates tanto pelas figuras mencionadas, quanto pelas ausências notáveis.
MC Poze do Rodo
Um dos primeiros pontos controversos foi a inclusão de MC Poze do Rodo. Apesar de enfrentar críticas e processos relacionados ao conteúdo de suas músicas, ele não é descendente direto de nenhum grande chefe do tráfico.
A vereadora justificou sua presença na lista alegando que o funkeiro já atuou como “aviãozinho” do Comando Vermelho. O cantor chegou a ser preso por suspeita de envolvimento com a facção. Sua defesa argumentou que a detenção teve motivação preconceituosa, baseada unicamente em sua origem periférica.
Ausência de Gabriel David
No entanto, o que mais repercutiu foi a ausência de um nome, em especial. Internautas criticaram Vettorazzo por não citar Gabriel David, filho de Anísio Abraão David — bicheiro notório, com histórico de prisões em diversas operações.
Gabriel atualmente preside a Liesa (Liga das Escolas de Samba do Rio), cargo que reacendeu discussões nas redes sociais sobre a histórica influência do jogo do bicho nos bastidores do carnaval carioca.
Mesmo negando vínculos com o jogo do bicho no documentário Vale o Escrito (Globoplay), Gabriel David continua envolto em polêmicas sobre sua herança familiar. Casado desde junho de 2025 com a atriz Giovanna Lancellotti, em cerimônia no Cristo Redentor, ele mantém forte presença nas redes, associado ao Carnaval e à elite carioca.
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Debates em torno dos narcobabies
As discussões sobre o conteúdo e a mensagem transmitida nas músicas de artistas como Oruam e Poze do Rodo são complexas e carregadas de nuances, exigindo espaços sérios de debate e reflexão.
Neste contexto, cabe apenas apresentar os principais pontos que vêm sendo levantados pelos diferentes das partes contrapostas. De um lado, a vereadora Amanda Vettorazzo, uma das vozes mais ativas nesse debate, afirma que “organizações criminosas usam a imagem de certos artistas para difundir a cultura do crime e recrutar jovens”.
Por outro lado, há o discurso de que essas músicas têm como objetivo retratar a realidade das favelas e o contexto social em que seus artistas estão inseridos. Críticas direcionadas a esse tipo de produção musical também são vistas, por muitos, como tentativas de silenciar ou criminalizar gêneros como o funk, o rap e o trap.
Projeto Anti-Oruam
A discussão sobre apologia ao crime em letras de música chegou ao campo político com a proposta apelidada de “anti-Oruam”, em referência ao nome artístico do cantor de trap. O projeto foi idealizado por Vettorazzo na Câmara Municipal de São Paulo.
Cláusula Antiapologia em Contratos Públicos
No texto da medida, Vettorazzo argumenta que o projeto “surge da necessidade de garantir que tais eventos sejam promovidos de forma responsável, especialmente no que diz respeito à proteção de crianças e adolescentes”.
Segundo o artigo sexto da proposta, todo evento público acessível ao público infantojuvenil deve conter cláusula que proíba apologia ao crime e ao uso de drogas. O contratado deverá se comprometer formalmente com essa exigência. O descumprimento acarretará a rescisão imediata do contrato, sanções legais e multa correspondente a 100% do valor contratado.
Resposta de Oruam
Oruam reagiu com indignação à proposta e se manifestou nas redes sociais: “Nós cantamos o que vivemos. Até se proibir, nós vamos cantar. Nós somos o ódio”. Em entrevista à CNN Brasil, o cantor declarou que a medida representa uma tentativa de criminalizar todo um gênero musical.
“Vocês não entendem que a lei anti-Oruam não ataca só o Oruam, mas todos os artistas da cena”, disse.
Em resposta direta ao projeto, Oruam lançou a música Lei Anti O.R.U.A.M. Em um dos versos, ele questiona: “Como explicar pra uma criança por que seu herói vive dentro das grades?”. A imagem da faixa no Spotify mostra o rapper outra vez usando uma camisa com a foto do pai e a palavra “liberdade” escrita abaixo.
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