A Argentina deu um passo histórico nesta semana, ao anunciar o fim do controle cambial, popularmente conhecido como “cepo”. A medida, que permite a transação livre do dólar no país, foi uma das principais promessas de campanha do presidente Javier Milei. O fim do “cepo” é visto como um marco importante para a economia argentina, representando o início de um processo de reintegração do país no mercado financeiro global. Essa decisão, que também está vinculada a um acordo de empréstimo com o FMI, marca uma nova fase no governo de Milei e tem implicações significativas para o futuro econômico do país.

O fim do “Cepo”

O controle cambial, que restringia a compra e venda de dólares na Argentina, foi imposto em 2011 durante o governo de Cristina Kirchner. A medida visava proteger as reservas internacionais e controlar a inflação, mas ao longo dos anos, resultou em um mercado paralelo de câmbio, onde o valor do dólar era muito mais alto do que o oficial. O impacto foi negativo para empresas e cidadãos, que enfrentaram dificuldades para transações internacionais e uma constante desvalorização do peso.

Agora, com o fim do “cepo”, o país abre suas portas para o comércio internacional e o fluxo de capital estrangeiro. Em uma economia globalizada, o controle rígido do câmbio havia isolado a Argentina dos mercados financeiros internacionais, com empresas e investidores estrangeiros sendo desencorajados a negociar no país devido à instabilidade cambial e às restrições. A liberação do câmbio, portanto, é vista como uma tentativa de restaurar a confiança na economia local e atrair investimentos internacionais.

Como foi implementada a liberação cambial?

Na segunda-feira (14), o governo argentino iniciou a liberação do câmbio. O peso argentino sofreu uma queda inicial de aproximadamente 12% em relação ao dólar, um reflexo esperado da medida, uma vez que o mercado reagiu à possibilidade de um ajuste no valor da moeda. Contudo, essa desvalorização foi seguida por uma recuperação gradual nos dias subsequentes, indicando que o mercado começou a se estabilizar após o primeiro choque.

A nova política cambial prevê uma banda flutuante entre 1.100 e 1.400 pesos por dólar, sem a intervenção direta do Banco Central. Essa flexibilidade é vista como um modelo mais próximo de um regime cambial flutuante, semelhante ao sistema adotado pelo Brasil em 1999, sob o governo de Fernando Henrique Cardoso. No entanto, a diferença está no controle dentro de uma faixa preestabelecida, permitindo certo grau de estabilidade enquanto se ajusta às condições do mercado.

O papel do FMI no processo

A liberação do controle cambial foi possível após um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que concedeu à Argentina um empréstimo de US$ 20 bilhões. Esse empréstimo ajudou a fortalecer as reservas do Banco Central, permitindo que o governo argentino garantisse as trocas do peso por dólares no mercado, sem comprometer as reservas do país.

Com esse recurso, o Banco Central da Argentina pode agora permitir que o câmbio seja livremente negociado, sem a necessidade de manter um regime de controle rígido. Isso cria um ambiente mais previsível para investidores e empresas, que poderão operar com mais liberdade, sem as incertezas geradas pelas políticas anteriores.

Análises de especialistas

Alexandre Viotto, head de Banking da EQI Investimentos, avaliou a medida como parte de uma estratégia mais ampla do novo governo de Javier Milei. Para ele, o fim do “cepo” é o terceiro passo importante da agenda econômica de Milei, que já havia implementado cortes fiscais e iniciado uma desaceleração da inflação. Viotto acredita que o sucesso da liberação cambial dependerá da continuidade dessas reformas e da consolidação fiscal do país.

O analista acredita que, com o controle fiscal bem-sucedido e uma inflação estabilizada, a Argentina poderá, sim, voltar a ser vista como uma economia viável dentro do sistema financeiro global. No entanto, ele alerta que o país ainda precisa de tempo para mostrar que pode manter o equilíbrio macroeconômico. Para os investidores, é um momento de cautela, mas com boas perspectivas no longo prazo, caso o governo consiga sustentar os avanços já alcançados.