Preço dos alimentos no Brasil deve superar inflação por mais tempo, diz FGV
O preço dos alimentos no Brasil tem enfrentado alta devido a fatores estruturais, como mudanças climáticas, câmbio e baixa produção interna.

O preço dos alimentos no Brasil continua a ser um desafio para os consumidores, e a previsão é que essa realidade permaneça no curto e médio prazo. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV aponta que os fatores que pressionam os preços, como mudanças climáticas, a valorização do dólar e a baixa produção interna, não são temporários e devem continuar a impactar o mercado de alimentos. Entenda os motivos por trás dessa alta e o que pode ser feito para amenizar os efeitos dessa crise.
Leia também: Quais são os 10 países onde o real vale mais em 2025?
Fatores estruturais que impactam o preço dos alimentos
A alta nos preços dos alimentos no Brasil, que já subiram 7,25% no acumulado de 12 meses, não é apenas uma questão pontual. Ela está atrelada a fatores estruturais que dificultam a recuperação do setor alimentício e aumentam a pressão sobre os consumidores.
A produção agrícola brasileira enfrenta desafios devido à escassez de recursos, como água e fertilizantes, além de flutuações climáticas que afetam a colheita de alimentos essenciais, como arroz e feijão. A demanda interna também tem sido crescente, impulsionada pelo aumento populacional e pela busca por uma alimentação mais diversificada. Porém, a produção não tem acompanhado essa demanda, o que torna o Brasil cada vez mais dependente de importações para suprir as necessidades internas.
O câmbio também exerce grande influência sobre a elevação dos preços. A valorização do dólar, que torna a exportação mais lucrativa, tem levado muitas empresas do setor agropecuário a direcionar sua produção para o mercado externo, reduzindo a oferta interna de produtos como a carne bovina, que tem registrado uma queda significativa no consumo doméstico.
Mudanças nas culturas agrícolas e a produção de alimentos
A estrutura de produção agrícola no Brasil está passando por uma transformação. A soja e o milho, por exemplo, são culturas que têm se expandido devido à crescente demanda externa, enquanto alimentos básicos para consumo interno, como arroz e feijão, têm registrado queda na área plantada. Segundo dados do Ibre, a área destinada ao arroz e ao feijão teve uma redução significativa, e as exportações dessas culturas não conseguiram compensar a demanda interna.
Além disso, a crescente utilização de insumos importados, como fertilizantes, agrava o cenário, já que a desvalorização do real tem tornado esses produtos mais caros. Isso resulta em uma cadeia de custos mais alta para os produtores, que, por sua vez, repassam esse aumento para os consumidores.
O impacto da carne bovina e o crescimento das exportações
Outro reflexo dessa situação é o aumento no preço da carne bovina. Enquanto o consumo interno caiu 9,5% entre 2017 e 2023, as exportações de carne bovina se expandiram. Em 2023, o Brasil exportou mais de 2,1 milhões de toneladas de carne, representando um aumento significativo no volume de vendas ao exterior.
Esse descompasso entre a oferta interna e a demanda externa tem elevado os preços no mercado doméstico. A previsão é que, com o avanço do mercado externo, os preços das carnes continuem pressionados para cima, afetando diretamente o poder de compra das famílias brasileiras.
Ações do governo para contenção da alta nos preços
O governo brasileiro tem buscado alternativas para controlar a escalada dos preços dos alimentos. Uma das medidas mais recentes foi a isenção de impostos de importação para alguns produtos alimentícios. O objetivo é reduzir o custo dos produtos essenciais e tentar frear a alta de preços, principalmente de itens como arroz e óleo de soja.
Além disso, o governo acredita que a supersafra prevista para o ciclo 2024/25 pode ajudar a aliviar a pressão sobre o mercado. A produção de grãos como soja e milho deve crescer, o que poderá aumentar a oferta interna e equilibrar os preços em parte.
A visão do Ibre: segurança alimentar e políticas públicas
De acordo com o Ibre, uma das principais recomendações é a adoção de políticas públicas que incentivem a produção nacional de alimentos básicos. Além de estimular o crédito agrícola voltado para a produção de alimentos para consumo interno, o Instituto sugere que o Brasil aposte em tecnologias e em um maior controle sobre a produção agrícola para aumentar a produtividade e garantir a segurança alimentar.
Além disso, a recomposição de estoques públicos de alimentos e o apoio à agricultura familiar são fundamentais para melhorar a oferta no mercado interno, evitando que o Brasil dependa tanto das importações para atender às suas necessidades alimentares.