A gestora Latache, especializada em ativos em situações de estresse, está tentando assumir o controle da Oncoclínicas (ONCO3), uma das maiores empresas de saúde do Brasil. A proposta inicial, feita em dezembro de 2023, visava a compra de 20,76% das ações detidas pelo Goldman Sachs na companhia. Caso fosse bem-sucedida, a Latache planejava adquirir também os 19,90% de participação do Banco Master, o que lhe daria aproximadamente 51% do capital da Oncoclínicas. Contudo, o Goldman Sachs recusou a proposta, levando a gestora a buscar novas alternativas para alcançar a sua meta.

Recusa do Goldman Sachs e novas ações no mercado

A oferta da Latache ao Goldman Sachs foi feita a um preço de R$ 4,30 por ação, um valor substancialmente superior ao preço de mercado, que na época girava em torno de R$ 2,50. O ágio de mais de 70% refletia a crença de que, sob um novo comando, as ações da Oncoclínicas se valorizariam. A proposta também incluía um prêmio baseado no aumento esperado do valor das ações no futuro, caso a Latache conseguisse o controle da empresa. Para tentar concretizar o acordo, a Latache chegou a tentar uma reunião na sede do Goldman Sachs em Nova York, mas a oferta foi rejeitada.

Após a recusa, a gestora não desistiu do objetivo de aumentar sua participação e passou a adquirir ações da Oncoclínicas no mercado em 2024. De acordo com fontes do setor, a Latache está determinada a alcançar a marca de 15% de participação, o que obrigaria a abertura de uma oferta pública de aquisições (OPA) para os outros acionistas, conforme previsto no estatuto social da empresa.

Cláusula de Poison Pill e estratégias de aquisição

O estatuto da Oncoclínicas possui uma cláusula de “poison pill”, um mecanismo que impede que acionistas adquiram uma participação superior a 15% sem realizar uma oferta para comprar todas as ações da empresa. Esse tipo de cláusula é comum em empresas abertas, pois serve para evitar aquisições hostis. No entanto, fontes próximas à negociação afirmam que a Latache está disposta a acionar a OPA caso consiga adquirir mais participações de outros acionistas, como o Banco Master.

Em um movimento paralelo, o Goldman Sachs busca alternativas para se desvincular da Oncoclínicas. A instituição financeira está estruturando uma operação de derivativos chamada “total return swap”, na qual outro investidor adquire ações da Oncoclínicas, mas o Goldman continua exposto às oscilações do preço das ações. Embora a participação do Goldman seja diluída, o banco ainda ficaria como um “sócio” da empresa sem figurar diretamente no capital.

Histórico de investimentos e mudanças na Oncoclínicas

O Goldman Sachs investiu pela primeira vez na Oncoclínicas em 2015, quando adquiriu uma participação significativa de 60%. No entanto, a participação do banco foi diluída ao longo dos anos após a sua decisão de não participar de aumentos de capital realizados pela empresa. Em 2023, a Oncoclínicas passou por dois aumentos de capital importantes: um de R$ 1,5 bilhão, ancorado pelo Banco Master e pelo fundador Bruno Ferrari, e um follow-on, que levantou R$ 900 milhões. Essas operações ajudaram a fortalecer a estrutura financeira da empresa, que, no entanto, ainda enfrenta desafios devido ao elevado nível de endividamento.

Impacto do aumento de capital e o desempenho das ações

Além de sofrer uma diluição de sua participação, o Goldman Sachs também viu o preço das ações da Oncoclínicas cair ao longo do tempo. O IPO da empresa, realizado em agosto de 2021, levantou R$ 3,6 bilhões com as ações sendo oferecidas a R$ 19,75. No entanto, os papéis perderam valor desde então, com o preço das ações fechando a R$ 5,29 na última sexta-feira. Em um cenário de crescimento mais modesto do mercado, a Oncoclínicas teve uma queda de 81,5% no lucro líquido nos três primeiros trimestres de 2024, somando apenas R$ 41,8 milhões. A dívida líquida da companhia chegou a R$ 3,3 bilhões ao final de setembro de 2024.

Apesar dos desafios financeiros, a Oncoclínicas tem investido em sua expansão e fortalecimento, o que pode indicar uma possível valorização futura das suas ações, algo que interessa diretamente à Latache. A gestora, que busca criar um novo grupo controlador, acredita que com sua participação majoritária será capaz de reverter a situação da empresa, potencializando seu valor no longo prazo.