O primeiro encontro cara a cara entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Javier Milei, após meses de farpas e trocas de ofensas, ocorreu nesta segunda-feira (18), no Rio de Janeiro, durante a cúpula do G20. Com o cenário internacional como pano de fundo, o encontro refletiu as profundas divergências ideológicas e pessoais entre os dois líderes, que começaram já durante a campanha eleitoral de 2023. A interação entre Lula e Milei foi marcada por um cumprimento frio, distante da recepção calorosa que o presidente brasileiro teve com outros chefes de Estado, como o francês Emmanuel Macron e o espanhol Pedro Sánchez.

O encontro no G20

O momento ocorreu no primeiro dia da cúpula do G20, que reúne as principais potências econômicas do mundo. O presidente argentino, Javier Milei, chegou ao evento por volta das 10h45, acompanhado por sua secretária-geral da Presidência, Karina Milei. Ao desembarcarem do carro oficial, ambos exibiram expressões sérias, seguindo em direção à rampa vermelha, onde foram recebidos por Lula e sua esposa, Rosângela da Silva. O encontro entre os dois presidentes durou apenas 15 segundos. Lula cumprimentou Milei de maneira formal e, após a foto oficial, indicou a direção que o argentino deveria seguir para participar do primeiro debate da cúpula no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A frieza do cumprimento contrastou com a calorosa interação que Lula teve com outros líderes, como o presidente francês Emmanuel Macron e o espanhol Pedro Sánchez, com quem trocou abraços e conversas amigáveis. O episódio refletiu as tensões que já vinham sendo alimentadas desde as eleições de 2023.

Histórico de tensão

As relações entre Lula e Milei começaram a se deteriorar durante as eleições presidenciais argentinas de 2023. Lula, como líder do Partido dos Trabalhadores (PT), apoiou a candidatura de Sergio Massa, que disputava a presidência com Milei. Antes do segundo turno das eleições, Milei chamou Lula de “comunista nervoso” e acusou o presidente brasileiro de interferir diretamente em sua candidatura. A tensão aumentou ainda mais quando Milei decidiu não convidar Lula para sua posse, o que causou um desconforto significativo, dado que o Brasil é o principal parceiro da Argentina no Mercosul.

Reações e desentendimentos públicos

Lula não poupou críticas a Milei, chamando-o de “fanfarrão” e sugerindo que o argentino tinha “ego inflado”. O presidente brasileiro também afirmou que Milei deveria pedir desculpas ao Brasil por suas declarações, mas o argentino se negou, considerando o pedido como uma tentativa de Lula de desmoralizá-lo. A animosidade continuou a crescer quando Milei, em julho de 2024, se ausentou de uma reunião do Mercosul, o que levou Lula a comentar que sua ausência foi “triste para a Argentina”, enfurecendo ainda mais o presidente argentino.

A cúpula do G20 e as diferenças ieológicas

A chegada de Milei ao Rio de Janeiro para a cúpula do G20 foi marcada pela ausência de qualquer sinal de aproximação com Lula. A discordância entre os dois presidentes é evidente nas questões globais, como a mudança climática, onde Lula tem defendido um modelo de desenvolvimento sustentável e Milei se mantém cético. As diferenças também se estendem à posição sobre a guerra na Ucrânia, onde Milei tem se mostrado um crítico da invasão russa, enquanto Lula busca uma postura de neutralidade, tentando manter boas relações tanto com os países ocidentais quanto com os aliados da Rússia.

Além disso, o posicionamento de Lula sobre a Palestina, especialmente seu apoio ao Hamas, é um ponto de divergência irreconciliável com Milei. O presidente argentino deixou claro que não assinaria o comunicado final da cúpula se não houvesse uma condenação explícita ao Hamas e a outros grupos apoiados pelo Irã, algo que Lula ainda reluta em apoiar.

A repercussão no G20 e a importância geopolítica

Embora a interação entre os dois presidentes tenha sido breve, o contexto do encontro no G20 foi de grande importância para as relações bilaterais entre Brasil e Argentina. As diferenças ideológicas entre Lula e Milei destacam uma divisão crescente no Mercosul, onde o Brasil, sob Lula, tem se alinhado mais com questões progressistas e de direitos humanos, enquanto a Argentina, com Milei, adota uma postura mais conservadora e liberal, especialmente em questões econômicas. No entanto, a participação de Milei no G20 mostra que, apesar das tensões, ambos os países reconhecem a importância de manter uma relação diplomática no âmbito global.