As ações da MRV&Co (MRVE3) enfrentaram uma queda expressiva de 8% na quinta-feira, após a divulgação de seu balanço do terceiro trimestre de 2024 (3T24), que revelou um prejuízo consolidado de R$ 12,7 milhões. O impacto financeiro foi atribuído principalmente a efeitos de equity swaps e outras operações financeiras, refletindo a alta alavancagem da companhia. Embora o segmento de incorporação tenha mostrado sinais positivos, o nível de endividamento da empresa continua sendo um fator desafiador para sua recuperação no curto prazo.

Desempenho das ações da MRV&Co

A MRV&Co, um dos maiores grupos do setor imobiliário brasileiro, registrou um prejuízo consolidado de R$ 12,7 milhões no terceiro trimestre de 2024 (3T24), impactado por movimentações financeiras e uma significativa alavancagem. O mercado reagiu negativamente à divulgação, com as ações da empresa recuando 8,08%, cotadas a R$ 6,37 por ação por volta das 15h50 (horário de Brasília). Em contraste, o Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores brasileira, subia 0,2% no mesmo período.

O segmento de incorporação, que representa a maior parte das operações da MRV, apresentou um resultado positivo com lucro de R$ 46,1 milhões, após registrar um prejuízo no mesmo trimestre do ano passado. Apesar desse avanço, o impacto das despesas financeiras, derivadas da alta alavancagem da companhia, compensou os ganhos operacionais, afetando negativamente o resultado consolidado.

Análise das margens e crescimento operacional

Apesar dos resultados financeiros mistos, alguns pontos positivos surgiram nas análises das operações. A MRV Inc., uma das unidades da companhia, teve uma receita líquida 7% acima da expectativa do mercado, com um crescimento de 20% em relação ao ano passado. A margem bruta da MRV Inc. também apresentou um leve aumento de 50 pontos base em comparação com o segundo trimestre, atingindo 26,6%, o que indica certa estabilidade nas operações da unidade.

Entretanto, o lucro líquido da MRV Inc. foi de R$ 76 milhões, mostrando uma estabilização em relação ao trimestre anterior. No caso da Resia, outra unidade do grupo, o prejuízo líquido foi de R$ 52 milhões, pior do que o esperado, apesar da venda de ativos para melhorar sua posição financeira.

XP Investimentos, que analisou o desempenho da empresa, acredita que a MRV deverá atingir suas metas de orientação para 2024, embora a alavancagem ainda seja um obstáculo. A XP destaca que a companhia ainda precisa apresentar uma geração mais robusta de fluxo de caixa livre (FCF) no quarto trimestre para garantir uma desalavancagem eficiente.

Alavancagem: desafio para a sustentabilidade dos resultados

A alta alavancagem da MRV segue sendo um dos maiores desafios da companhia, impactando diretamente seus resultados financeiros. De acordo com analistas da Genial Investimentos, a empresa segue apresentando resultados fracos em termos de lucro líquido, mas não há uma piora operacional. A receita continua crescendo, acompanhando a evolução das vendas, mas o maior obstáculo permanece na estrutura de endividamento, que consome grande parte do lucro antes de juros e impostos (Ebit).

A geração de caixa foi positiva no trimestre, com um montante de R$ 178 milhões, mas, quando descontadas as vendas de recebíveis, a situação ainda é de queima de caixa. Segundo os analistas, embora a operação da MRV esteja melhorando, o impacto financeiro da alavancagem permanece um ponto crítico.

A recomendação da Genial para as ações da MRV é voltada para investidores dispostos a assumir riscos maiores, com um horizonte de longo prazo. A empresa está sendo negociada a 0,6 vezes o valor patrimonial (P/BV), o que pode ser considerado atrativo para quem acredita em uma recuperação gradual.

Perspectivas de crescimento e recuperação: um ‘Turnaround’ demorado

O “turnaround” da MRV, ou a recuperação da companhia após o período de dificuldades financeiras, tem sido mais demorado do que inicialmente esperado. Segundo analistas do BTG Pactual, embora o crescimento da margem bruta seja uma sinalização positiva, as despesas financeiras decorrentes da alta alavancagem ainda comprometem os resultados. No entanto, o BTG vê sinais de melhora no programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (MCMV), que tem mostrado margens brutas mais favoráveis.

Além disso, a expectativa é de que, à medida que os projetos da Resia sejam vendidos, a alavancagem da MRV diminua, o que pode ajudar a melhorar sua posição financeira. Os analistas mantêm a recomendação de “compra” para as ações da MRV, mas indicam que revisarão suas projeções para a empresa nos próximos meses, dependendo de como a companhia conseguir reduzir sua dívida.

Riscos e desafios: fatores externos e concorrência

Além da alavancagem interna, a MRV enfrenta riscos externos que podem afetar sua recuperação. A principal ameaça é o aumento nos custos de produção de imóveis, especialmente no sul dos Estados Unidos, onde a unidade Resia opera. O risco de mudanças nas políticas de imigração do presidente-eleito dos EUA, Donald Trump, pode ter um impacto significativo nos custos operacionais da empresa.

Outro risco apontado pelos analistas é a recuperação mais lenta da MRV em comparação com outras construtoras, como a Tenda (TEND3). Este fator pode prejudicar ainda mais a posição competitiva da empresa no mercado, afetando seus resultados no futuro.