Petrobras aprova expansão no setor de fertilizantes e gera debate no mercado
A Petrobras aprovou a retomada do projeto UFN-III, uma planta de fertilizantes em Três Lagoas, MS, com investimentos previstos de R$ 3,5 bilhões.

A Petrobras (PETR4) anunciou recentemente a aprovação para retomar o projeto da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados III (UFN-III), localizada em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul. Parada desde 2015, a fábrica receberá investimentos estimados em R$ 3,5 bilhões para concluir sua estrutura e iniciar operações. Embora seja uma decisão estratégica que desperta debates sobre sua viabilidade financeira, analistas mantêm um viés positivo na tese de investimentos da companhia, ressaltando que a medida é uma aposta moderada dentro do amplo portfólio de ativos da Petrobras.
Após quase uma década de paralisação, a decisão da Petrobras de investir na conclusão da UFN-III levanta discussões sobre o foco da companhia no setor de fertilizantes, que apresenta retornos historicamente mais baixos em comparação com os negócios principais da estatal, como exploração e produção de petróleo e gás (E&P). No entanto, a decisão atende às diretrizes estratégicas da atual gestão para reduzir a dependência de importações de fertilizantes, item essencial para a agricultura e alimentação, setores cruciais da economia brasileira.
A XP Investimentos, uma das principais casas de análise do país, comentou que o projeto não é necessariamente essencial para a Petrobras. O investimento planejado de R$ 3,5 bilhões representa cerca de 0,7% do valor de mercado da empresa até 2028, um percentual moderado diante da robustez financeira da companhia. A corretora destacou que a relevância financeira da fábrica é reduzida para o cenário global de investimentos da estatal, o que não compromete a tese de investimento principal. Ainda assim, XP sugere que a movimentação estratégica desperta questionamentos sobre futuras alocações de capital.
A Petrobras tem enfatizado que o projeto da UFN-III segue rígidos protocolos de governança, garantindo que o investimento seja justificado e estrategicamente bem posicionado para contribuir com a criação de valor aos acionistas. Esse compromisso com governança é um ponto-chave na comunicação com os investidores, que buscam garantias de que a estatal, ao expandir para o setor de fertilizantes, mantém sua visão de longo prazo em sua principal área de atuação.
Mesmo com essa reiteração, o mercado se mostra cauteloso. O BTG Pactual, outro grande nome no setor de análises financeiras, considera que os retornos esperados na UFN-III, embora existam, provavelmente não alcançarão a Taxa Interna de Retorno (TIR) ideal de 20% que a Petrobras obtém no segmento de E&P. Segundo o BTG, a empresa não possui a mesma vantagem competitiva no setor de fertilizantes, particularmente devido à falta de integração direta com suas operações principais e às especificidades de custos e matéria-prima da produção de fertilizantes no Brasil.
Esse contexto gera um grau de incerteza entre investidores, que temem que o retorno sobre o capital investido (ROI) na UFN-III fique aquém das expectativas, mesmo com os esforços da Petrobras em manter rigor nos processos de governança.
Apesar das preocupações, a Petrobras segue sendo uma recomendação de compra para analistas, incluindo o próprio BTG Pactual, que mantém seu preço-alvo de R$ 52 para as ações PETR4. O banco aponta que o projeto UFN-III terá impacto financeiro limitado sobre o dividend yield da empresa, com uma influência anual de apenas 10 pontos-base (bps). Em termos de capex, o investimento representa 0,2% do valor de mercado da Petrobras, indicando um desembolso anual de caixa mínimo que não afetará substancialmente a política de dividendos.
A XP Investimentos reforça essa visão otimista e reitera que a Petrobras ainda é uma das suas principais escolhas de investimento no setor de energia. A corretora aponta que a estatal possui uma trajetória de retorno sólido em suas operações de E&P, o que, para muitos analistas, compensa os riscos e investimentos em novas áreas, como fertilizantes.