Baseando-se nos resultados recentes e nas projeções macroeconômicas, a XP Investimentos destacou, em relatório divulgado nesta semana, que o Bradesco (BBDC4) enfrenta um período de reestruturação que se prevê longo e desafiador.

Nesse contexto, os analistas ajustaram o preço-alvo das ações do Bradesco para R$16 até o final deste ano, uma redução em relação aos R$19 anteriores (em comparação com os R$12,92 registrados no fechamento da última terça-feira, dia 28). A recomendação permanece neutra, refletindo a visão de que, apesar dos desafios, o banco possui um potencial de valorização, embora modesto.

Atualmente, o Bradesco está sendo negociado a 6,8 vezes o preço sobre lucro (P/E) e 0,8 vezes o preço sobre valor patrimonial (P/B) para este ano. Os analistas da XP não consideram esse ponto de entrada atrativo, dado o cenário de dificuldades esperadas. A capitalização de mercado do Bradesco, cerca de R$140 bilhões, está significativamente abaixo das máximas históricas e atrás de concorrentes como Itaú (ITUB4), BTG (BPAC11) e Nubank (ROXO34).

Os estrategistas também projetam uma pressão significativa sobre os resultados do Bradesco em 2024 e 2025, à medida que a instituição passa por uma reestruturação necessária. Apesar dos desafios, há uma expectativa de que, após esse período, o banco estará melhor posicionado para competir tanto com os bancos tradicionais quanto com as fintechs já estabelecidas.

A corretora também observa que o Bradesco tem reduzido seu apetite ao risco para mitigar os efeitos dos altos níveis de inadimplência (NPLs), desacelerando o crescimento da carteira de crédito e concentrando-se em linhas mais seguras. Esse movimento resultou em uma desaceleração da receita líquida de juros (NII). Os analistas acreditam que o banco enfrentará o desafio de recuperar a participação de mercado em linhas mais rentáveis para aumentar o lucro líquido do Bradesco no futuro.

Mudança de liderança pode causar impactos

O Bradesco passou um processo de mudança em sua liderança, com Marcelo Noronha assumindo o cargo de CEO, sucedendo Octavio Lazzari. Essa transição é vista como fundamental para a transformação necessária do banco, embora os primeiros trimestres sob a nova gestão indiquem um processo de reestruturação que será prolongado.

Diante desse cenário, é esperado que o Bradesco alcance um Retorno sobre Patrimônio (ROE) superior ao custo de capital próprio somente em 2026. “Apesar de ainda ser cedo, os dois primeiros trimestres sob a nova gestão do Bradesco já apontam para um processo de reestruturação longo e desafiador”, observam os analistas.

Além disso, o Bradesco enfrenta outro obstáculo: o setor financeiro tem passado por transformações estruturais, incluindo a diminuição da relevância das agências físicas. Apesar de possuir uma extensa rede de atendimento, essa vantagem está diminuindo.

Para competir com bancos que já avançaram na digitalização e com fintechs que operam com estruturas físicas menores, o Bradesco precisará implementar mudanças significativas. Embora os analistas acreditem que o novo CEO esteja comprometido com essa transformação, a eficácia dessa implementação será crucial para o desempenho futuro do Bradesco.