A empresa Unimed-Rio decidiu realizar a transferência dos seus beneficiários, cerca de 453 mil usuários, para a Unimed Ferj (Unimed do Estado do Rio de Janeiro). A decisão foi tomada durante uma reunião onde estavam presentes a diretoria da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Ministério Público Federal e Estadual, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, a Unimed-Rio, a Unimed Ferj, a Unimed do Brasil e a Central Nacional Unimed.

Segundo a ANS, a movimentação está prevista para abril e não provocará qualquer prejuízo à assistência dos beneficiários, ou seja, os atendimentos continuarão ocorrendo normalmente. 

Quais foram os pontos acordados com a Unimed Ferj?

  • Responsabilidade pela dívida assistencial da Unimed-Rio;
  • Contratação de todos os serviços operacionais da Unimed-Rio para dar suporte a essa fase de transição de transferência de carteira ao longo de 2024, considerando as necessidade apontadas pela Unimed Ferj;
  • Arrendamento do hospital e prontos atendimentos da empresa anterior, com autonomia integral da gestão.

Além disso, no cenário base do Itaú BBA,  é esperado que o contrato que a Oncoclínicas (ONCO3) tinha com a Unimed-Rio também seja preservado pela Unimed Ferj.

Segundo a avaliação do Itaú BBA, a escolha feita seria significativamente mais favorável do que a opção de enfrentar uma reorganização financeira (também chamado “Chapter 11” nos EUA ou Recuperação Judicial) ou uma liquidação. Esses cenários poderiam complicar o processo de recuperação de contas a receber e a manutenção do fluxo de pacientes. Para os analistas, não serão observadas grandes mudanças no fluxo de pacientes para a Oncoclínicas devido ao acordo de exclusividade com a Unimed-Rio, porém, é necessário esperar a solidificação da parceria com o novo detentor da carteira. Por outro lado, eles observam uma tendência de redução da exposição à carteira da Unimed-Rio nos próximos trimestres, passando de 13-14% das receitas para cerca de 10% até o fim de 2024, conforme a  expansão das operações da empresa, incluindo a parceria com a Porto (PSSA3).

Já para o JPMorgan, a movimentação é vista como um reflexo da situação financeira delicada da Unimed Rio, que está sob intervenção financeira e técnica da ANS desde 2016. Mesmo que os impactos financeiros imediatos possam ser limitados, o JPMorgan possui visões divergentes sobre as possíveis implicações a longo prazo. Nesse cenário, o banco americano prevê uma provável reação negativa nas ações, já que a Unimed-Rio é o principal pagador da Oncoclínicas, representando uma média de 13% das receitas – ainda que abaixo dos quase 20% atuais do IPO de ONCO3, em 2021.

É destacado ainda que a Oncoclínicas adquiriu recentemente participações da Unimed Rio em duas joint ventures, potencializando seus direitos de exclusividade e prioridade para o tratamento do câncer em seus planos de saúde por mais 25 anos, com uma transação avaliada em cerca de R$350 milhões. Logo, a Unimed Ferj assume todas as responsabilidades de serviços médicos, preservando acordos de serviço e rede anteriores, o que proporciona à Oncoclínicas uma exposição ampliada a um pagador com melhor saúde financeira, enquanto a cessão fiduciária de recebíveis dos prêmios da Unimed Rio em favor da Oncoclínicas permanece inalterada.

Mesmo assim, a análise da base de membros da Unimed-Rio mostra uma diminuição expressiva de 760 mil para cerca de 453 mil vidas nos últimos doze meses. O dado causa preocupação ao JPMorgan em relação à permanência de uma base de beneficiários não lucrativa, mudando apenas de gestão de entidade que, até o momento, não apresenta problemas financeiros. Para o banco, esses usuários são fundamentais para promover a alavancagem operacional das principais operações da Oncoclínicas no Rio, ao mesmo tempo que a empresa ganha mais tração com outros pagadores na região. O JPMorgan finaliza enfatizando os riscos associados a uma alta exposição ao sistema Unimed, onde muitos participantes operam com finanças fragilizadas.