Déficit dos Correios ultrapassa R$ 4 bilhões e estatal anuncia plano de reestruturação
Os Correios enfrentam um déficit estrutural superior a R$ 4 bilhões por ano, pressionado pelos custos da universalização do serviço postal.
Foto: Reprodução
O déficit dos Correios, estimado em mais de R$ 4 bilhões por ano, levou a estatal a anunciar um amplo plano de reestruturação financeira e operacional. As medidas foram apresentadas nesta segunda-feira (29), em Brasília, pelo presidente da empresa, Emmanoel Rondon, durante exposição sobre a situação econômica da companhia. O objetivo é conter prejuízos recorrentes, recuperar o caixa e garantir a continuidade da universalização do serviço postal em todo o território nacional.
Segundo a direção, sem uma correção imediata de rota, o resultado financeiro poderia se deteriorar ainda mais nos próximos anos, colocando em risco a sustentabilidade da empresa.
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Déficit dos Correios revela desequilíbrio estrutural do modelo atual
De acordo com Rondon, o déficit dos Correios não é pontual, mas estrutural. A estatal arca com custos elevados para atender regiões remotas e de baixa rentabilidade, como parte de sua obrigação legal de universalização do serviço postal. Esse modelo, segundo ele, deixou de ser financeiramente viável diante das mudanças no setor de comunicações.
Atualmente, cerca de 90% das despesas da empresa são fixas, o que reduz a flexibilidade para ajustes rápidos. A folha de pagamento responde por aproximadamente 62% dos custos totais, tornando o equilíbrio financeiro ainda mais complexo.
Prejuízos acumulados superam R$ 10 bilhões desde 2022
A situação financeira dos Correios vem se agravando nos últimos anos. Entre janeiro e setembro de 2025, o prejuízo acumulado ultrapassou R$ 6 bilhões. Desde 2022, os déficits recorrentes já somam mais de R$ 10 bilhões, evidenciando a pressão crescente sobre o caixa da estatal.
Segundo a administração, esse cenário é resultado da combinação entre custos elevados, queda no volume de cartas e aumento da concorrência no segmento de encomendas, hoje o principal motor de receita da empresa.
Mudança no mercado postal enfraqueceu o financiamento cruzado
Rondon destacou que o modelo tradicional dos Correios começou a ruir a partir de 2016, quando as encomendas superaram as cartas como principal fonte de receita. Até então, o monopólio das cartas nos grandes centros urbanos ajudava a financiar operações deficitárias em regiões afastadas.
No entanto, com a digitalização das comunicações e a queda no envio de correspondências físicas, essa lógica deixou de funcionar. “O monopólio das cartas já não é suficiente para sustentar as comunicações físicas em áreas deficitárias”, afirmou o presidente, ressaltando que fenômeno semelhante ocorreu em outros países.
Primeira fase do plano busca recuperar o caixa até 2026
A primeira etapa do plano de reestruturação, com prazo até março de 2026, tem como foco central a recuperação do caixa e a estabilização financeira da estatal. Segundo Rondon, sem qualquer intervenção, o prejuízo poderia alcançar R$ 23 bilhões em 2026.
Entre as medidas anunciadas estão:
- Revisão das práticas de governança
- Estabelecimento de metas claras para os funcionários
- Reconhecimento por desempenho e produtividade
Empréstimo de R$ 12 bilhões garante fôlego financeiro
Para viabilizar a primeira fase do plano, os Correios firmaram um empréstimo de R$ 12 bilhões com cinco instituições financeiras: Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Segundo a direção, os recursos permitirão:
- Manter a empresa adimplente
- Recuperar a qualidade operacional
- Reforçar a confiança do mercado e dos fornecedores
A estatal avalia que o crédito é essencial para evitar a interrupção de serviços e garantir o cumprimento de suas obrigações legais.
Segunda fase prevê reorganização e impacto positivo bilionário
A segunda fase da reestruturação, prevista para 2026 e 2027, inclui uma agenda mais profunda de mudanças. Estão previstos:
- Reorganização do quadro de pessoal
- Parcerias estratégicas com o setor privado
- Redesenho das operações logísticas
- Gestão ativa de ativos da companhia
A expectativa é que essas ações gerem um impacto financeiro positivo de R$ 7,4 bilhões, contribuindo para a redução do déficit dos Correios.
Terceira fase mira crescimento e modernização do negócio
Já a terceira fase do plano será voltada ao crescimento e à modernização da empresa. O foco será a adaptação a um novo modelo de negócios, com processos mais eficientes e alinhados às transformações do mercado logístico.
Segundo Rondon, essa etapa é fundamental para garantir a sustentabilidade de médio e longo prazo, preservando a universalização do serviço postal e evitando novos ciclos de prejuízos.
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