Rodrigo Paz, senador do Partido Democrata Cristão (PDC), foi eleito presidente da Bolívia neste domingo (19), ao derrotar o conservador Jorge “Tuto” Quiroga no segundo turno. Segundo o Tribunal Supremo Eleitoral, Paz conquistou 54,5% dos votos, contra 45,5% do adversário.

A eleição marca o fim de quase duas décadas de domínio do Movimento ao Socialismo (MAS), partido de Evo Morales e Luis Arce, e abre um novo ciclo político e econômico no país andino — o primeiro desde 2006 liderado por um governo de direita democraticamente eleito.

“Capitalismo para todos”

Com o slogan “capitalismo para todos”, Rodrigo Paz prometeu formalizar pequenas empresas, recuperar a confiança na economia e reintroduzir os dólares guardados “debaixo do colchão”, uma referência à informalidade que domina mais de 80% da atividade econômica boliviana, segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Em discurso após a vitória, Paz afirmou que seu governo pretende “recuperar a presença internacional da Bolívia e garantir que todos possam produzir e crescer”. O novo presidente também sinalizou medidas liberais, como redução de impostos, incentivo ao crédito e criação de um fundo de estabilização do dólar, inspirado em experiências de países vizinhos como a Argentina.

Para o cientista político Eduardo Gamarra, da Universidade de Pittsburgh, a vitória de Paz reflete “a busca de estabilidade e pragmatismo econômico em meio à rejeição generalizada à esquerda tradicional”.

Desafios na Bolívia: inflação, combustíveis e governabilidade

A Bolívia enfrenta a pior crise econômica em uma geração, com inflação anual acima de 23%, escassez de combustíveis e reservas cambiais em níveis críticos. A falta de diesel e gasolina chegou a ameaçar a logística do próprio processo eleitoral, segundo a agência France-Presse (AFP).

Apesar da vitória nas urnas, o PDC não conquistou maioria parlamentar, o que deve obrigar o novo presidente a negociar com diferentes blocos para aprovar reformas estruturais.

O vice-presidente eleito, Edmand Lara, pediu “reconciliação e unidade nacional” em pronunciamento à imprensa. “Acabaram as cores da campanha. É tempo de reconstruir a Bolívia e a democracia”, disse.

Quem é Rodrigo Paz?

Nascido em 1967, em Santiago de Compostela (Espanha), Rodrigo Paz é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, que governou a Bolívia entre 1989 e 1993. Formado em Relações Internacionais e mestre em Gestão Política pela American University (EUA), Paz iniciou a carreira política como deputado em 2002 e, posteriormente, foi vereador, prefeito e senador pelo departamento de Tarija.

Apesar de pertencer a uma família política tradicional, ele se apresentou como um outsider moderado, evitando discursos polarizadores. “Queremos um Estado que deixe o povo trabalhar”, afirmou em entrevista à BBC News Mundo.

Durante a campanha, Paz misturou referências religiosas e populares, usando tanto o lema “Deus, pátria e família” quanto a célebre frase de Che Guevara, “¡Hasta la victoria siempre!”. Essa combinação ajudou a capturar votos de setores populares e urbanos que historicamente apoiavam o MAS, conforme análise do jornalista boliviano Fernando Molina, autor do livro Las 4 Crisis: Historia económica contemporánea de Bolivia.

O que esperar do governo Paz?

Entre as prioridades anunciadas estão a descentralização fiscal (com o plano “50-50”, que permitiria às regiões administrar metade dos recursos arrecadados) e a eliminação gradual dos subsídios aos combustíveis, com compensações para setores mais vulneráveis.

Economistas locais veem a agenda como ambiciosa, mas difícil de implementar sem base parlamentar sólida. A incerteza política e a fragilidade fiscal podem testar a capacidade do novo presidente de restaurar a confiança de investidores e organismos internacionais.

Como resume o analista Fernando Molina, “Rodrigo Paz tenta combinar o pragmatismo econômico com sensibilidade social, mas o sucesso dependerá de sua habilidade em manter estabilidade política e credibilidade fiscal”.

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Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.