A Raízen, uma das maiores processadoras de cana-de-açúcar do mundo e líder no mercado de distribuição de combustíveis no Brasil, registrou um prejuízo de R$2,5 bilhões no quarto trimestre fiscal, refletindo uma série de desafios financeiros. A empresa, que enfrenta um aumento significativo da dívida, com um montante que ultrapassa os R$30 bilhões, anunciou medidas estratégicas para reverter esse quadro, com foco na simplificação dos negócios e redução da alavancagem. Nelson Gomes, CEO da companhia, afirmou que as recentes ações marcam apenas o começo de uma jornada para fortalecer a estrutura de capital da Raízen.

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Prejuízo e aumento da dívida

A Raízen, joint venture da Cosan com a Shell, reportou um prejuízo de R$2,5 bilhões no quarto trimestre fiscal, resultado de um cenário de menor desempenho operacional e aumento de investimentos. O aumento da dívida líquida foi um dos maiores impactos financeiros para a companhia. Ao final da safra 2024/25, a dívida líquida da Raízen chegou a R$34,2 bilhões, o que representa um aumento de 78,9% em relação ao ano anterior. Esse resultado foi causado, em grande parte, pelo elevado volume de investimentos em crescimento, bem como a redução do saldo das operações de convênios com fornecedores e adiantamento de clientes.

Com isso, a alavancagem da companhia, medida pela razão dívida líquida/Ebitda ajustado, subiu para 3,2x, frente a 1,3x no ano passado. Esse cenário financeiro trouxe desafios adicionais, exigindo ações rápidas para equilibrar a estrutura de capital e restaurar a saúde financeira da empresa.

Foco no core business

Em resposta ao cenário desafiador, a Raízen decidiu retomar seu foco nos negócios principais, que incluem a produção de açúcar, etanol, bioenergia e a distribuição de combustíveis. Nelson Gomes, CEO da companhia, explicou que o foco é reduzir custos e simplificar a gestão dos negócios. A companhia anunciou que, a partir da safra 2025/26, o processamento de cana será reduzido para 72 milhões a 75 milhões de toneladas, uma queda em relação ao volume de 2024/25.

“Estamos implementando mudanças significativas na estrutura da empresa, incluindo novas lideranças e ajustes na estratégia e cultura da companhia. O objetivo é reduzir despesas, racionalizar os investimentos e, principalmente, reduzir o endividamento”, afirmou Gomes.

Além disso, a Raízen também passou a adotar uma abordagem mais disciplinada em suas operações, tanto na divisão de etanol, açúcar e bioenergia (EAB) quanto na distribuição de combustíveis. Essas ações são vistas como os primeiros passos de uma jornada para melhorar a estrutura de capital e assegurar uma posição mais sólida no mercado.

Estratégia de desinvestimentos

Uma das principais medidas adotadas pela Raízen para reduzir a dívida foi a venda de ativos que não são considerados essenciais para os seus negócios principais. Recentemente, a empresa concluiu a venda da usina de Leme, localizada no interior de São Paulo, por R$425 milhões. A venda de ativos também incluiu a hibernação da usina MB, em uma estratégia que visa melhorar a eficiência operacional e a simplificação da gestão. O CEO destacou que a companhia continua avançando na venda de outros ativos, incluindo aqueles relacionados ao setor de energia, com foco em geração distribuída.

“A reciclagem do nosso portfólio de ativos é essencial para reduzir o endividamento, o que, por sua vez, vai nos permitir um maior foco em nossos negócios principais”, disse Gomes. Essa venda de ativos faz parte de um esforço mais amplo para reestruturar a empresa, gerando capital que será utilizado para pagar parte da dívida e melhorar a solvência financeira da companhia.

Desafios e expectativas para o futuro

Embora a Raízen esteja implementando mudanças significativas para reduzir sua dívida e melhorar sua estrutura de capital, o CEO da companhia, Nelson Gomes, reconheceu que o caminho para a recuperação ainda é longo e cheio de desafios. Ele destacou que, no curto prazo, a empresa ainda enfrentará dificuldades financeiras, principalmente devido ao consumo de caixa e aos investimentos necessários para sustentar o crescimento de longo prazo.

“É um ano desafiador do ponto de vista da alavancagem. No entanto, estamos ganhando tração no processo de desinvestimento, o que permitirá uma maior flexibilidade financeira no futuro”, afirmou Gomes.

Além disso, a empresa também está revisando sua área de trading, buscando maior eficiência ao reduzir as operações de maior risco, como o açúcar branco, e focando nas operações de melhor valor. O setor de distribuição de combustíveis, por sua vez, continua sendo uma área importante para a Raízen, que acredita que existem oportunidades de crescimento por meio da formalização do mercado e parcerias com revendedores de postos Shell.