A B3 (B3SA3) deve se preparar para um novo concorrente no mercado financeiro brasileiro. Além da bolsa do Rio de Janeiro, operada pela ATG, que começará suas operações no segundo semestre de 2025, a CSD BR planeja lançar uma contraparte central (CCP) até 2027. Essas movimentações estão criando um cenário desafiador para a B3, que já enfrenta uma queda de mais de 20% em suas ações neste ano. 

A CSD BR, uma registradora de operações de renda fixa que já opera desde 2020, anunciou que protocolará seu pedido para atuar como contraparte central junto ao Banco Central até o final deste ano. O presidente da CSD, Edivar Queiroz, afirmou em entrevista ao Estadão que a empresa estará pronta para operar no mercado de bolsas de valores até 2027. Essa nova concorrência pode impactar diretamente a B3 e suas receitas, especialmente nas áreas de compensação e liquidez.

A contraparte central é um elemento crucial nas operações de uma bolsa de valores, garantindo a liquidez para que milhares de negociações ocorram simultaneamente. Com a introdução de uma nova CCP, os analistas do Goldman Sachs alertam que pode haver “ineficiência no mercado”, com diferentes requisitos de liquidação e margem, criando um cenário desafiador para a B3.

O Goldman Sachs já classificou os novos concorrentes da B3 como um risco iminente para as ações B3SA3, destacando que a entrada de uma CCP pode afetar negativamente a compensação das operações. A avaliação é que cerca de 80% a 90% das receitas da B3 vêm da compensação, o que pode ser ameaçado por novos entrantes.

As ações da B3SA3 têm apresentado um desempenho abaixo do esperado, acumulando uma queda de mais de 20% ao longo do ano. Mesmo com a alta de 0,45% no dia 23 de setembro, quando fecharam a R$ 11,25, os papéis da empresa ainda estão longe de se recuperar. 

O Goldman Sachs, que possui uma recomendação neutra para as ações B3SA3, estabeleceu um preço-alvo de R$ 13, representando um potencial de valorização de 16,1%. Atualmente, as ações estão sendo negociadas a um múltiplo de 12 vezes o preço sobre lucro (P/L), o que é 31% inferior à média histórica de 17,6 vezes.

A análise do Goldman Sachs também indica que o risco de concorrência em FICC (derivativos) é ainda mais limitado, uma vez que novos concorrentes teriam que desenvolver seus próprios contratos de derivativos listados. Isso significa que, globalmente, a maioria dos países opera apenas com uma contraparte central, o que pode ser um fator limitante para a expansão de novos players.

A CSD BR foi criada em 2017, fruto de uma parceria entre BTG Pactual, Santander Brasil e a Bolsa de Chicago (CBOE). Desde o início de suas operações, a CSD BR tem se concentrado no registro de operações de renda fixa, que, segundo os dados mais recentes, atingiram R$ 2,5 trilhões em setembro de 2023. Isso representa um aumento significativo em comparação com os R$ 500 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior.

A entrada de novos concorrentes no mercado financeiro pode resultar em um ambiente competitivo mais agressivo, impactando a rentabilidade da B3 e suas receitas de compensação. A análise do Goldman Sachs sugere que a B3 deve se adaptar rapidamente a essas mudanças para manter sua posição de liderança no mercado. A competição não apenas pressiona as receitas, mas também pode levar a ineficiências operacionais se não for gerida adequadamente.

Julia Peres

Redatora do Melhor Investimento.