Estudo revela que música e audiovisual podem perder R$ 116 bilhões para inteligência artificial até 2028

Um estudo global encomendado pela CISAC revela que a música e o audiovisual perderão R$ 116 bilhões até 2028 devido ao avanço da inteligência artificial.

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Última atualização:  16 de abr, 2025 às 14:10
Estudo revela que música e audiovisual podem perder R$ 116 bilhões para inteligência artificial até 2028 Estudo revela que música e audiovisual podem perder R$ 116 bilhões para inteligência artificial até 2028

A inteligência artificial (IA) está revolucionando a indústria criativa, mas com isso surge uma preocupação crescente sobre o impacto econômico que ela poderá causar nos próximos anos. Um estudo global encomendado pela Confederação Internacional de Sociedades de Autores e Compositores (CISAC) e conduzido pela organização PMP Strategy prevê que até 2028, os setores de música e audiovisual perderão R$ 116 bilhões em arrecadação devido à ascensão da IA. Esse valor representa mais de 20% da receita desses segmentos, um reflexo da transformação rápida e significativa que a tecnologia está promovendo nas cadeias produtivas da indústria criativa.

Crescimento da produção de conteúdos gerados por IA

O mercado de conteúdos gerados por IA, como músicas, livros ilustrados e vídeos, está projetado para crescer de forma exponencial nos próximos cinco anos. Atualmente, as obras criadas por IA já arrecadam R$ 15,9 bilhões, mas esse número deve disparar para R$ 339,8 bilhões até 2028. Esse aumento é estimado em mais de 2.000%, destacando o impacto profundo que as tecnologias de IA têm no modo como os conteúdos são produzidos e consumidos.

Essa mudança está sendo observada com cautela por especialistas e profissionais do setor, que alertam para os riscos de uma substituição significativa dos criadores humanos pelas máquinas. A produção “autônoma” de conteúdo gerado por IA está tomando diversas formas, desde livros infantis ilustrados, como uma polêmica edição de “Alice no País das Maravilhas”, até músicas e vídeos criados por softwares inteligentes.

Desafios para a indústria criativa

A utilização de IA na produção de conteúdo levanta questões sérias sobre os direitos autorais. Os programas de IA “generativa”, que são capazes de aprender padrões para criar novos conteúdos, são alimentados por milhões de obras protegidas por direitos autorais. No entanto, essas obras são usadas sem a devida autorização dos criadores originais, uma prática que muitos consideram uma violação dos direitos de propriedade intelectual.

Marcelo Castello Branco, presidente do conselho da CISAC e CEO da União Brasileira de Compositores (UBC), enfatiza que a falta de regulamentação nesse campo poderia resultar em uma “lei da selva” no que diz respeito aos direitos autorais. Segundo ele, o uso não autorizado de obras protegidas por IA poderia levar a uma “banalização generalizada” da propriedade intelectual, colocando os criadores em desvantagem perante as grandes plataformas de IA.

Uma das consequências dessa “canibalização de catálogos” é que a música gerada por IA pode ocupar até 20% dos lucros gerados pelas plataformas de streaming nos próximos cinco anos. Esse fenômeno representa um desafio direto aos artistas e compositores, que já enfrentam dificuldades em competir com as produções feitas por máquinas.

A necessidade urgente de regulamentação para o uso de IA

A CISAC alerta para a necessidade urgente de uma regulamentação que defina limites claros para o uso de IA na produção de conteúdo. Embora a tecnologia tenha potencial para acelerar processos e simplificar rotinas, sem regulamentação, os criadores de conteúdo podem ser prejudicados pela forma como a IA utiliza seus trabalhos para gerar novos produtos. A proposta é garantir que haja mecanismos de transparência, responsabilidades e compensações justas para os autores cujas obras são usadas para treinar os sistemas de IA.

“Não somos contra a IA, sabemos de suas capacidades de aceleração de processos e simplificação de rotinas, mas também é vital estabelecer mecanismos e critérios de transparência e responsabilidades”, afirma Castello Branco. Isso garantiria um equilíbrio entre o avanço da tecnologia e a proteção dos direitos dos criadores.