Em um cenário marcado pela saída de investidores institucionais, como bancos e fundos, da Bolsa de Valores brasileira, os investidores estrangeiros têm demonstrado um aumento significativo no interesse pelo mercado nacional, revelam levantamentos realizados pelo Itaú BBA e pela Quantezed.

Até a última atualização em 5 de janeiro, os investidores estrangeiros já injetaram expressivos R$ 1,93 bilhão na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, que registrou uma retirada de R$ 776 milhões, conforme dados da Quantezed, esse fluxo representa uma inversão notável. No mês de janeiro passado, os estrangeiros também lideraram, aportando R$ 12,5 bilhões, enquanto os investidores institucionais retiraram R$ 9,97 bilhões e os investidores individuais retiraram R$ 1,79 bilhão, conforme apontado pelo BBA.

Contrastando com essa tendência, os investidores institucionais nacionais, representados por bancos e fundos, seguiram na direção oposta neste mês, retirando expressivos R$ 2,33 bilhões da Bolsa, de acordo com o Itaú BBA, enquanto os investidores individuais contribuíram com R$ 1 bilhão.

A explicação para o crescente interesse estrangeiro reside no atual ciclo de redução das taxas de juros. Ricardo Jorge, especialista em mercado de capitais e sócio da Quantezed, destaca um cenário local favorável, com a queda das taxas de juros e indicadores econômicos positivos. Além disso, ele menciona pautas governamentais em andamento, como a reforma tributária, juntamente com sinais de melhoria na inflação americana e a possibilidade de cortes nas taxas de juros nos EUA no primeiro semestre. Todos esses fatores favorecem o fluxo de investimentos para países emergentes, especialmente o Brasil.

Por outro lado, os investidores institucionais brasileiros optam por se retirar da Bolsa devido às taxas ainda elevadas. Os movimentos nos fundos de renda fixa corroboram essa tendência, totalizando R$ 31,2 bilhões até 4 de janeiro. Em contraste, os fundos multimercados e de ações acumularam retiradas de R$ 2,3 bilhões e R$ 2,2 bilhões, respectivamente, no mesmo período.

Os primeiros pregões de 2024 foram marcados por significativa oscilação, resultando em uma queda acumulada de 2,49% no Ibovespa até 10 de janeiro.

Desdobramentos em 2023 e perspectivas para 2024

Em 2023, o fluxo estrangeiro totalizou uma entrada robusta de R$ 44,85 bilhões, conforme dados da Quantezed. Entretanto, esse valor foi consideravelmente inferior ao registrado em 2022, que atingiu R$ 100,8 bilhões. A principal influência foi a alta das taxas de juros nos Estados Unidos, passando de 4,33% ao ano no início de 2023 para 5,33% ao final do ano.

A expectativa agora é de uma reversão dessa tendência, com o mercado aguardando cortes nas taxas pelo Federal Reserve (FED) a partir de maio. Diante dessa perspectiva, o capital estrangeiro busca mercados com taxas mais atrativas, como é o caso do Brasil.

Além disso, os investidores estrangeiros veem oportunidade na Bolsa brasileira devido à atratividade dos preços das ações e a expectativa de crescimento ao longo de 2024. Especialistas do mercado prognosticam que o Ibovespa, atualmente em torno de 130 mil pontos, pode superar os 150 mil pontos ao longo do ano.