A proporção de trabalhadores em home office voltou a cair em 2024, marcando o segundo ano consecutivo de retração dessa modalidade. Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (19), no Rio de Janeiro, mostram que 7,9% dos profissionais exerciam suas funções no domicílio no ano passado, um movimento que revela mudança no padrão de organização laboral após o auge da pandemia.

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A nova edição especial da Pnad Contínua, apresentada pelo IBGE, mostra que cerca de 6,6 milhões de trabalhadores atuaram em casa em 2024, número inferior ao registrado em 2022, quando mais de 6,7 milhões estavam em home office. Em 2023, o estudo já havia sinalizado uma desaceleração, com 6,61 milhões nessa condição.

A pesquisa cobre o universo de 82,9 milhões de ocupados, excluindo trabalhadores do setor público e empregados domésticos, seguindo o critério metodológico do instituto. A série foi construída com dados anuais desde 2012, com exceção de 2020 e 2021, anos em que a pandemia interrompeu a coleta presencial.

Esse movimento de queda, segundo os analistas, é explicado principalmente pela reconfiguração das políticas corporativas, que passaram a defender maior presença física nos escritórios após o período de flexibilização forçada pelo isolamento social.

Evolução histórica do home office e impacto da pandemia

A trajetória do home office no Brasil revela uma mudança estrutural significativa no período pós-pandemia. Em 2012, apenas 3,6% dos trabalhadores realizavam suas atividades em casa. Esse percentual subiu gradualmente ao longo da década e atingiu 5,8% em 2019, pouco antes da crise sanitária global.

Com o avanço da covid-19, a tendência se fortaleceu de maneira inédita, alcançando seu pico em 2022, quando 8,4% dos ocupados trabalhavam no domicílio. A partir dali, a curva se inverteu, mas ainda permanece acima dos níveis pré-pandemia, reforçando a consolidação do modelo híbrido e a influência das tecnologias digitais no ambiente profissional.

O analista do IBGE William Kratochwill destaca que o conceito de trabalho “no domicílio de residência” também inclui pessoas que utilizam coworkings, o que ajuda a explicar a permanência de um percentual elevado mesmo com a redução recente.

Redução do home office gera tensões em empresas

A diminuição do home office tem provocado reações entre trabalhadores de grandes empresas. No início do mês, o Nubank anunciou uma mudança gradual em sua política de trabalho remoto, o que gerou insatisfação e culminou na demissão de 12 funcionários, segundo o Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região.

Em março, empregados da Petrobras realizaram uma paralisação para protestar contra alterações em regras internas, incluindo a diminuição do teletrabalho. Para sindicatos, essas medidas ignoram ganhos de produtividade obtidos durante o período remoto e desconsideram a preferência de parte dos funcionários.

Distribuição dos trabalhadores por local de atuação

A pesquisa também detalha onde os brasileiros trabalham. Em 2024, a maior parcela estava em estabelecimentos próprios (59,4%), seguida por locais designados por empregadores (14,2%) e atividades em áreas rurais, como fazendas e sítios (8,6%). O home office aparece em quarto lugar, com 7,9%, à frente dos trabalhos realizados em veículos automotores (4,9%), vias públicas (2,2%) e outros locais.

Um ponto crescente é justamente a atuação em veículos automotores. Essa categoria passou de 3,7% dos trabalhadores em 2012 para 4,9% em 2024, puxada pela expansão dos aplicativos de transporte de passageiros e pela disseminação de food trucks. Apesar disso, apenas 5,4% dessa força de trabalho é composta por mulheres.

O que explica a nova fase do home office

A queda do home office em 2023 e 2024 tem múltiplas motivações. Entre elas:

  • Reforço do modelo presencial em empresas de tecnologia e finanças
  • Busca por integração de equipes e fortalecimento da cultura organizacional
  • Percepção de queda na produtividade em alguns setores
  • Retomada plena das atividades econômicas após a pandemia

Apesar da redução, especialistas afirmam que as transformações provocadas pelo período pandêmico permanecem, garantindo que o trabalho remoto siga como uma opção relevante no mercado de trabalho brasileiro.

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