A Hidrovias do Brasil (HBSA3) enfrentou um ano turbulento em 2024, com uma desvalorização de 35% em suas ações até a véspera da divulgação dos resultados financeiros do quarto trimestre (4T24). No entanto, uma recuperação de 13% foi observada nas ações da empresa, já no início de 2025, o que levanta questões sobre se a “tempestade perfeita” que afetou os papéis da companhia finalmente passou. A análise dos especialistas, como a XP Investimentos e Itaú BBA, indica que a recuperação é possível, embora as dificuldades do ano anterior ainda façam parte do cenário.

Pressão no desempenho e aumento de capital

O ano de 2024 foi marcado por uma série de desafios para a Hidrovias do Brasil. De acordo com o relatório da XP Investimentos, dois fatores principais contribuíram para a queda de 35% nas ações da companhia: o desempenho financeiro abaixo do esperado no 4T24 e o anúncio de um aumento de capital previsto para o primeiro trimestre de 2025. Esses eventos, somados à incerteza gerada pela diluição de ações, afetaram diretamente a confiança dos investidores.

Em relação aos resultados financeiros, a empresa registrou um Ebitda negativo de R$ 2 milhões, impactado pelas restrições de calado, que prejudicaram suas operações tanto no Norte quanto no Sul do país. A receita operacional líquida da Hidrovias do Brasil caiu 23%, totalizando R$ 265 milhões. Os analistas do Itaú BBA destacaram que o desempenho do 4T24 foi um dos piores para a companhia, que enfrentou uma queda significativa no volume de transporte de minério de ferro e grãos, principais commodities que impactam sua operação.

Impacto dos corredores de navegação e dificuldades operacionais

Os principais corredores de navegação da Hidrovias do Brasil também sofreram quedas substanciais. No Corredor Sul, os volumes de transporte caíram 64% no minério de ferro e 51% nas exportações de grãos, o que resultou em uma redução de 53% na receita, que ficou em R$ 80 milhões. Já no Corredor Norte, a empresa experimentou uma queda de 43% no volume total transportado, embora o transporte de fertilizantes tenha crescido 94%, o que ajudou a compensar parte das perdas, com a receita subindo 6%, para R$ 81 milhões.

No entanto, o segmento de navegação costeira da Hidrovias teve um desempenho relativamente melhor. A receita do transporte de bauxita cresceu 8%, somando R$ 64 milhões, mesmo com a queda de 13% no volume transportado. Esse segmento demonstrou a capacidade da empresa de ajustar seus preços e se beneficiar de tarifas mais altas para manter sua receita.

Aumento de alavancagem e medidas de reforço financeiro

Outro fator que gerou apreensão nos investidores foi a alavancagem da empresa, que subiu para 6,6 vezes a geração de caixa. A pressão sobre o Ebitda, combinada com a desvalorização do real e a dívida atrelada ao dólar, contribuiu para o aumento dessa relação. No final de 2024, a dívida líquida da companhia atingiu R$ 3,75 bilhões, um aumento de 17% em relação ao ano anterior.

Para reforçar sua posição financeira, a Hidrovias obteve um adiantamento de R$ 500 milhões da Ultrapar Logística e emitiu R$ 400 milhões em debêntures. Esses recursos foram usados para quitar os vencimentos da dívida em janeiro de 2025, alongando os prazos de pagamento e diminuindo a pressão sobre a empresa.

Expectativa de Recuperação em 2025

A XP Investimentos enxerga um cenário mais positivo para a Hidrovias do Brasil em 2025, com a expectativa de melhora nas condições de navegação e a recuperação da safra de Mato Grosso, uma das principais regiões produtoras de grãos do país. A empresa já garantiu contratos com reajustes de até 12% no preço do frete para este ano, o que deve contribuir para a recuperação da receita.

A perspectiva de recuperação também é sustentada pela melhora nos volumes de transporte e pelas tarifas mais altas. A empresa aposta em um cenário mais favorável para a navegação nos principais corredores do país, o que pode gerar uma recuperação gradual nos resultados.

Recomendação de compra e potencial de valorização

A visão sobre a Hidrovias do Brasil para 2025, com base nas projeções da XP Investimentos, se tornou mais positiva. A empresa tem um potencial de valorização de 70%, com uma taxa interna de retorno real de 18,7%. A XP ainda acredita que o aumento de capital, apesar da diluição, será positivo a longo prazo, ajudando a reduzir a alavancagem e permitindo à empresa lidar melhor com os desafios financeiros.

Além disso, o Itaú BBA manteve a recomendação de compra para as ações da empresa, com um preço-alvo de R$ 5,20 ao final de 2024. O banco acredita que a recuperação será gradual, mas que a empresa tem potencial para se recuperar ao longo do ano.