A Receita Federal e o Ministério Público de São Paulo deflagraram nesta quinta-feira (25) a Operação Spare, destinada a combater um esquema ilegal do PCC com motéis e postos de combustíveis que movimentou cerca de R$ 1 bilhão nos últimos quatro anos. A investigação revelou que integrantes da facção criminosa utilizavam empresas de fachada, motéis e postos de combustíveis para lavar dinheiro e aumentar seu patrimônio de forma ilícita.

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Operação Spare: o que aconteceu e onde

A Operação Spare cumpriu 25 mandados de busca e apreensão em seis cidades do estado de São Paulo: 19 na capital, 2 em Santo André e 1 em Barueri, Bertioga, Campos do Jordão e Osasco. Ao todo, 64 servidores da Receita Federal, 28 do Ministério Público, representantes da Sefaz-SP e cerca de 100 policiais militares participaram da ação.

O nome da operação faz referência ao boliche, onde um “spare” ocorre quando todos os pinos são derrubados em dois arremessos, simbolizando a precisão e o alcance da investigação. O foco principal foi identificar como os recursos ilícitos eram integrados à economia formal por meio de motéis, postos de combustíveis e empresas de fachada.

Motéis e postos de combustíveis: a engrenagem financeira do PCC

Segundo a investigação, cerca de 60 motéis, todos registrados em nomes de laranjas, movimentaram aproximadamente R$ 450 milhões entre 2020 e 2024. Restaurantes localizados nesses motéis também integravam o esquema, distribuindo lucros que não correspondiam à receita declarada. Um deles, por exemplo, registrou receita de R$ 6,8 milhões entre 2022 e 2023 e distribuiu R$ 1,7 milhão em lucros.

Além disso, o grupo operava postos de combustíveis adulterados, com destaque para o empresário Flávio Silvério, conhecido como Flavinho, apontado como principal beneficiário e líder do esquema. Pessoas associadas a ele também foram identificadas como responsáveis por laranjas e movimentações suspeitas de recursos financeiros.

Entre 2020 e 2024, todas as empresas relacionadas à organização movimentaram cerca de R$ 1 bilhão, mas emitiram apenas R$ 550 milhões em notas fiscais, recolhendo somente R$ 25 milhões em tributos federais — o equivalente a 2,5% da movimentação total. O Ministério Público estima que os lucros e dividendos distribuídos aos sócios chegaram a R$ 88 milhões, permitindo a aquisição de bens de alto valor, como iate, helicóptero Augusta A109E, Lamborghini Urus e terrenos de motéis avaliados em mais de R$ 20 milhões.

Quem são os alvos da operação

A Operação Spare identificou 25 pessoas diretamente ligadas ao esquema. Entre os principais investigados estão:

  • Flávio Silvério (Flavinho): líder do esquema, dono de empresas de fachada e postos de combustíveis adulterados.
  • Sharon Nogueira: esposa de Flávio, sócia em empresas do grupo e ré em ação anterior.
  • Eduardo Silvério e João Martinho do Carmo Crespim: laranjas utilizados para movimentações financeiras.
  • Contadores Gilberto Lauriano Júnior e João Muniz Leite: responsáveis por declarações de imposto de renda e contabilidade do grupo.
  • Empresa de investimentos ligada ao esquema: liderada por Mário Luiz Gabriel Gardin e administrada por Caio Henrique Galvani, usada como “buraco negro” para lavar dinheiro do crime organizado.

Outros alvos atuavam como laranjas em empresas patrimoniais e postos de combustíveis, ou tinham funções de confiança na administração de empresas usadas para ocultar os verdadeiros donos.

Como o esquema operava

De acordo com a Receita Federal, os investigados utilizavam empresas formais em diferentes setores para justificar movimentações financeiras que não correspondiam à receita real. A aquisição de bens de alto valor, como helicópteros e imóveis, demonstrava claramente que os recursos tinham origem ilícita.

O esquema também incluía transações comerciais e imobiliárias entre os investigados, compartilhamento de helicópteros e até reservas conjuntas de passagens internacionais, mostrando uma estrutura organizada e sofisticada de lavagem de dinheiro.

Além disso, a Operação Spare é um desdobramento da Operação Carbono Oculto, que investigou o PCC em fintechs da Faria Lima. A Receita Federal também intensificou ações contra fraudes na importação de petróleo e derivados por empresas que não comprovavam a origem dos recursos, reforçando a vigilância sobre o setor.

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