Os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos em setembro mostraram um desempenho robusto, permitindo que o Federal Reserve (Fed) considere um ritmo mais moderado nos cortes de juros. Com a criação de 254 mil novas vagas de emprego fora do setor agrícola e uma queda na taxa de desemprego para 4,1%, as expectativas de desaceleração econômica diminuíram. Economistas agora projetam cortes de 0,25 pontos percentuais nas reuniões de novembro e dezembro.

Na divulgação dos dados do payroll nesta sexta-feira (4), o Departamento do Trabalho revelou que os EUA criaram 254 mil novas vagas de trabalho, superando as estimativas que variavam entre 140 mil e 150 mil. Além disso, a taxa de desemprego caiu para 4,1%, contrariando as expectativas de que permanecesse estável em 4,2%. Esse resultado positivo alivia as preocupações sobre uma desaceleração acentuada no mercado de trabalho e na atividade econômica.

Francisco Nobre, economista da XP, destacou a relevância desses dados, especialmente considerando que o Fed tem concentrado suas atenções mais no mandato de emprego do que na meta de inflação. Para ele, os números indicam que os próximos cortes de juros serão realizados de maneira mais cautelosa do que os 0,50 ponto percentual anunciados na última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC).

O consenso entre economistas sugere que o Fed fará cortes de 0,25 p.p. em suas reuniões de novembro e dezembro. Essa expectativa é refletida na ferramenta FedWatch, do CME Group, onde a probabilidade de um corte em novembro aumentou de 67,9% para 92,5% em apenas um dia. A análise de Nobre aponta que, embora o mercado de trabalho pareça estar aquecido, os fundamentos econômicos não indicam vulnerabilidades significativas. Ele afirma que uma mudança drástica nessa perspectiva só ocorreria se a taxa de desemprego subisse para 4,4% até a reunião de novembro.

André Valério, economista sênior do Inter, concorda que o Fed está atento ao mercado de trabalho, que chegou a 4,3%, próximo ao gatilho da “Regra de Sahm”, que antecipa recessões. No entanto, ele observa que essa regra nunca foi acionada com pedidos de seguro-desemprego tão baixos. Os dados recentes indicam que 225 mil novos pedidos de seguro-desemprego foram feitos, um nível historicamente consistente com uma economia saudável.

Por outro lado, Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, aponta que os números do relatório de emprego afastam a hipótese de um enfraquecimento relevante no mercado de trabalho. Ele destaca que os contratos de juros agora refletem uma confiança na posição de Jerome Powell, presidente do Fed, de que haverá mais dois cortes de 0,25 p.p. até o final do ano.

Os dados do payroll também foram bem recebidos pelo Morgan Stanley, que observou que, apesar da retração contínua no setor de manufatura, os serviços mostraram uma recuperação significativa. O banco de investimento prevê cortes de 25 pontos base nas reuniões do FOMC em novembro e dezembro, reiterando que a linha de base de Powell assume a continuidade do crescimento econômico.

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, ressaltou que o mercado de trabalho, que estava esfriando nos meses anteriores, agora demonstra sinais de recuperação. As vagas em aberto aumentaram de 7,7 milhões para 8 milhões, superando as expectativas. Apesar do cenário de corte de juros, Claudia alerta que um aumento na taxa de desemprego em outubro poderia reverter essa tendência.