Na manhã desta segunda-feira (23), o dólar comercial apresentou uma alta significativa de mais de 1% em relação ao real, cotado a R$ 6,151 na compra e R$ 6,152 na venda, às 9h57. Esse movimento de valorização da moeda norte-americana segue a tendência observada no mercado internacional, onde o dólar e os rendimentos dos Treasuries continuam a ser impulsionados por um cenário de incertezas econômicas globais e decisões dos bancos centrais.

O que está por trás da alta do dólar?

O avanço do dólar nesta segunda-feira reflete as perspectivas globais, especialmente após a recente reunião do Federal Reserve, que surpreendeu os investidores ao sinalizar uma política monetária mais moderada, com a possibilidade de cortes nas taxas de juros em um ritmo mais lento. Esse cenário trouxe impacto sobre o mercado de câmbio, com a valorização do dólar e dos títulos do governo dos EUA. A alta dos rendimentos dos Treasuries, que subiram junto com o dólar, acabou refletindo nas negociações de câmbio no Brasil e outros mercados emergentes.

Dólar no mercado brasileiro: o que esperar para o fim de 2024?

No Brasil, o mercado continua a acompanhar atentamente o comportamento da moeda estrangeira, com projeções de que o dólar possa fechar o ano a R$ 6,00, mas com o cenário econômico local ainda gerando incertezas. A agenda do governo federal segue com foco na aprovação de medidas para conter os gastos públicos, o que contribui para um clima de cautela entre os investidores. No entanto, o Congresso Nacional entrou em recesso até fevereiro de 2024, o que reduz a volatilidade das negociações em um período de menor liquidez no mercado.

A pesquisa Focus, divulgada nesta manhã, mostrou que as expectativas de inflação para 2024 aumentaram, passando de 4,89% para 4,91%, enquanto as projeções para 2025 subiram de 4,60% para 4,84%. Esses números ficam bem acima da meta contínua de inflação de 3% do Banco Central, o que reforça as incertezas sobre a política fiscal do governo e o controle da inflação no curto prazo.

Impacto das decisões do BC e projeções de câmbio

O Banco Central brasileiro também tem desempenhado um papel crucial no comportamento do câmbio, realizando leilões de swap cambial tradicional para fazer a rolagem de vencimentos de contratos. Nesta segunda-feira, a autarquia anunciou um leilão de até 15.000 contratos para rolar o vencimento de 3 de fevereiro de 2025. No entanto, diferente de outras sessões, o Banco Central não anunciou nenhuma operação extra, o que pode ser interpretado como uma tentativa de reduzir a intervenção direta no mercado e deixar que as forças do mercado determine a taxa de câmbio em um momento de menor liquidez.

Déficit em conta corrente e investimentos no Brasil

Outro fator relevante que afeta o câmbio é o desempenho da economia brasileira no que diz respeito ao fluxo de capitais. De acordo com as Estatísticas do Setor Externo divulgadas pelo Banco Central, o Brasil registrou um déficit de US$ 3,060 bilhões na conta corrente do balanço de pagamentos em novembro de 2024. Embora o valor tenha ficado abaixo da expectativa do mercado, que era de um déficit de US$ 3,344 bilhões, o resultado foi mais do que compensado pelo saldo positivo de investimentos diretos no Brasil (IDP), que totalizaram US$ 6,956 bilhões no mesmo período.

Esse dado, embora positivo, também reflete as dificuldades que o Brasil enfrenta no cenário externo, com as contas externas ainda pressionadas pela volatilidade do mercado global e as incertezas sobre a política fiscal interna. A valorização do dólar também influencia os fluxos de capital, pois torna o investimento no Brasil mais atrativo para os investidores estrangeiros, mas, ao mesmo tempo, pode aumentar o custo da dívida externa.

Perspectivas de curto prazo para o dólar e economia brasileira

Embora as expectativas de inflação para 2024 e 2025 sejam mais altas do que o esperado, o Brasil ainda enfrenta um cenário de baixa confiança fiscal entre os investidores. Isso reflete diretamente na projeção do dólar, que deve continuar a ser um ponto de atenção para o governo e os investidores no próximo ano. As tensões fiscais e as incertezas políticas, combinadas com a volatilidade global, são elementos que devem manter a moeda norte-americana pressionada no curto prazo.

Enquanto o cenário fiscal segue sendo um desafio, o governo brasileiro terá que navegar com cautela para manter a estabilidade da moeda e a confiança dos investidores. Isso inclui medidas que ajudem a controlar a inflação e evitar um aumento no custo da dívida pública, principalmente em um contexto de juros elevados e dificuldades econômicas globais.