Dólar cai após anúncio de tarifas de Trump e mercado teme recessão nos EUA
O dólar registrou queda de 1,18% frente ao real nesta quinta-feira (3), após o anúncio de novas tarifas comerciais pelos Estados Unidos. A decisão gerou temores de recessão na maior economia do mundo, levando investidores a buscar ativos mais seguros, como ouro e iene japonês.
Dólar cai após anúncio de tarifas de Trump e mercado teme recessão nos EUA
A moeda norte-americana registrou queda na última quinta-feira (3), refletindo a reação dos investidores ao anúncio de novas tarifas comerciais pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A política tarifária proposta gerou preocupações sobre os impactos econômicos globais, levando a uma desvalorização do dólar frente a diversas moedas.
No Brasil, o dólar encerrou as negociações com uma baixa de 1,18%, cotado a R$ 5,6290. No cenário global, o índice DXY, que mede a força do dólar frente a uma cesta de moedas internacionais, também recuou 1,63%, atingindo 102,11 pontos.
Dólar cai com temor de recessão e busca por ativos seguros
A queda do dólar está diretamente relacionada ao temor crescente de uma recessão nos Estados Unidos. A introdução de novas tarifas pode impactar negativamente o comércio internacional e desacelerar a maior economia do mundo. Diante desse cenário de incerteza, investidores estão migrando para ativos considerados mais seguros, como o ouro e o iene japonês.
Jefferson Rugik, diretor da Correpatti Corretora, explica que a possibilidade de uma retração econômica leva o mercado a buscar alternativas ao dólar. “O receio de uma desaceleração econômica nos EUA faz com que investidores busquem segurança em outras moedas e ativos, reduzindo a demanda pelo dólar”, afirma o especialista.
No mercado internacional, a tendência de enfraquecimento do dólar também é visível. Moedas como o euro e a libra esterlina se valorizaram diante da divisa americana, refletindo a reavaliação das expectativas econômicas globais.
Impacto para o Brasil e fortalecimento do real
A desvalorização do dólar pode trazer consequências mistas para o Brasil. Por um lado, um real mais forte pode reduzir a competitividade das exportações brasileiras, tornando os produtos nacionais mais caros no exterior. Por outro, o fluxo de capital pode beneficiar o país, caso os investidores busquem alternativas de mercados emergentes menos expostos a medidas tarifárias severas.
Julio Netto, economista-chefe da Mirae Asset, avalia que a mudança na dinâmica do comércio global pode favorecer o Brasil. “As exportações podem ser impactadas negativamente em um primeiro momento, mas a possível guerra comercial entre EUA e outros países pode redirecionar fluxos comerciais, beneficiando o Brasil”, explica Netto.
Historicamente, o Brasil já se beneficiou de disputas comerciais entre grandes economias. Durante a guerra comercial entre EUA e China, entre 2018 e 2020, houve um aumento na demanda chinesa por commodities brasileiras, especialmente soja e carne. O mesmo movimento pode se repetir, dependendo da evolução das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Tarifas dos EUA e o impacto sobre a economia brasileira
Donald Trump anunciou que países exportadores para os EUA serão taxados em diferentes níveis, sendo o Brasil incluído na alíquota mínima de 10%. Embora a tarifa represente um aumento em relação às taxas atuais, o impacto pode ser menor do que o sofrido por outros parceiros comerciais dos EUA.
Com isso, o Brasil pode se tornar uma opção mais atrativa para importadores que buscam diversificar fornecedores e evitar altas tarifas impostas por Washington. A XP Investimentos destaca em relatório que o país pode ser considerado um destino estratégico para investimentos e exportações, caso a disputa tarifária entre os EUA e outras nações se intensifique.
“As tarifas impostas ao Brasil foram menos severas em comparação a outros países. Isso pode ajudar o país a manter sua atratividade comercial e até mesmo se beneficiar da rotação de fluxos de capital saindo dos EUA”, aponta a análise da XP.
Incertezas sobre o futuro do câmbio e do mercado global
Apesar da atual desvalorização do dólar, especialistas alertam que o cenário ainda é incerto. Se o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, mantiver os juros elevados por um período prolongado sem causar um impacto severo na economia americana, o fluxo de investimentos pode voltar a favorecer o dólar, levando a uma nova valorização da moeda.
“O momento é de cautela. No curto prazo, o receio de recessão pressiona o dólar para baixo. Porém, se o mercado enxergar que os juros altos nos EUA não prejudicarão tanto o crescimento econômico, pode haver uma recuperação da moeda americana”, analisa Netto.