As ações da Americanas (AMER3) registraram um impressionante aumento de 30% após a divulgação de seu resultado financeiro do terceiro trimestre de 2024 (3T24). A varejista, que atravessa um processo de recuperação judicial, surpreendeu o mercado ao anunciar um lucro líquido de R$ 10,3 bilhões, revertendo um prejuízo significativo no mesmo período do ano anterior. O que motivou essa recuperação e como a companhia está conseguindo superar desafios operacionais e financeiros?

Lucro de R$ 10,3 bilhões: o impulso para o crescimento das ações

No dia 14 de novembro de 2024, a Americanas (AMER3) apresentou números financeiros positivos para o terceiro trimestre do ano, com um lucro líquido de R$ 10,3 bilhões, superando o prejuízo de R$ 1,63 bilhão registrado no mesmo período de 2023. Esse resultado inesperado foi impulsionado por fatores como o reconhecimento de “haircuts” nas dívidas da empresa e a reversão de juros e atualizações monetárias relacionadas à quitação de dívidas com credores financeiros. Esse movimento levou as ações da companhia a saltarem cerca de 30%, atingindo o valor de R$ 4,38 às 10h26 (horário de Brasília).

A reação do mercado foi imediata, refletindo otimismo em relação à recuperação financeira da empresa, que vinha enfrentando sérias dificuldades após ser gravemente impactada por um esquema de fraude contábil em 2023. O resultado bilionário foi um reflexo direto do esforço da Americanas em ajustar suas finanças e avançar no seu plano de recuperação judicial.

E-commerce e varejo físico: desempenho divergente, mas positivo no geral

Desempenho do e-commerce: O canal online da Americanas ainda sofre com desafios, com a empresa registrando uma queda de 49% no volume bruto de mercadorias (GMV) do e-commerce. Isso é reflexo das dificuldades do setor de varejo online, que está sendo pressionado pela redução no consumo e pela forte competição no mercado digital. Apesar disso, a companhia continua a investir em tecnologias e estratégias que buscam melhorar a rentabilidade do seu e-commerce, especialmente em termos de precificação.

Varejo Físico: Recuperação Acelerada: O que realmente chamou a atenção foi o desempenho do varejo físico da Americanas. A companhia viu um aumento de 14% nas vendas de suas lojas físicas, um dos principais motores para o crescimento nas vendas totais da empresa. Três fatores principais explicam esse resultado positivo: (i) a implementação de uma estratégia de precificação regionalizada, que adaptou os preços às características locais, (ii) negociações comerciais mais inteligentes para melhorar as condições de fornecimento e aumentar o sortimento de categorias mais rentáveis (como papelaria, brinquedos e vestuário), e (iii) a renovação do conceito das lojas, com o fechamento de 21 unidades e a otimização do parque de lojas restantes. Essas ações trouxeram melhores resultados por metro quadrado e aumentaram a eficiência do modelo de vendas.

Rentabilidade e melhorias operacionais: aumento da margem bruta

Outro destaque no resultado da Americanas foi a melhoria na rentabilidade da empresa. A margem bruta aumentou em 2,6 pontos percentuais, impulsionada pela redução de custos e pela evolução do mix de produtos. A gestão de estoques também se mostrou mais eficiente, o que ajudou a otimizar os custos operacionais e a aumentar a competitividade no mercado. A empresa já começa a colher frutos das mudanças implementadas desde o início do processo de recuperação judicial, que inclui a reestruturação de seu modelo operacional e de gestão financeira.

Além disso, a Americanas passou a contar com uma posição de caixa líquido de R$ 482 milhões no final do trimestre, após ter reduzido sua dívida bruta de R$ 45 bilhões, registrada em junho de 2024, para R$ 2 bilhões, devido ao reperfilamento das dívidas com os credores financeiros. Esse movimento foi acompanhado por um aumento de capital de R$ 24,5 bilhões, que resultou na reversão do patrimônio líquido da empresa de uma posição negativa de R$ 30 bilhões no segundo trimestre de 2024 para um saldo positivo de R$ 6 bilhões no final do 3T24.

A Americanas sabe que, embora tenha dado passos importantes para sua recuperação, ainda há muito a ser feito para garantir a sustentabilidade de seus resultados financeiros e operacionais a longo prazo. Entre suas principais prioridades para os próximos trimestres estão:

  1. Melhoria das Vendas por Metro Quadrado (vendas/m²): A empresa continuará a otimizar o desempenho de suas lojas físicas, buscando maximizar as vendas de cada metro quadrado de espaço.
  2. Estratégias de Precificação e Logística: A Americanas seguirá ajustando sua estratégia de preços e aprimorando suas operações logísticas para atender melhor os consumidores e aumentar a eficiência.
  3. Modulação das Lojas: A empresa investirá em novos modelos de loja, com foco em melhorar a experiência do cliente e otimizar o layout das lojas para aumentar a produtividade.
  4. Controle de Estoques: A Americanas continuará a adotar modelos mais assertivos para o controle de estoque, buscando garantir uma gestão eficiente dos SKUs operados.

Perspectivas da XP

Apesar do resultado positivo, a XP mantém uma visão cautelosa em relação ao futuro da Americanas. A corretora reconhece que a estratégia de precificação da companhia é mais racional e competitiva no mercado, mas observa que o setor de varejo continua a enfrentar desafios. A demanda ainda está sendo pressionada por um cenário macroeconômico desafiador, e a competição no e-commerce segue intensa.

A XP também ressalta que a cobertura sobre as ações AMER3 permanece em revisão, uma vez que o setor de varejo, especialmente o online, continua vulnerável a fatores externos, como a alta de custos e a desaceleração do consumo. Embora o desempenho do varejo físico seja animador, a empresa terá que continuar trabalhando para equilibrar sua operação online e garantir a sustentabilidade dos ganhos.